Arquivos José Medeiros da Agência Pública - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/jose-medeiros-da-agencia-publica/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 05 Jul 2022 16:24:35 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Mais cinco já admitiram ocultação dos corpos de Bruno e Dom, diz PF https://canalmynews.com.br/brasil/mais-cinco-ja-admitiram-ocultacao-dos-corpos-de-bruno-e-dom/ Tue, 05 Jul 2022 16:24:35 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=31170 Delegado que coordena os trabalhos da Polícia Federal diz que “trabalha com hipótese” de mandante, mas que hoje não tem elementos para indiciar ou fazer buscas contra alguém.

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Mais cinco pessoas – além dos três pescadores e caçadores atualmente presos – já admitiram algum papel no processo de destruição de pertences ou na ocultação dos corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Os investigados, dos quais três são irmãos e um é filho do principal implicado no crime, Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, se apresentaram à delegacia de Atalaia do Norte (AM) nos últimos dias acompanhados de um mesmo advogado.

O delegado da PF (Polícia Federal) Domingos Sávio Pinzon Rodrigues, 44, que atua como coordenador dos trabalhos da PF na investigação que corre paralela ao inquérito instaurado pela Polícia Civil, disse que os cinco investigados eram da mesma pequena comunidade à beira do rio Itaquaí na qual viviam “Pelado” e vários de seus familiares. A localidade de São Gabriel, com cerca de 15 casas, fica a aproximadamente 15 minutos de barco pequeno do local dos assassinatos, ocorridos na manhã do dia 5 de junho. A polícia agora avalia a necessidade ou conveniência de solicitar algum tipo de prisão provisória dos novos investigados.

O papel exato de cada um dos cinco investigados ainda está sendo apurado pela polícia, inclusive a partir da reconstituição do crime, que na semana passada reuniu peritos, testemunhas e investigados no rio Itaquaí.

As versões apresentadas pelos investigados estão sendo recebidas com precaução pela PF, que teme ter ocorrido uma combinação de narrativas.

“Por exemplo, todos os que participaram da ocultação dos cadáveres dizem que não queimaram os cadáveres, que queimaram só os pertences pessoais. Ou seja, querem, na minha visão, diminuir sua participação, não querem confessar que participaram de um ato horrendo de queimar uma pessoa. Entretanto, há indícios de que os cadáveres foram efetivamente… Tentaram, pelo menos, carbonizá-los.”

O delegado ressalta que ainda aguarda o relatório pericial, mas “pelos testemunhos e pela análise do local, o que leva a crer é que tentaram queimar, mas não deu certo, é muito úmido ali, a queima de dois corpos não é simples, e no outro dia, quando foram conferir, viram que tinham que enterrar mesmo” para supostamente não deixar mais pistas.

Os corpos foram enterrados na mata perto da Lagoa da Preguiça, que fica em frente à casa de um dos três presos, que é outro irmão de “Pelado”, Oseney Oliveira, conhecido como “Dos Santos”. O terceiro preso até o momento é Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha”, que também admitiu ter atirado para matar Bruno e Dom.

Outro ponto que merecerá atenção da polícia nos depoimentos dos cinco investigados é quando e por quem eles foram acionados para dar cabo dos pertences e dos corpos.

“É meio contraditório, não faz muito sentido. Eles falam assim que [‘Pelado’ e Lima] saíram de manhã — eles querem dar a entender que foi uma coisa de momento – e que depois de um tempo voltaram e falaram ‘pô, a gente fez a merda’, ou seja, ‘mataram os caras’. Segundo eles, ambos ficaram lá [na comunidade] durante o dia e, quando foi à noite, o ‘Pelado’ saiu mais o Jeferson. Segundo a maioria dos depoimentos, eles saíram sem dizer para onde. E que, quando eles saíram, em seguida os irmãos lá se reuniram para ir [espontaneamente] até o local onde estavam os corpos, que é o local da mochila.”

Segundo o delegado, os investigados “querem dizer que não houve um acerto, que não houve um acordo entre eles para divisão de tarefas”. Eles falam “que a comunidade ficou preocupada e que, em razão disso, por vontade própria, eles, sem estarem organizados ou combinados com ‘Pelado’, foram lá para ajudar porque isso seria uma repercussão muito ruim para a comunidade”.

“Eles dizem que saem todos em canoas de remo, de madeira, não motorizadas, saem todos para um local para colocar os corpos nas canoinhas, as mochilas e pertences em outras. […] Na minha interpretação disso, houve uma orientação da defesa para falarem dessa forma, que não tocaram fogo nos corpos, que não houve uma coordenação ou divisão de tarefas, para que a investigação ou futuramente o Ministério Público não os inclua como partícipes no crime de homicídio.”

Sávio enalteceu os indígenas e a Univaja

Sávio, que está na PF desde 2003, concedeu entrevista exclusiva à Agência Pública na quinta-feira (29) em Atalaia do Norte. Nascido em Manaus (AM), Sávio estudou Direito em Brasília e entrou na PF por concurso público em 2003, primeiramente ocupando o cargo de escrivão. Três anos depois, tornou-se delegado e está lotado desde então na cidade de Manaus.

O delegado é atualmente o “número três” da Superintendência da PF em Manaus, no cargo de coordenador regional de combate ao crime organizado. Nessa função, ele foi acionado pela direção da PF em Brasília na noite do mesmo dia dos desaparecimentos de Bruno e Dom, no domingo, dia 5. Na manhã seguinte, ele, o superintendente da PF em Manaus, Eduardo Alexandre Fontes, e outros policiais criaram um plano de ação. Inicialmente a coordenação dos trabalhos de investigação ficou baseada em Manaus.

Na quarta-feira (8), porém, o superintendente decidiu deslocar Sávio para Atalaia a fim de coordenar no local, a princípio, os trabalhos das buscas. Depois que a investigação avançou com a confissão de dois presos, o grupo se converteu numa equipe de investigação paralela à Polícia Civil, na qual tramita o inquérito sobre os homicídios. A PF passou a ajudar na tomada dos depoimentos, prisões e buscas, a realizar perícias e a trabalhar na recuperação dos pertences e corpos.

O delegado enalteceu os indígenas e a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) na busca dos corpos e pertences. “A Univaja nos apoiou logisticamente e com a expertise deles em mato. Tanto é que foram eles que acharam a primeira mochila. A gente estava fechado com eles, ‘bom, encontrou vestígio, para tudo e marca o lugar e nos telefona’, eles têm telefone satelital, ‘ou a gente vem imediatamente ou, se for de noite, na manhã seguinte nós vamos’. E foi feito. Eles encontraram uma lona, pararam tudo e nos chamaram”, disse o delegado.

