Arquivos Maria Antonia De'Carli - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/maria-antonia-decarli/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 04 Feb 2025 20:34:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 A crise de identidade europeia https://canalmynews.com.br/noticias/a-crise-de-identidade-europeia/ Tue, 04 Feb 2025 20:34:04 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=50651 União Europeia nunca mais foi a mesma desde o Brexit, evento que marcou e consolidou a crise identitária, econômica e política da Europa Moderna

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Num recente painel do Fórum Econômico Mundial, Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu, reconheceu que a União Europeia se encontra diante de uma crise de identidade. Na sua fala, ela reiterou que sua visão era realista e que não dava para negar o momento que a Europa está vivendo.

De fato, madame Lagarde tem razão, a União Europeia nunca mais foi a mesma desde o Brexit, evento que marcou e consolidou a crise identitária, econômica e política da Europa Moderna. O Brexit foi fruto do populismo europeu que surgiu no início da década de 2010, movimento que cresceu simultaneamente nas principais economias europeias e soube capitanear, com muita eficiência, uma fração importante da população deste continente que estava insatisfeita com o modelo de integração europeu, pois não se identificavam nem com a ideologia do “progressismo liberal” e nem estavam inseridas economicamente no modelo “capitalista global”, ou seja, essas pessoas eram excluídas sumariamente do sistema.

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O Brexit vai completar uma década, e desde então nada mudou, na verdade, só piorou, principalmente para os entusiastas do modelo pró-europeísta. Um novo modelo de governança vem ganhando tração e se concretizando no tabuleiro político europeu, me refiro aqui ao modelo do nacionalismo populista que teve seu ponto de partido com o Movimento 5 Estrelas da Itália e com as sucessivas eleições de Viktor Orbán na Húngria.

O nacionalismo populista europeu do século 21 possui diferentes formatos, pois ele se flexibiliza para caber no contexto específico de cada nação. Ele pode surgir no formato da extrema direita, ou ultra-direita, ou direita ideológica (caracterize como quiser, mas todos dizem o mesmo no seu âmago). As mensagens desses movimentos e partidos são claras: possuem um discurso divisivo de nós-contra-eles (típico do populismo clássico); enfatizam os valores nacionalistas de suas respectivas nações; criticam a ordem multilateral de uniões comerciais e sistemas como a ONU e a OMC; e principalmente, são extremamente eficientes nas suas mensagens de convencimento ao público, pois sabem jogar o jogo emocional como ninguém, e convencem eficientemente os eleitores revoltados e insatisfeitos.

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O emocional foi um grande parceiro no crescimento deste nacionalismo populista, seus líderes souberam encapsular o que eleitores frustrados precisavam ouvir. Seus discursos são inflamados e muitas vezes raivosos, exaltam emoções saudosistas, e, principalmente, fazem uma combinação entre os sentimentos de medo e esperança, que gera um match bastante eficiente. O jogo do medo prevalece no discurso divisório populista, onde o nós-contra-eles exalta a nação europeia imaculada que precisa se libertar da ameaça cultural e econômica provocada pela imigração sem freio que foi abraçada pela elite política de décadas anteriores.

Os “nacionalismos europeus” estão sendo variáveis cruciais para o cenário da crise de identidade que Madame Lagarde disse em sua fala, e aqui, vou além, pois a crise se alastrou, e a Europa vive uma crise econômica ocasionada por uma crise de falta de renovação econômica. Sua principal economia está em crise, me refiro a Alemanha, que era a maior economia europeia e impulsionava o continente.
A Alemanha não registrou crescimento desde o final de 2019, suas projeções para 2025 são de 0,3%, com exportações em queda. Sua indústria automobilística vem perdendo espaço para outros players globais e seu alto custo energético e dependência da Rússia também não ajudam.

