Arquivos Atilla Kuş - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/atilla-kus/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Thu, 07 Jul 2022 17:12:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 É proibido pedir esmola nos trens e nas estações https://canalmynews.com.br/voce-colunista/e-proibido-pedir-esmola-nos-trens-e-nas-estacoes/ Thu, 07 Jul 2022 17:12:10 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=31225 Se há um crescimento econômico, talvez realmente haja, por que isso não se reflete em nada para a população?

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Na semana passada assisti, eventualmente, a um vídeo em que Paulo Guedes, o ministro da economia, dizia que o Brasil estava à frente dos Estados Unidos na política monetária e que Joe Biden, presidente dos EUA, estava seguindo a trilha do presidente Jair Bolsonaro. Neste mesmo discurso ainda, Guedes afirmava uma previsão de crescimento de 1,7% no PIB do Brasil e dizia que o país está rumo a um crescimento. Como não sou economista, talvez eu esteja muito longe de bem saber os parâmetros do ministro para entender como se prevê este tal do crescimento. Porém, como venho acompanhando e analisando a população, digo que a realidade da maioria do povo é bem diferente do que diz o ministro.

O título que escolhi para esta reflexão é um anúncio que sempre ouço no metrô de São Paulo e há muito venho pensando quanto é válido este anúncio que se repete a cada 5 minutos tanto nos trens quanto nas estações de metrô, pois sempre vejo alguém pedir esmola ou fazer comércio ambulante apesar desta proibição. Mas não é somente isso. Quão válida é essa proibição em uma sociedade em que contamos com um número significante de desemprego e de insegurança alimentar. Só na cidade de São Paulo o número da população em situação de rua deve estar acima de 32 mil. O último censo da população em situação de rua feito pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura de São Paulo revelou que no final de 2021 havia 31.884 pessoas em situação de rua.

Estas pessoas, de alguma forma, conseguem acessar o metrô, o trem e o ônibus para pedir esmola ou vender produtos pequenos (como fone de ouvido etc.) para poder pelo menos ter uma refeição ou levar algo para que os filhos – também em situação de rua – possam comer. Eles têm acesso a estes meios de transporte como mero direito civil deles, mas lhes é negado o direito mais básico de viver dignamente pelo menos vendendo algum produto que facilite ao menos a compra de um lanche que será provavelmente a única refeição do dia.

Recentemente estive em um shopping com alguns amigos e vi que agora as pessoas pedem alguma ajuda financeira por lá também. Ou seja, o pedido de esmolas já não é mais limitado ao metrô e trem. Está acontecendo em vários lugares e está cada vez mais rotinizado no nosso dia a dia, em qualquer lugar da cidade, ver alguém em situação de vulnerabilidade sem o que comer.

Diante desta situação, pergunto-me onde é que cabe a fala supracitada do ministro. Se há um crescimento econômico, talvez realmente haja, por que isso não se reflete em nada para a população? As situações que citei são apenas casos que vejo na cidade de São Paulo. Deve haver vários outros piores em outras cidades brasileiras. Onde será que o dinheiro público está indo ao invés de ajudar o brasileiro a ter o que comer no seu dia a dia? Ou será que o crescimento previsto pelo ministro é limitado apenas à sua bolha ideológica?

Vendo um dos últimos exemplos de escândalo que ocorreram, parece que, sim, o governo atual sabe bem para onde direcionar a verba pública: as instituições, prefeituras e lugares bem definidos pelos aliados de Jair Bolsonaro onde eles conseguem “rachar” uma parte destas verbas ou recebem outros privilégios em troca disso, como supostamente bíblias ou barras de ouro com direito ao pressentimento caso haja operação da Polícia Federal.

Pois é, meus amigos e minhas amigas. É proibido pedir esmolas nos trens e nas estações, mas é totalmente permitido morrer de fome e de frio por não ter abrigo e condição para comprar um pão sequer.

 

*Atilla Kuş – Cientista da religião, mestre e doutorando em Ciência da Religião pela PUC-SP. Membro do Centro de Estudos das Religiões Alternativas e de Origem Oriental no Brasil-CERAL da PUC-SP. 

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Se a crueldade parte de nós, eu não sou um de nós https://canalmynews.com.br/voce-colunista/se-a-crueldade-parte-de-nos-eu-nao-sou-um-de-nos/ Thu, 30 Jun 2022 18:38:53 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=30990 Ser mulher não é nada fácil, apesar de tantos avanços que o ser humano tem feito. E digo isso como homem e tendo vergonha de ser do mesmo gênero que essas pessoas que violentam as mulheres em todos os sentidos.