Peritos e policiais isolaram o local no dia seguinte. As buscas continuaram e, no final da tarde, foi recuperada também a mochila de Dom Phillips. Foi um “ponto-chave”, segundo o delegado, que “começou a abrir mais as coisas”.

“A partir daquele momento, o Amarildo, que já estava preso, começou a perceber que nós estávamos chegando perto. Ele não sabia exatamente onde a mochila estava. Eles tinham dividido as tarefas. O ‘Pelado’ foi com o Jeferson para afundar a canoa, e os parentes dele foram à noite para pegar os corpos e os pertences pessoais para levar próximo da cova, onde foram queimados os pertences pessoais.”

Logo depois “Pelado” iria confessar o crime e apontar o local exato onde os corpos estavam. “Ele me disse, ‘porra doutor, quando vocês acharam a mochila, aí me deu vontade de confessar porque eu não queria envolver minha família. Eu vi que vocês já sabiam de tudo, já tinham chegado’. Então quando ele falou isso, eu falei, bom, ele achava que já tínhamos chegado aos corpos, e chegando aos corpos, que estavam num lago que fica atrás da comunidade, a gente ia começar a prender outros familiares.”

Um dos irmãos, “Dos Santos”, foi preso. “Como ele [‘Pelado’] sabia que a família teve uma participação, que ainda vai ser elucidada a que ponto foi efetivamente essa participação, ao menos já tínhamos a certeza de que os familiares ajudaram a ocultar os corpos. Eles já são réus confessos no crime de ocultação de cadáver. Então, temeroso pelo envolvimento maior de sua família, ele, pelo que ele me falou informalmente, pelo que se depreende realmente da dinâmica, parece que foi a mochila o ponto que desencadeou a vontade dele de confessar o crime.”

Manobras para “confundir a investigação”

De acordo com o delegado, também já ficou claro que “Pelado” e seus parceiros no crime na ocultação fizeram manobras para “confundir a investigação”. Uma das artimanhas foi não afundar o barco de Bruno imediatamente após os assassinatos. “Pelado” ficou com o barco e continuou subindo o rio, como se nada tivesse acontecido, para um ponto mais distante da comunidade de São Gabriel. Ele queria que alguma testemunha dissesse depois à polícia que o barco fora visto passando pela comunidade de Cachoeira, e foi exatamente isso o que aconteceu. De longe, a testemunha viu apenas o barco branco de Bruno e daí deduziu que ele havia passado por lá na manhã do domingo e relatou isso à polícia. O barco de Bruno, porém, só foi afundado de noite por “Pelado” e Lima.

“No começo da investigação a Polícia Civil chegou a ir à Cachoeira e colheu um relato de uma pessoa dizendo que viu ‘Bruno’ passando com o barco. [O truque de ‘Pelado’] era para confundir a investigação”, disse o delegado. “Eles pensaram, tinha uma estratégia.”

Sávio – na mesma linha do que já disse à Agência Pública o delegado da Polícia Civil que preside o inquérito, Alex Perez, da delegacia de Atalaia do Norte – disse que a hipótese de um mandante continua não sendo descartada pela polícia, mas que não há indícios suficientes para iniciar uma investigação contra qualquer pessoa.

“É uma possibilidade, é uma linha de investigação que está sendo levada em consideração. Hoje não tenho elementos para pedir uma busca na casa de alguém, para indiciar alguém. Não temos elementos nos autos que identifiquem um mandante, mas a gente trabalha com essa hipótese. Vamos tentar esgotar essa possibilidade. Isso será estudado em conjunto com a Polícia Civil, com o delegado Alex, e no âmbito da PF, para ver qual a melhor estratégia. Nada impede que futuramente, surgindo provas… Por exemplo, se chegarmos a um suspeito que esteja envolvido em outros crimes.”

O especial Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado é uma série de reportagens da Agência Pública com apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) em parceria com o Pulitzer Center

 

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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Exército fotografa tela de computador e jornalista da Agência Pública após perguntas https://canalmynews.com.br/brasil/exercito-fotografa-tela-de-computador-e-jornalista-da-agencia-publica-apos-perguntas/ Sat, 02 Jul 2022 11:12:32 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=31077 Fotografias foram tiradas pelas costas do jornalista após perguntas não respondidas por general em Atalaia do Norte (AM); exército não comentou episódio.

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Momentos depois que a Agência Pública dirigiu perguntas incômodas ao general Marcius (ele não forneceu o nome completo), durante um encontro entre parlamentares do Congresso Nacional com indígenas em Atalaia do Norte (AM), um militar fotografou a tela do computador pessoal do jornalista da Agência Pública. Antes, o jornalista havia indagado ao general quais seus esclarecimentos a respeito de críticas e denúncias feitas ao microfone por lideranças indígenas do Vale do Javari.

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General foi indagado sobre criticas de indígenas. Foto: José Medeiros/Agência Pública

As fotografias foram tomadas pelas costas do jornalista, quando ele acompanhava e transcrevia os discursos dos parlamentares na sede da Univaja, a principal entidade indígena do Vale do Javari. Os senadores e deputados representavam duas comissões externas, da Câmara do Senado, criadas para apurar o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e a ausência do Estado na região do Javari.

Ao saber que estava sendo fotografado, o jornalista se aproximou do autor das imagens, um soldado que tinha parte da sua identificação coberta pela correia de apoio da máquina fotográfica. Foi possível visualizar apenas “Amon-H[…]”.

Seguiu-se o diálogo no corredor da Univaja, que foi gravado em vídeo pela Agência Pública:

Jornalista – O sr. está fotografando minha tela, por quê?

Militar – Senhor?

Jornalista – Por que o sr. está fotografando minha tela? Quem mandou? O sr. recebeu autorização de alguém?

Militar – [Murmúrio]

Jornalista – Qual foi a ordem? Qual o seu nome?

Militar – [Vai em direção à saída da Univaja]

Jornalista – Pois não? Por que o sr. está fotografando o meu computador?

Militar – Senhor, não posso dar informação nenhuma.

Jornalista – Não pode dar entrevista. E quem pode? Quem pode dar entrevista? Quem é seu superior?