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A Alemanha terá eleições parlamentares no final deste mês, e pela primeira vez depois da segunda-guerra, um partido reconhecidamente de extrema-direita, o AfD, se mostra competitivo o bastante para estar em 2º lugar nas pesquisas. Num marco recente no Parlamento deste país, o futuro Primeiro-Ministro (do partido da Angela Merkel, o CDU) votou com o AfD numa moção anti-imigração, quebrando o “cordão sanitário” que impedia partidos políticos de se aliarem a partidos extremistas em votações. Em resposta, mais de 160 mil pessoas foram às ruas em protesto.

Porém, engana-se quem acha que, na Alemanha, é só a direita que entrou na moda dos “extremos”, neste país, um fenômeno novo surge, o primeiro partido competitivo de extrema esquerda vem ganhando adeptos na popular figura de Sahra Wagenknecht, o BSW. Assim como os extremos da direita, esse partido é contra a imigração, mas se diferencia com relação às políticas de bem-estar social.

A Alemanha concretiza a nova era Europeia, uma era com pouco espaço para o discurso de cooperação econômica e mais espaço para o salve-se quem puder. Acompanhamos com excitação o que será das eleições da principal economia europeia e o que os seus líderes irão deliberar para o futuro da principal união econômica e política do mundo.

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Voto feminino nos Estados Unidos https://canalmynews.com.br/opiniao/voto-feminino-nos-estados-unidos/ Tue, 21 Jan 2025 17:39:50 +0000 https://localhost:8000/?p=50282 Para Maria De'Carli, embora tenha vivido uma lua de mel com o eleitorado, Kamala Harris perdeu as eleições por não se atentar aos verdadeiros interesses das mulheres

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Na segunda-feira (20), Donald Trump assumiu seu 2º mandato como 47º presidente dos Estados Unidos (EUA). Sua vitória foi avassaladora, desde 2004 nenhum candidato republicano havia vencido os colégios eleitorais (Trump levou 312 colégios eleitorais) e o voto popular (obteve 49,8% dos votos válidos). As eleições presidenciais de 2024 bateram recorde como o segundo maior pleito em termos de participação eleitoral, foram mais de 155 milhões de pessoas votando, o equivalente a 64% dos eleitores, isso é um marco considerável visto que o voto nos EUA é facultativo.

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Apesar da vitória incontestável, Trump assume o mandato numa nação extremamente dividida e polarizada, onde não há consenso com relação ao seu índice de aprovação. Um subgrupo que traz uma relação conturbada com o presidente, é o feminino.

A relação de Trump com as mulheres é bastante complexa. O presidente já deu algumas declarações bastante polêmicas e pejorativas com relação a este público; em 2024, porém, o republicano atingiu uma marca considerável no voto feminino, superando suas candidaturas anteriores. Afinal, o que explica isso?

Voto feminino EUA

Desde os anos 1980, as mulheres são maioria no eleitorado norte-americano, e, a partir de 1996, essas mulheres preferem votar em candidatos democratas. Em 2020, as mulheres foram cruciais para a vitória do Democrata Joe Biden, que conquistou 57% do voto feminino, porém, em 2024, apesar da candidata Democrata e então vice-presidente, Kamala Harris, ter ganhado a maioria do voto feminino — cerca de 54% — esses votos não foram suficientes para garantir a sua vitória.

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Fato é que o voto feminino não pode ser entendido de forma homogênea. As mulheres almejam coisas diferentes e partem de pontos de partidas diferentes. O voto feminino, sobretudo nos Estados Unidos, possui diferentes variáveis — como raça, extrato social e questões culturais —, e essas variáveis se sobrepõem ao fato de ser mulher. Analisar o voto feminino nas eleições norte-americanas do ano passado requer um olhar atento para entender as muitas camadas envolvendo as preferências eleitorais:

Harris triunfou entre as mulheres, será que com todas?

Apesar da Harris ter tido pelo menos 10% de vantagem com as mulheres, ela caiu frente aos seus antecessores: Biden teve uma vantagem de 15% com as mulheres versus Trump em 2020, e Clinton teve 13% de vantagem versus Trump em 2016.

