Professor da USP explica que “OK” de Filipe Martins é uma forma de se comunicar com a extrema-direita
por Luciana Tortorello em 25/03/21 17:51
O gesto do assessor especial da presidência da República Filipe Martins não é um episódio banal. Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Felipe Loureiro, o acontecimento é um “episódio muito triste na história do Itamaraty”.
Loureiro afirma que o gesto foi um “apito de cachorro”, termo cunhado nos Estados Unidos e usado para designar ações que só são entendidas por seguidores de determinado movimento. Quem não conhece a simbologia ou a linguagem da mensagem, pode não perceber o real significado.
De acordo com a Liga Antidifamação, organização dos Estados Unidos que monitora e estuda o extremismo, o gesto de OK é associado a grupos de extrema-direita desde 2017. A gesticulação tem usos no yoga e pode ser usada como um equivalente de um “ok”, mas também é usada por grupos racistas.
Loureiro lembra que o gesto foi utilizado por Breton Tarrant em audiência judicial. Tarrant matou 51 muçulmanos ao atacar duas mesquitas na Nova Zelândia, em 2019. O assassino, que transmitiu seus homicídios ao vivo no Facebook, publicou um manifesto nas redes sociais em que fala de um suposto “genocídio branco” e ataca imigrantes.
Diante da repercussão do episódio, Martins alegou que estava apenas arrumando seu paletó e que não poderia ser “simpático ao supremacismo branco” porque é judeu.
“Em um contexto que é evidentemente crime você fazer qualquer manifestação racial explícita, você cria todo um conjunto de símbolos e gestos que permitem um tipo de negação plausível. Que foi exatamente o que o assessor Felipe Martins fez”, diz Loureiro.
Este não é a primeira vez que Martins utiliza símbolos ligados à extrema-direita. O assessor de Bolsonaro ilustra seu Twitter com uma frase citada no manifesto de Tarrant e também já usou uma frase ligada ao ditador espanhol Francisco Franco para cumprimentar o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) nas redes sociais.
Para o professor da USP, Martins e o ministro das Relações Internacionais, Ernesto Araújo, prejudicam a população brasileira em um momento que um bom relacionamento com a comunidade internacional é chave para conseguir vacinas.
“[Araújo] chegou a manifestar, em 2020, que o vírus seria uma forma de tolher a liberdade humana e de instaurar a uma sociedade totalitária nos diversos países, inclusive ele escreveu um texto no ano passado chamando a covid-19 de “comunavírus”, que as medidas de isolamento social e o uso de máscaras ,entre outras coisas, seriam uma espécie de antessala para o início de uma de uma sociedade totalitária em vários países. Recentemente, inclusive na comissão de direitos humanos da ONU, ele repetiu o mesmo discurso, dizendo que não se pode fazer um lockdown do espírito humano, então é muito mais do que inação ou negligência”, diz o analista ao Almoço do MyNews.
O presidente do Senado determinou a apuração do gesto de Martins pela Secretaria-Geral da Mesa (SGM) e a Polícia Legislativa.
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