Militar – [Sai pela porta da frente da Univaja]

Depois do encerramento do evento na Univaja, a Agência Pública viu o mesmo militar entrando na van mobilizada para trazer os assessores dos parlamentares ao evento na Univaja. O veículo levou as autoridades e assessores para um helicóptero que os aguardava nos fundos da prefeitura de Atalaia. Dali, a aeronave partiu em retorno para Tabatinga.

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10 parlamentares estiveram no Vale do Javari e ouviram que Estado é ausente na região. Foto: José Medeiros/Agência Pública

O helicóptero e a van são parte da estrutura disponibilizada pelo governo para transportar os parlamentares, assessores e jornalistas de Brasília para o encontro na sede da Univaja, em Atalaia, e outro evento na cidade de Tabatinga sobre o mesmo tema das comissões.

Agência Pública apurou que instantes antes de começar a fotografar, o soldado havia conversado com um oficial identificado no uniforme como “Afonso”, também presente ao evento da Univaja e que atuava como uma espécie de assessor do general Marcius. De acordo com fotos e registros na internet, trata-se do tenente-coronel Afonso Gomes de Sousa Filho, do Comando de Fronteira SOLIMÕES/8º Batalhão de Infantaria de Selva (Cmdo Fron SOLIMÕES/8º BIS).

O jornalista abordou “Afonso” e indagou se ele pediu para que o computador fosse fotografado. Ele negou. “Não, não pedi não. Não tenho nada a declarar. Não tenho nada a declarar. Não pedi nada.”

Agência Pública presenciou “Afonso” indagando a outras pessoas sobre quem seria o jornalista da agência.

“Afonso” era o mesmo oficial que estava ao lado do general Marcius quando o comandante se recusou a dar declarações à Agência Pública, momentos antes do início das fotografias no computador. O general havia dito que não iria dar declarações.

Segundo fotografias e registros disponíveis na internet, trata-se do general de Exército Marcius Cardoso Netto, comandante da 16ª Brigada de Infantaria de Selva, vinculada ao Comando Militar da Amazônia.

Agência Pública fez perguntas sobre o ocorrido à assessoria de comunicação do Comando do Exército, em Brasília, e assim que surgirem respostas este texto será atualizado.

O especial Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado é uma série de reportagens da Agência Pública com apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) em parceria com o Pulitzer Center

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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Polícia faz reconstituição do crime para testar versões de acusados e testemunhas https://canalmynews.com.br/brasil/policia-faz-reconstituicao-do-crime-para-testar-versoes-de-acusados-e-testemunhas/ Fri, 01 Jul 2022 12:54:18 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=31007 Mais de 20 policiais federais e civis, além de peritos criminais federais, estão envolvidos na reconstituição do assassinato de Bruno e Dom.

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Estampidos de armas de fogo voltaram a soar alto no rio Itaquaí na tarde desta quarta-feira (29) no mesmo ponto em que, no último dia 5, foram assassinados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips. Os tiros na água fizeram parte da reconstituição do crime, na qual trabalham, desde a última terça-feira (28), mais de 20 policiais federais e civis e peritos criminais federais.

A reconstituição tem sido feita por blocos de “eventos”. Os presos e testemunhas dão sua versão sobre cada “evento”. A versão é reencenada com outras pessoas e objetos e gravada pelos peritos, “como se fosse um filmete” de cada “evento”, segundo um policial federal.

Depois, cada versão será confrontada na tentativa de dissipar as dúvidas e incoerências que surgiram entre depoimentos.

LEIA TAMBÉM: PF tem mais 5 suspeitos de matar Bruno e Dom

Na terça-feira (28), os peritos trataram da queima dos documentos e objetos pessoais de Bruno e Dom e da ocultação dos corpos. Na quarta-feira (29), a reconstituição teve a participação dos principais acusados da execução do crime, os pescadores e caçadores Amarildo Oliveira, o “Pelado”, e Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha”. Eles foram retirados da cela da delegacia de Atalaia do Norte, onde permanecem presos por ordens de prisão preventiva emitidas pela Justiça, e levados ao rio sob escolta policial. No final do dia, foram trazidos de volta à cela da delegacia.

Uma nova testemunha localizada pela polícia, um ribeirinho que casualmente estava perto do local dos assassinatos mas não teve envolvimento no crime, segundo a polícia, disse ter ouvido uma “rajada” no momento do crime, ou seja, uma sequência de tiros que teriam atingido a água. Com os tiros dados na reconstituição de quarta-feira (29), a perícia queria saber se a testemunha reconhecia o som como sendo os disparos de uma pistola como a que Bruno Pereira costumava portar.

De acordo com a versão de Amarildo Oliveira, o “Pelado”, o indigenista Bruno Pereira teria esboçado uma reação quando já estava caindo no barco após ser atingido provavelmente nas costas por um disparo dado por Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha” – este diz, no entanto, que o primeiro tiro contra Bruno partiu de “Pelado”. A dupla se aproximou do barco de Bruno pela parte traseira e deu os tiros à queima-roupa, sem chance de defesa para o indigenista, a uma distância que varia, de acordo com os depoimentos, de três a 20 metros.

Com a série de reconstituições dos “eventos”, a intenção da polícia é esgotar dúvidas que surgiram na comparação entre os depoimentos prestados por Amarildo e Lima. Conforme o delegado que preside o inquérito, Alex Perez, disse à Agência Pública no último final de semana, as principais contradições são: quem, entre “Pelado” e “Pelado da Dinha”, atirou em quem no barco conduzido por Bruno e em que ordem; em que momento Dom Phillips foi morto; o número exato de cartuchos deflagrados (“Pelado” primeiro falou um tiro, depois três cada um); como foi a exata dinâmica do assassinato; a distância em que os disparos foram dados; o destino das armas usadas por “Pelado” e “Pelado da Dinha”; quantas e quais são as pessoas que ajudaram a ocultar os corpos.

Outra contradição entre os dois presos é quem convidou quem para entrar no barco na comunidade de São Gabriel a fim de perseguir e matar Bruno e Dom, quando o indigenista e o jornalista passaram de barco pelo rio naquele ponto na manhã do domingo, dia 5. “Pelado” diz que a iniciativa da perseguição partiu de “Pelado da Dinha”, que diz o contrário, que foi “Pelado” quem teve a iniciativa.

Outras medidas que ainda farão parte do inquérito para tirar dúvidas são uma acareação entre os dois acusados e a entrega do resultado dos diversos exames periciais realizados até o momento. Foram feitas perícias nos corpos, no local do crime, no local onde os corpos foram enterrados na mata e em diversos objetos encontrados com e nas casas dos investigados.