Ao se analisar mais detalhadamente os fatores demográficos, Harris estourou com o eleitorado feminino negro, ela teve mais de 90% de preferência dessas mulheres, por quê? Porque essas mulheres são as principais vítimas quando o assunto é violência sexual e violência reprodutiva. Porém, Harris perdeu com as mulheres brancas, que, historicamente são mais conservadoras, defendem o status quo e tendem a preferir candidatos Republicanos.

Quais variáveis importam mais?

Seu gênero te define? A característica de ser mulher é extremamente importante para sua relação social e cultural com a sociedade, porém, as mulheres nos EUA não compartilham nenhum tipo de identidade de gênero coletiva. Na história eleitoral norte-americana, as mulheres não se juntam em torno de um candidato em comum. Portanto, prevalecem outras características e variáveis, e, nessas eleições de 2024, prevaleceu a economia — com o aumento de preços — e o medo da imigração sem controle.

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E Trump soube explorar as principais preocupações do público de maneira extremamente eficiente. Em diversas pesquisas, o então candidato Republicano era o melhor visto quando o assunto era economia. Na atual conjuntura econômica dos EUA, a inflação subiu por diversos fatores, e isso impactou o preço de insumos e itens básicos, assim como o preço de moradia. Em 2 anos, o preço do leito dobrou. Segundo sondagens, 3 a cada 10 eleitores acreditavam que a situação financeira de suas famílias estava piorando, e 9 a cada 10 eleitores disseram estar preocupados com os custos de vida.

Essa preocupação também foi grande entre as mulheres. Em uma sondagem feita pela Fundação Kaiser, o fator mais preocupante para o eleitorado feminino era a inflação, seguido de ameaças à democracia e a alta imigração, aborto ficou por último. Uma pesquisa feita pela Edison, mostrou que 31% do eleitorado feminino acreditava que a economia era o principal fator nas escolhas eleitorais, aborto ficou com 14%.

Harris não se atentou a entender o que o eleitorado queria e não soube explorar esses fatores, perdendo nas urnas por conta disso.

A candidata Democrata insistiu demais na tecla do aborto e nos direitos reprodutivos, pautas extremamente importantes, de fato, mas que não eram a principal preocupação do eleitorado e conversavam apenas com uma parte da população. Ela não soube furar bolhas.

Figura de Harris vs Figura de Trump

Ao ser nomeada candidata oficial à presidência pelos Democratas, Harris viveu uma lua de mel com o eleitorado, estourando nas pesquisas e obtendo apoio massivo de celebridades como Taylor Swift. Ela também ganhou o apelido de “Brat” gíria da Geração Z que significa “mulher descolada”. Apesar do sucesso com o público feminino e jovem, Harris foi pejorativamente chamada de “Cat Lady” por JD Vance — vice de Trump — que condenou massivamente as mulheres sem filhos, fazendo ataques indiretos a Harris.

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Essa é a figura que Harris representa, afinal, ela é uma mulher independente, que chegou ao topo pelo seu próprio esforço, ela é estudada, e não tem filhos. Sua figura é difícil de furar bolhas e romper preconceitos, não é todo mundo que conhece uma mulher como Harris, que dá para relacionar. A sociedade norte-americana é predominantemente conservadora, tendo o homem como figura central. Portanto, Harris já saiu perdendo nesse aspecto, ela não conseguiu furar a bolha do patriarcado e nem conseguiu se desvencilhar do preconceito invisível contra mulheres bem-sucedidas.

Apesar de Trump ter a figura machista associada ao seu personagem, todos nós temos um tio ou parente distante, ou até mesmo um marido, que dá para relacionar com o Trump. Existe um aspecto de afeto inconsciente de muitas mulheres para com a figura de Trump, e ele já saiu ganhando por isso.