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Em um artigo recentemente publicado na CartaCapital tentei trazer a minha indignação com o que aconteceu com Bruno e Dom. Aquilo foi apenas um caso que nós soubemos, pois há os que não conhecemos ainda. Pessoas desaparecem e morrem tragicamente por defenderem a vida, o meio ambiente e os oprimidos e na maioria dos casos isso não vem a tona na mídia a não ser que se trate de uma pessoa estrangeira – como foi no caso recente do desaparecimento de Bruno e Dom. Talvez tenhamos tido conhecimento deste caso porque Bruno Pereira desapareceu enquanto estava acompanhado de um jornalista estrangeiro, Dom Philips. E quanto aos casos que não sabemos e nunca saberemos? Pois é, eles sequer serão esquecidos porque nunca foram conhecidos.

Alguns leitores criticaram que eu reduzi a imagem da espécie humana apenas ao homem branco e ocidental. Porém, digo com toda a certeza que eu possa ter na vida, aquilo que eu falei acontece em todos os lugares do mundo onde há
oprimidos. Mesmo nos Estados Unidos que é um suposto paraíso de democracia, aqueles que foram voz dos oprimidos são silenciados. Um dos exemplos mais recentes é o de Enes Kanter, jogador de basquete que não pôde ser cotado em nenhum time da NBA por ter denunciado o genocídio que a China vem fazendo contra os uigures muçulmanos.

Enes Kanter crueldade

Enes Kanter denunciou o genocídio que a China vem fazendo contra os uigures muçulmanos. Foto: Roprodução Instagram

Não bastasse a tragédia que testemunhamos nestas últimas semanas, começamos a semana do dia 20 de junho com duas outras notícias de acontecimentos esdrúxulos. O primeiro é caso de uma criança catarinense de 11 anos que foi estuprada e ficou grávida. O hospital a que ela foi levada negou o seu direito de fazer aborto por se tratar de uma gestação de mais de 22 semanas, prazo máximo que a OMS recomenda para a interrupção de gravidez. Porém, a lei brasileira é muito clara no que diz respeito à interrupção da gravidez causada pelo estupro: não há um prazo máximo de semanas para fazer o aborto. A tragédia da criança começou ali no momento em que o seu direito lhe foi negado.

Mas o pior aconteceu quando a família recorreu à justiça para poder fazer esta interrupção. A juíza Joana Ribeiro Zimmer usou as suas convicções pessoais para impedir o aborto que poderia livrar uma criança do risco de saúde ou da morte, segundo os especialistas. Fiquei pensando como seria se fosse filha de uma pessoa de influência ou até a própria filha da magistrada? Será que o estuprador seria considerado pai da criança, como afirmava a juíza na audiência vazada, ou será que ele iria parar no pior presídio do Brasil para passar o resto da vida? É! A vida não é fácil para quem é pobre e mulher, infelizmente.

Outro caso foi do procurador que espancou a sua chefe em Registro-SP. À parte quem ele apoia politicamente, algo que não foi difícil de descobrir através das redes sociais dele. Mas é uma covardia sem tamanho o que ele fez se demonstrando, no linguajar popular, “valentão” contra uma mulher indefesa que era a chefe dele. Ele foi preso dois depois do ocorrido. Mas será que se fosse um homem do mesmo tamanho que ele na frente dele, será que ele conseguia sequer levantar a voz? Provavelmente não. Pelo contrário, estaria tremendo e de mãos atadas pelo erro que devia ter cometido para ser submetido a uma investigação disciplinar.

Acrescento, ser mulher não é nada fácil mesmo apesar de tantos propensos avanços que o ser humano tem feito. E digo isso como um homem mesmo e tendo vergonha de ser do mesmo gênero que essas pessoas que violentam as mulheres em todos os sentidos.

Sim, o ser humano não pode ser resumido ao homem ocidental. Mas a crueldade dos homens é mesma na China, no Afeganistão, na França e no Brasil. E se esta crueldade parte de nós, homens, eu não sou um de nós.

*Atilla Kuş – Cientista da religião, mestre e doutorando em Ciência da Religião pela PUC-SP. Membro do Centro de Estudos das Religiões Alternativas e de Origem Oriental no Brasil-CERAL da PUC-SP. 

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