O trabalho pericial desta quarta-feira foi acompanhado pela Agência Pública e pela Rede Amazônica, afiliada da Rede Globo no Amazonas. Os policiais foram apoiados por quatro indígenas e dois barcos da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). O barco que transportou os jornalistas foi conduzido pelo ex-coordenador da Univaja Jader Marubo, amigo de Bruno, com quem trabalhou por mais de cinco anos, de 2012 a 2016, quando o indigenista chefiou a coordenação regional da Funai em Atalaia do Norte. No caminho de ida e volta ao local da reconstituição, Marubo tocou nos alto-falantes do barco a versão entoada por Bruno de um canto kanamari que viralizou nas redes sociais após o seu assassinato. Os Kanamari são um dos povos que habitam a Terra Indígena Vale do Javari.

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Acusado de matar Bruno e Dom havia sido preso em 2019 com 200 munições de espingarda https://canalmynews.com.br/brasil/acusado-de-matar-bruno-e-dom-havia-sido-preso-em-2019-com-200-municoes-de-espingarda/ Wed, 29 Jun 2022 13:44:09 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=30936 Até aqui, acreditava-se que não havia registro policial de “Pelado” anterior aos assassinatos

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Atalaia do Norte (AM) — O pescador e caçador Amarildo da Costa de Oliveira, 41, o “Pelado”, que segundo a polícia confessou ter matado o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips e indicou onde estavam os corpos, já havia sido preso em flagrante pela Polícia Civil em 2019 pela posse de 200 cartuchos de espingarda calibre 16. Até aqui, acreditava-se que não havia registro policial de “Pelado” anterior aos assassinatos.

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Amarildo da Costa, vulgo ‘Pelado’, acusado de matar Bruno e Dom. Foto: Reprodução TV Globo

De acordo com o depoimento de “Pelado” sobre os assassinatos, ele utilizou uma espingarda com esse mesmo calibre para matar Bruno e Dom no dia 5 de junho. A polícia ainda procura a arma, que o pescador disse ter jogado no leito do rio Itaquaí logo depois do crime.

Agência Pública localizou na Polícia Civil de Benjamin Constant (AM), que fica a 40 minutos de carro da cidade de Atalaia do Norte (AM), o registro público da ocorrência policial que levou “Pelado” à prisão. Ele foi solto logo depois – não fica claro, na documentação, quanto tempo ele ficou na cadeia; teria sido menos de um dia, de acordo com fontes consultadas pela reportagem. A apuração também concluiu que “Pelado” não chegou a ser denunciado pelo Ministério Público pois foi excluído do relatório final da polícia. Embora tenha sido indiciado pela polícia, não houve a ratificação do indiciamento no relatório final. A Agência Pública apura os motivos dessa exclusão e, assim que o ponto ficar esclarecido, este texto será atualizado.

A prisão de “Pelado” foi feita por uma equipe da Polícia Militar de Benjamin Constant no dia 26 de fevereiro de 2019 sob acusação de infração ao artigo 12 da lei 10.826/2003.

Após embarcar “caixas de gelo” em sua canoa “com o intuito de pescar”, ele foi deixar Elismário Almeida de Alegria na casa do colega pescador, na rua 13 de Maio, quando “foi abordado pela guarnição de serviço” da PM. De lá, foi levado pela PM à sua casa, na rua Irmão Balduíno, também em Benjamin Constant.

Na residência, a PM disse ter encontrado “oito caixas de cartuchos de espingarda calibre 16, totalizando 200 cartuchos”. Não fica clara a procedência do material e “Pelado” não foi indagado sobre isso. É comum, na região, a aquisição de munições no lado peruano da fronteira com o Brasil. Em Benjamin, os países são separados apenas pelo rio Javari, um trajeto de apenas dez minutos de barco.

“Pelado” foi perguntado pela PM “qual seria a finalidade das referidas munições”. Ele respondeu, segundo o termo de depoimento que foi acompanhado pelo seu então advogado no caso, Hurigel Bruno de Araújo: “Seriam levadas para a comunidade de São Gabriel, localizado no rio Itaquaí, pertencente à cidade de Atalaia do Norte, os quais seriam usados para caçar”.

No seu interrogatório em Benjamin, “Pelado” disse ser católico, com “ensino fundamental incompleto (4ª série)” e que não fora preso ou processado anteriormente. Indagado se era “dado ao uso de bebida alcoólica”, respondeu que “sim, apenas cerveja”. Disse que tinha cinco filhos, de 19, 15, 13, dez e dois anos de idade. Embora tenha reconhecido a posse da munição e que ela seria levada para sua comunidade, ao mesmo tempo e de forma contraditória “afirmou ser inocente”.

“Pelado” disse ainda que possuía uma espingarda calibre 16, “mas que deixa a mesma na comunidade de São Gabriel, para a qual tais munições seriam levadas”. Foi dessa mesma comunidade que “Pelado” partiu de barco em perseguição a Bruno e Dom na manhã do dia 5, até alcançá-los e matá-los – segundo a polícia, ele e seu colega pescador, Jeferson Lima Silva, o “Pelado da Dinha”, agiram de forma traiçoeira ao atirar em Bruno pelas costas, sem chance de defesa às vítimas. A polícia investiga se outros membros dessa comunidade, como o irmão de “Pelado”, Oseney Oliveira, o “Dos Santos”, participaram da ocultação dos dois corpos.

Oseney da Costa de Oliveira é levado por agentes da PF

Irmão de ‘Pelado’, Oseney Oliveira, o ‘Dos Santos‘. Foto: Avener Prado/Agência Pública

O gestor da Polícia Civil em Benjamin Constant – cargo equivalente ao de delegado em municípios do Amazonas que não possuem delegado –, Alcy Barbosa, disse que um cartucho de espingarda calibre 16 pode ser adquirido por até R$ 5 no lado peruano da fronteira. No varejo brasileiro, o preço dessa munição pode chegar a R$ 10. Assim, pelos atuais valores brasileiros as 200 munições apreendidas com “Pelado” custariam até R$ 2 mil. Barbosa não estava lotado na cidade na época de “Pelado” e por isso não tinha informações sobre o registro nem explicação sobre o pescador não ter sido denunciado pelo Ministério Público ao término do inquérito.