Harris não foi a candidata perfeita, e muito menos Trump. Porém, houve erros de cálculos tremendos que foram cruciais para sua derrota. Fato é que o voto feminino na principal democracia do mundo não é um voto feminista, ele é um voto pragmático preocupado em resolver seu problema do momento, e o problema do momento é garantir o prato na mesa por um preço acessível.

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Assista abaixo à transmissão especial do MyNews da cerimônia de posse de Donald Trump:

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Brasília, a Versalhes Tropical https://canalmynews.com.br/opiniao/brasilia-a-versalhes-tropical/ Mon, 16 Dec 2024 13:08:01 +0000 https://localhost:8000/?p=49378 Cidade assemelha-se ao palácio francês em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito ao distanciamento do cidadão comum das decisões políticas

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Brasília, em sua essência, é um ícone do progresso arquitetônico e da concretização de uma idealização da “política do futuro”. A cidade traz um lembrete de que o poder precisa reencontrar o caminho para as ruas, para a vida cotidiana de quem sustenta a democracia brasileira. Como uma cidade de dimensões humanas e complexidades políticas, merece ser compreendida para além de seu simbolismo.

O Eixo de Brasília, o coração da política brasileira, assemelha-se ao Palácio de Versalhes em muitos aspectos, principalmente quando consideramos o quão afastado o cidadão comum brasileiro se encontra do centro de poder que a capital federal representa. Em Brasília, assim como em Versalhes, os protagonistas da política vivem num universo próprio, onde as decisões são tomadas a portas fechadas, longe do alcance e do entendimento da maioria.

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As eleições municipais de outubro de 2024, com seus mais de 150 milhões de eleitores, representaram a concretização direta da democracia nas cidades brasileiras. É nas ruas, nos bairros, na vida cotidiana, que se sente o impacto dessas escolhas. Porém, ao contrário desse cenário, as eleições para o Congresso Nacional, em fevereiro de 2025, representam um universo completamente distinto. Elas ocorrem a portas fechadas, e não nas ruas das cidades. Para o cidadão comum, as negociações e alianças políticas — como a união de PT e PL em torno de Hugo Motta — são difíceis de compreender, pois se desenrolam num teatro político com dinâmica própria.

Essa Brasília — versão de Versalhes Tropical — é uma idealização moderna de poder isolado, uma cidade planejada para ser o ápice da organização e do progresso, mas que falha em alcançar a população para quem teoricamente existe. Brasília e Versalhes têm o mesmo paradoxo: são, ao mesmo tempo, ícones de poder e símbolos de um distanciamento entre governantes e governados.

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Assim como em Versalhes, onde a nobreza se dedicava a intrigas e articulações de poder, em Brasília a política funciona com mobilizações que muitas vezes se distanciam dos anseios populares. O Palácio de Versalhes acabou isolando a nobreza em seu próprio universo, em Brasília os congressistas se isolam num ciclo de fisiologia e articulações políticas que o brasileiro médio não consegue acompanhar, e que impactam profundamente suas vidas cotidianas.

Como um retrato da monarquia francesa da época, o Congresso brasileiro em Brasília se torna um teatro, onde alianças e acordos surgem e desaparecem conforme o interesse do momento, perpetuando o distanciamento e a incompreensão popular.

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Essa comparação entre Brasília e Versalhes lança uma luz sobre a democracia no Brasil: ao mesmo tempo que permite alianças improváveis e equilibra o sistema político, também revela a fragilidade e o isolamento de um poder centralizado. Como em um grande House of cards tropical, Brasília é o palco final onde o poder se encerra em si mesmo – uma Versailles tropical onde os jogos de poder substituem a ideologia e a polarização e distanciam o governo de seu povo.

Ame-a ou odeie-a, Brasília é a mantenedora da democracia brasileira, é a garantidora do equilíbrio de um sistema aquém de qualquer ideologia inflamada que possa comprometer o funcionamento da alta política brasileira.

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