O delegado da Polícia Civil em Atalaia do Norte, Alex Perez, disse à Agência Pública que “existe um inquérito instaurado em Benjamin Constant no qual ele [“Pelado”] inicialmente tinha sido indiciado por apreensão de cartuchos”. “Mas não sei o motivo pelo qual ele não foi incluído no relatório final do delegado ou do gestor de lá. E juntamente com o promotor fomos analisar. Só que no relatório final ele [“Pelado”] não entrou… não foi ratificado o indiciamento. Mas ele foi [sim] investigado por participação nessa situação.”

O advogado Hurigel Bruno de Araújo, que defendeu “Pelado” na prisão em flagrante, disse que atuou até a soltura do pescador e não se recorda de detalhes do processo. Afirmou que “não gostaria de comentar o conteúdo do processo” por “questões profissionais”, mas reconheceu que o processo é público. “Faz tanto tempo que não me lembro mais desse caso. Fui chamado para socorrer ele no flagrante e ele foi posto em liberdade e desde esse dia eu não vi mais ele, não tive mais contato. Eu trabalho em Tabatinga e ele mora em Atalaia do Norte, salvo engano, numa comunidade, e não tive mais contato.”

“Na realidade [não] me chamaram nem para advogar para ele, foi para advogar para uma outra pessoa e ele estava lá, pediu ajuda. Não foi especificamente para ele. Eu tomei pé da situação lá, mas não era exclusivamente para ele, não, entendeu? Envolvia outras pessoas que foram presas e ele estava lá no flagrante”, disse o advogado.

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“Nada está descartado”: o que diz o delegado que preside o inquérito sobre Bruno e Dom https://canalmynews.com.br/brasil/nada-esta-descartado-o-que-diz-o-delegado-que-preside-o-inquerito-sobre-bruno-e-dom/ Mon, 27 Jun 2022 20:58:05 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=30877 Delegado Alex Perez explica que uma segunda apuração poderá ser aberta e os indícios sobre um eventual mandante ainda são “poucos”

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O delegado da Polícia Civil Alex Perez, que em Atalaia do Norte (AM) preside o inquérito sobre o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, está confiante sobre as provas colhidas a respeito da autoria do crime. O mesmo ele não diz sobre um suposto mandante dos assassinatos.

“Aqui a gente está preocupado em concluir, porque temos prazo, essa situação do homicídio, da execução. Talvez eu peça a prorrogação [do inquérito], pela complexidade. Faltam os laudos ainda. Mas essa segunda fase eu não sei se vai ficar com a gente. Seria um novo inquérito, desdobraria [o primeiro]”, disse o delegado em entrevista exclusiva à Agência Pública na delegacia de Atalaia.

Hoje a investigação se concentra nas figuras dos pescadores e caçadores Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, e Oseney da Costa Oliveira, o “Dos Santos”, irmão de “Pelado”. Os dois primeiros confessaram o crime, cometido no último dia 5, e apontaram à polícia o local exato onde os corpos foram enterrados perto da calha do rio Itaquaí. A polícia tem um prazo inicial de 30 dias, a contar de 5 de junho, para concluir a investigação. O prazo pode ser renovado diversas vezes por igual período por ordem judicial.

Uma eventual segunda etapa das investigações destinada a apurar um mandante poderá ficar sob a responsabilidade da Polícia Federal. Mas, a rigor, a Polícia Civil também pode abrir um inquérito a qualquer momento.

“Se eu tiver indícios e elementos suficientes — de gente que fale, porque as pessoas não falam dele [suposto mandante]. Já tentei buscar elementos para a gente instaurar um inquérito, porque eu não posso instaurar um inquérito sem base nenhuma. Mas a partir do momento em que eu tiver em mãos elementos suficientes para instaurar um inquérito, eu instauro. Porque todo mundo comenta, mas não tenho aqui, no papel, formalizado”, disse o delegado.

Agência Pública indagou quais elementos disponíveis à polícia teria até o momento que apontariam para um suposto mandante. O delegado respondeu que “muito pouco”, um material “insuficiente”. A reportagem apurou que um dos presos, o “Pelado da Dinha”, mencionou que transaciona com uma pessoa o produto da pesca clandestina e ilegal, mas não associou esse nome aos homicídios. “Pelado” não mencionou o empresário, apenas disse genericamente que comercializa o pescado em Tabatinga e Benjamin Constant.

“O Jeferson comentou que há poucos anos esse [empresário] compra essa mercadoria e financia. Falou pouco, um parágrafo, mas comentou. É o que todo mundo sabe, é voz corrente, que realmente compra esse material e financia. Em troca do financiamento, tudo que é extraído, que é pescado, caçado, é levado para ele como forma de compensação. O pescador deve ganhar algum valor, uma porcentagem. Ou parte do pescado. Tanto que eles mesmos [os presos] falam que vendem em Benjamin Constant. Aqui em Atalaia é muito pouco porque eles falam que é fraco [o movimento do comércio]. Aí eles vão para Benjamin, mandam para a Colômbia também.”

Essas citações, contudo, ainda são genéricas e inconclusivas, segundo o delegado, e não justificariam a abertura de um inquérito próprio. O delegado reiterou que primeiro pretende encerrar o inquérito sobre a autoria. Mas, “diante de novos fatos, se chegarem aqui para nós da delegacia de Atalaia, a gente vai investigar”. Segundo o delegado, para a polícia “nada está descartado”.

“A gente também tem esse interesse [de uma segunda investigação sobre suposto mandante], só que agora a gente não pode fazer duas coisas boas ao mesmo tempo. Fica difícil. O risco é acabar gerando uma nulidade, por exemplo, de um ato nosso aqui. Porque a gente está tendo o maior cuidado em tudo que estamos fazendo. Para evitar a nulidade num eventual Tribunal do Júri. Se anular um ato, e aí? Então a gente está tentando fazer um negócio bem amarradinho, se cercando de todas as cautelas para a gente entregar um trabalho bem [feito].”

A hipótese de um mandante pode dar início a uma segunda investigação, mas só depois que a primeira for encerrada, reiterou Perez. A prioridade da polícia nesse momento é terminar a apuração do crime em si, por meio das perícias da PF e da solução das contradições entre os depoimentos dos presos – detalhes que, para a polícia, não afetam a conclusão final do inquérito.

bruno e dom

Ainda está indefinida a hipótese de uma investigação própria sobre suposto mandante do assassinato de Bruno e Dom, de acordo com o delegado Alex Perez. Foto: José Medeiros/Agência Pública

As principais contradições

As principais contradições até aqui são, de acordo com o delegado: quem, entre “Pelado” e “Pelado da Dinha”, atirou em quem no barco conduzido por Bruno e em que ordem; em que momento Dom Phillips foi morto; o número exato de cartuchos deflagrados (“Pelado” primeiro falou um tiro, depois três cada um); como foi a exata dinâmica do assassinato; a distância em que os disparos foram dados; o destino das armas usadas por “Pelado” e “Pelado da Dinha”; quantas e quais são as pessoas que ajudaram a ocultar os corpos.

Outra contradição entre os dois presos é quem convidou quem para entrar no barco na comunidade de São Rafael a fim de perseguir e matar Bruno e Dom, quando o indigenista e o jornalista passaram de barco pela comunidade na manhã do domingo, dia 5. “Pelado” diz que a iniciativa da perseguição partiu de “Pelado da Dinha”, que, entretanto, diz o contrário.

Para tentar resolver essas contradições, a polícia tem duas ferramentas: uma acareação entre os dois acusados e os exames periciais. Uma terceira medida será uma ampla reconstituição dos assassinatos no leito do rio Itaquaí com a participação dos três presos e de algumas testemunhas. Isso deverá ocorrer com apoio da Polícia Federal ainda nesta semana, segundo apurou a Agência Pública.

As perícias poderão ajudar a explicar a trajetória dos disparos dados pelos dois acusados e a dinâmica do ataque. O delegado Perez trabalha com duas hipóteses principais. Na primeira, Bruno é atingido por “Pelado da Dinha” pelas costas, perde o controle do barco, mas ainda consegue sacar a pistola que costumava carregar consigo. Essa arma desapareceu. Um dos acusados afirmou que Bruno, já atingido pelo primeiro tiro, bateu o braço em vários galhos na margem do rio e, com isso, a pistola se soltou de sua mão e caiu no rio.

A segunda hipótese é que o primeiro tiro partiu de “Pelado”, que depois deu uma volta com o barco e conseguiu atingir Bruno de frente, com mais dois tiros. Em seguida ou simultaneamente, Dom foi morto.

De qualquer forma, os depoimentos são coincidentes em indicar que Bruno foi atingido de surpresa, sem chance de reação, a curta distância. A suposta reação de Bruno, se de fato ocorreu (não há nenhuma prova disso até o momento), só vem depois do primeiro tiro que parte do barco onde estavam “Pelado” e “Pelado da Dinha”.

Há divergências sobre a distância do disparo efetuado contra Bruno. “Amarildo fala que foi um pouco mais distante. Já o outro fala que foi bem mais próximo, fala 3 ou 4 metros. Por isso que quando ele [Bruno] levou [o tiro], a lancha se desgovernou e avançou na margem do rio. E antes de chegar à margem do rio, Amarildo diz que Bruno conseguiu sacar a arma e efetuar alguns disparos. E a arma do Bruno? Segundo a versão do Amarildo, enquanto a lancha estava se dirigindo para a margem do rio, aquela galhada das árvores provavelmente teria batido na mão do Bruno e a arma teria caído [no rio]. Perguntamos mais de 30 vezes, ‘e a arma do Bruno?’. A versão do Amarildo é essa”, explicou o delegado.

Embora a Polícia Federal tenha feito inúmeras perícias, incluindo uma versão em 3D, não é garantido que elas consigam elucidar toda a sequência da perseguição, dos tiros e da ordem exata dos assassinatos. De qualquer forma, isso pouco muda em relação ao ponto fundamental do inquérito.

“Se a perícia não for completamente conclusiva em relação a essa dinâmica, quem acertou quem, os dois [presos] vão ser indiciados. Até porque a Justiça procura aplicar a pena de acordo com a sua participação, a individualização da pena, como se chama. Mas nesse caso, se não concluir, na minha opinião [pouco muda]. Ambos confessam, há uma materialidade, os corpos foram encontrados, foram indicados por um dos dois, o outro também conta detalhes do que aconteceu. É pouco provável que escapem das acusações. E tem as provas técnicas ainda, que a gente está aguardando. São muitas. Tem a perícia da primeira lancha do Amarildo, onde foram encontrados vestígios de sangue, era bastante sangue, eu vi. Tem a perícia dos corpos. A gente arrecadou bastante material ontem [sexta-feira, dia 24].”

Motivação do crime

Sobre a motivação do assassinato considerada até o momento no inquérito, o delegado repetiu a linha antecipada à Agência Pública pelo principal investigador da Polícia Civil que atua no caso, a de que Bruno Pereira “atrapalhava” os negócios de “Pelado” e seus associados.

“A situação do conflito, a gente começou a se aprofundar nesses detalhes do conflito existente entre Amarildo, entre os familiares e Bruno. Que Bruno, segundo o depoimento deles, atrapalhava as negociatas, o negócio, a venda dos peixes. Que Bruno complicava lá, quando eles atavam as malhadeiras [equipamento para pesca], Bruno ficava passando com a canoa para dificultar, para o peixe não entrar, uma série de situações. E isso já vem de muito tempo, e isso gerou um certo inconformismo neles que em princípio gerou neles essa, essa… Quero usar a palavra correta. Essa reação desproporcional que culminou na execução dos dois.”

O delegado disse que não pretende “romantizar nada” e que irá “à essência da coisa”.

“Ele [Bruno] fiscalizava e eles [presos] alegam que eram prejudicados. Bruno fiscalizava, fazia o papel dele, e isso incomodava. Porque era a maneira deles [presos] se sustentarem. Até com uma certa qualidade de vida, diferente de outros ribeirinhos, que não têm praticamente nada.”

Perez também reconhece que havia ameaças contra o indigenista, que “os relatos indicam que eles [Bruno e indígenas] vinham fazendo essas denúncias há muito tempo” e que as denúncias eram feitas por organizações não governamentais.

O especial Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado é uma série de reportagens da Agência Pública com apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) em parceria com o Pulitzer Center

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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Bruno estava “atrapalhando os negócios” dos assassinos, diz investigador da polícia civil https://canalmynews.com.br/brasil/bruno-estava-atrapalhando-os-negocios-dos-assassinos-diz-investigador-da-policia-civil/ Tue, 21 Jun 2022 10:39:10 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=30291 No sentido contrário do que afirmou a PF em nota na semana passada, a Polícia Civil segue investigando se houve ou não mandante para o crime

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selo agência pública

Atalaia do Norte (AM) – Conforme avançam as investigações do inquérito presidido pela Polícia Civil, emergem mais detalhes sobre a motivação do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips ocorrido no domingo, dia 5 de junho, no rio Itaquaí.

Embora a Polícia Federal e o comitê de crise emitam notas à imprensa e tenham feito pelo menos uma entrevista coletiva, em Manaus (AM), ganhando para si um protagonismo midiático, é na delegacia de Polícia Civil de Atalaia do Norte que tramita o inquérito sobre os crimes. A investigação é realizada por dois policiais civis de Atalaia e pelo delegado Alex Perez e acompanhada pelo promotor de Justiça Elanderson Lima Duarte, a quem caberá fazer a denúncia ao Poder Judiciário a fim de dar início ao processo criminal. A PF faz uma investigação paralela, realizou exames com peritos criminais federais e ajudou nas buscas e na tomada de depoimentos.

A Polícia Civil havia tomado, até o último domingo (19), os depoimentos de 14 testemunhas e três suspeitos, incluindo o principal acusado que, segundo a polícia, confessou a autoria dos crimes, o pescador e caçador Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”. Para o investigador de Polícia Civil que atua no caso desde a manhã do dia 6, Joilnen David Morais da Rocha, a motivação do crime foram as seguidas apreensões de pescado de “Pelado” e seus colaboradores no Vale do Javari. A maior entidade indígena da região, a Univaja, já havia denunciado, antes do crime, o papel de “Pelado” na invasão do território indígena atrás de caça e pesca ilegais.

“No meu entender, a motivação é dinheiro. O Bruno estava atrapalhando os negócios dos assassinos”, disse Rocha. Como colaborador da Univaja, Bruno Pereira estava ajudando a organizar, desde o ano passado, equipes de vigilância indígenas voltadas para o monitoramento e a denúncia de crimes ambientais cometidos dentro da terra indígena. Ainda antes, como coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) durante cinco anos em Atalaia, de 2012 a 2016, Bruno também já havia dado ênfase à fiscalização.

O investigador da Polícia Civil explicou que grupos de pescadores agindo fora da lei são financiados para realizar excursões dentro da terra indígena que podem durar 15 dias, 20 dias, um mês. Toda a logística de uma empreitada como essa, que inclui combustível, alimentação e gelo para preservação da carne dos animais abatidos, pode variar de R$ 8 mil a R$ 20 mil.

Assim, quando o peixe e a caça são apreendidos, o prejuízo é enorme para as quadrilhas. Além disso, as incursões ilegais dentro da terra indígena significam muito mais dinheiro em jogo, pois o lucro é maior.

“Com o mesmo esforço, um pescador fatura cerca de cinco vezes a mais quando adentra a terra indígena. A área é muito preservada, por isso o investimento compensa muito mais. Daí as seguidas invasões”, disse o investigador. Desde os anos 1990, quando a Terra Indígena Vale do Javari foi demarcada, os recursos foram sendo degradados pelos pescadores fora do território, mas aumentaram dentro, como reflexo da preservação adotada pelos indígenas.

No seu depoimento, segundo apurou a Agência Pública, “Pelado” disse que estava ficando cada vez mais incomodado com as ações de Bruno Pereira e dos indígenas contra a atividade ilícita na região. Ele disse aos policiais que toda vez que subia o rio, “o Bruno ia atrás” para saber se ele entraria na terra indígena e, assim, coibir a pesca ilegal.

LEIA TAMBÉM: PF tem mais 5 suspeitos de participar da morte de Dom e Bruno Pereira

No primeiro depoimento que prestou quando foi preso dias após o crime, “Pelado” negou qualquer participação nos assassinatos. Isso mudou após a prisão de um dos seus irmãos, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”. Eles são irmãos muito próximos. “Foi quando ele viu que o tempo tinha fechado, ele pensou ‘vão me atingir onde mais me dói’, que no caso dele é a família. Ele viu que a polícia podia prender os outros irmãos e até seus pais. Foi quando resolveu colaborar”, disse Rocha.

De acordo com o investigador, foi uma mentira que despertou nos policiais a certeza de que “Pelado” estava envolvido no crime. No primeiro depoimento, “Pelado” disse que passou o dia todo em casa no domingo dos desaparecimentos, dia 5. A polícia começou a bater nessa mentira, pois conseguiu localizar, com apoio da Univaja, um pescador que por puro acaso disse ter passado pelo barco de “Pelado” no rio Itaquaí naquela mesma manhã. Além disso, deu uma carona a “Dos Santos”, que estava subindo o rio de canoa a remo e pediu ajuda porque estava indo falar com seu irmão, “Pelado”. Daí a enorme contradição: se “Pelado” passou o domingo todo em casa, como foi visto no rio?

“Essa testemunha nós consideramos como a chave, ela que ‘colocou’ os dois irmãos no rio, quando ‘Pelado’ dizia que tinha ficado em casa. Daí as coisas não faziam mais sentido e ele foi se enrolando nas mentiras.”

No sentido contrário do que afirmou a PF em nota na semana passada, a Polícia Civil segue investigando se houve ou não mandante para o crime. Os policiais civis têm até o dia 6 de julho para concluir o inquérito. Caso necessário, podem pedir ao Judiciário uma prorrogação do prazo por mais 30 dias, e assim sucessivamente.

 

O especial Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado é uma série de reportagens da Agência Pública com apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) em parceria com o Pulitzer Center

*Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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Motivação das mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips vai definir o caminho do processo https://canalmynews.com.br/brasil/motivacao-das-mortes-de-bruno-pereira-e-dom-phillips-vai-definir-o-caminho-do-processo/ Fri, 17 Jun 2022 19:43:22 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=30143 Uma transferência do caso para a Justiça Federal dependeria de a polícia apontar conexão do crime com a Terra Indígena Vale do Javari

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Por que mataram Bruno Pereira e Dom Phillips? A resposta a essa pergunta definirá o caminho que o processo seguirá na Justiça, de acordo com fontes próximas à investigação ouvidas pela Agência Pública em Atalaia do Norte (AM).

No caso de o processo permanecer na Justiça estadual, o Ministério Público poderá pedir o desaforamento para a cidade de Manaus (AM), ou seja, solicitar que o futuro Tribunal do Júri seja realizado na capital do Amazonas, a cerca de 1.100 km em linha reta de Atalaia do Norte (AM). A medida contornaria eventuais dificuldades na escolha do júri e pressões políticas e sociais, já que a família dos acusados é grande e bem conhecida na região.

O inquérito sobre os homicídios hoje tramita na Justiça estadual do Amazonas conduzido pela Polícia Civil e sob a supervisão do Ministério Público e da Justiça estaduais. Um segundo inquérito, sobre os desaparecimentos, tramita na Polícia Federal.

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Para a Polícia Civil, a autoria do crime foi resolvida a partir de uma confissão do pescador Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, do relato de testemunhas, do trabalho da perícia técnica e da reconstituição do crime que resultaram na localização de restos mortais em área próxima à comunidade São Gabriel. A perícia nos corpos será concluída no decorrer da próxima semana, segundo nota da Polícia Federal.

bruno e dom

Chegada de restos mortais em Atalaia do Norte (AM) na noite de 15 de junho. Perícia em Brasília irá confirmar se são de Bruno e Dom. Foto: Avener Prado/Agência Pública

A investigação agora deverá detalhar o que levou Oliveira a matar o indigenista e o jornalista. Definir a motivação do crime terá impacto na decisão que a Justiça deverá tomar em algum ponto do processo sobre a esfera judicial na qual o processo tramitará, se estadual ou federal.

Caso o inquérito hoje conduzido pela Polícia Civil conclua que há conexão do crime com a atuação de Bruno Pereira na Terra Indígena Vale do Javari, o Ministério Público estadual poderá suscitar um conflito de competência, ou seja, indagar ao Judiciário sobre qual esfera deverá julgar o processo criminal. O MP poderá solicitar ao juízo que remeta o processo à Justiça Federal, já que terras indígenas são registradas em cartório como patrimônio da União e devem ser protegidas por órgãos federais, como a Funai, o Ibama e a própria PF. Além disso, Bruno era servidor público federal.

Para a investigação ir para a instância federal, é necessário que a Justiça entenda que as ameaças de “Pelado” a Bruno ocorreram em razão de sua atuação como indigenista. Inúmeras denúncias documentadas pela Univaja, a principal entidade indígena do Vale do Javari, demonstram ameaças e intimidações contra Bruno Pereira e outros indígenas da fiscalização por conta de sua atuação para impedir o saque de riquezas dentro da TI.

Outro argumento que pode ser usado para o caso ir à Justiça Federal seria a comprovação de que os executores agiram a mando de alguma terceira pessoa com interesse em áreas da União ou relacionada ao tráfico internacional de drogas.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, a Polícia Federal negou a hipótese de “crime de mando”. Ela disse que, de acordo com as investigações, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”.

A Univaja emitiu uma nota criticando o comunicado da Polícia Federal. A entidade disse que “a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela UNIVAJA em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021.” Segundo a organização dos indígenas, as informações enviadas nos ofícios apontam para a existência de um grupo organizado atuando nas invasões à TI Vale do Javari. “A nota à imprensa, emitida pela PF hoje corrobora com aquilo que já destacamos: as autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips”, afirma a nota.

Por outro lado, pesa contra a tese de que o processo deverá passar à Justiça Federal, segundo uma fonte próxima à investigação disse à Pública, o fato de Pereira estar licenciado do cargo que ocupava na Funai (Fundação Nacional do Índio) quando foi morto.

Outros pontos a serem esclarecidos, diz outra fonte próxima à investigação, é se “Pelado” exercia de fato a pesca ilegal dentro da TI Vale do Javari e se a decisão de matar Bruno se deu em decorrência de ações de fiscalização realizadas pelo indigenista dentro ou fora da terra indígena. Para policiais estaduais, é possível que Bruno tenha confrontado “Pelado” e realizado ações de fiscalização, como a inutilização de material de pesca, em áreas fora do perímetro da TI Vale do Javari. Tal entendimento faria com que o inquérito e o processo continuassem tramitando em âmbito estadual, segundo esta fonte.

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As imagens mostram a movimentação das equipes de busca no dia 15 de junho no rio Itaquaí. Foto: José Medeiros/Agência Pública

Uma outra hipótese sobre o desfecho do processo seria a chamada “federalização”, chamada tecnicamente de IDC (Incidente de Deslocamento de Competência). Pela lei, o IDC só pode ser ajuizado pela PGR (Procuradoria Geral da República) junto ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). Poucos casos foram “federalizados” no país até hoje.

A “federalização” foi demandada pelo movimento indígena em um ato público realizado no centro de Atalaia do Norte na última segunda-feira. Após as buscas terem encontrado os restos mortais na última quarta-feira, a Univaja reiterou, em nota, que “o assassinato de Pereira e Philips constitui um crime político, pois ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari”.

A Constituição estabelece que serão julgados na Justiça Federal os “crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas.” Também são de competência federal os processos judiciais relacionados aos direitos indígenas.

Parentes de “Dos Santos” e “Pelado” foram ouvidos pela Polícia Civil nesta quinta-feira

Nesta quinta-feira, cinco familiares dos presos Oseney Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, e “Pelado” prestaram depoimentos na delegacia da Polícia Civil de Atalaia do Norte. Essas pessoas negaram supostos mandantes do crime.

Os depoimentos foram acompanhados pelo advogado Ednilson Almeida Tananta, que também representa Oseney e Amarildo Oliveira no inquérito, e por servidores da Polícia Federal. “Estou acompanhando o desenrolar das investigações nessa fase de inquérito policial”, disse Tananta à reportagem, sem confirmar se seguirá no caso a partir da eventual apresentação da denúncia, pelo Ministério Público.

O advogado não quis dar detalhes do que conversou com os suspeitos nas suas celas ou sobre os depoimentos de ontem e nem apresentou nenhuma linha da defesa que fará de seus clientes. Oseney e Amarildo seguem presos na delegacia de Atalaia do Norte.

Parte dos depoimentos foi colhida enquanto uma procissão de fiéis da Paróquia de Atalaia do Norte concentrava-se em frente à delegacia de polícia. A procissão, realizada no feriado de Corpus Christi, saiu da delegacia e foi até a igreja da cidade. “Rezamos pelo Bruno e pelo Dom para que sejam acolhidos no festim da eternidade”, disse o padre Alberto, da paróquia de Atalaia.

Nesta sexta-feira, equipes da Marinha, do Corpo de Bombeiros do Amazonas e do Exército seguem as buscas pela embarcação em que estavam Dom Philips e Bruno Pereira, supostamente afundada pelos suspeitos no leito do rio Itaquaí.

O especial Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado é uma série de reportagens da Agência Pública com apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) em parceria com o Pulitzer Center

*Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

O post Motivação das mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips vai definir o caminho do processo apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

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