Arquivos Por Alana Gandra – Enviada especial* - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/por-alana-gandra-enviada-especial/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Sat, 08 Oct 2022 15:09:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Reduzir estigma nas empresas diminui estresse emocional, diz pesquisa https://canalmynews.com.br/economia/reduzir-estigma-nas-empresas-diminui-estresse-emocional-diz-pesquisa/ Sat, 08 Oct 2022 15:09:40 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34160 Estudo foi realizado com 86 mil trabalhadores

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Pesquisa feita pelo grupo Gattaz Health&Results, que usou a inteligência artificial (IA) para diagnosticar a saúde mental de 86 mil funcionários de 30 grandes corporações do Brasil, entre as quais a Petrobras e a Vale, permite o diagnóstico de grandes populações por meio de um questionário enviado por email ou celular. As respostas têm um acerto acima de 95% de se fazer uma hipótese diagnóstica.

O programa de saúde mental implantado nessas empresas após o estudo é baseado, em primeiro lugar, em informação, explicou o diretor geral do grupo, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Gattaz, no 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em Fortaleza.

“O passo inicial é informar para reduzir o estigma. Reduzindo o estigma, as pessoas estão dispostas a preencher o questionário e reduzir o estresse emocional”, explicou. Feito isso, são encaminhadas estratégias de tratamento e, também, para promover o bem-estar e, com isso, promover a saúde mental, prevenindo distúrbios, entre os quais síndrome de esgotamento (burnout), além dos quadros de ansiedade e depressão.

Segundo o professor da USP, os resultados encontrados são diferentes da população geral. “Um achado interessante é que, na população geral, 20% das pessoas têm transtorno de ansiedade. Nos trabalhadores, são 5%”, disse Gattaz, acrescentando que isso se explica porque, para trabalhar, a pessoa passa por uma entrevista, e mesmo que o pessoal de recursos humanos não seja psicólogo, ele sabe perceber quando o candidato é nervoso.

Os estudos mostram que uma pessoa com ansiedade tem chance menor de conseguir um emprego. “Eu diria que é uma seleção natural. Não é que o trabalho diminui a ansiedade, é que quem tem ansiedade não consegue trabalho”, disse Gattaz.

Outros resultados

Do universo de 86 mil empregados analisados, 13% foram diagnosticados com depressão grave e quase 50% com sintomas depressivos. Wagner Gattaz disse que o percentual de funcionários com depressão grave tem necessidade de tratamento. O índice é pouco superior aos 12% encontrados na população geral há 10 anos. O professor disse que o aumento ocorreu durante a pandemia da covid-19.

O risco de uso de álcool foi encontrado em 9% dos entrevistados, o dobro do que era há 10 anos (4%). “De fato, nós sabemos que, na pandemia, as pessoas passaram a beber mais, a consumir mais diferentes bebidas”.

Outro achado importante se refere ao burnout, que é uma condição associada ao trabalho, e que afeta em torno de 20% das pessoas dessa amostra de mais de 80 mil trabalhadores. Na pesquisa anterior, que englobava a população total, o índice encontrado ficou também por volta dos 20%. Entretanto, no estudo recente, o índice variou muito dentre as diversas atividades e, principalmente, dentre as diferentes chefias dos diversos grupos de trabalho. Segundo Wagner Gattaz, “isso remete muito a um fator protetor ao líder também”.

Gattaz salientou, por outro lado, que o número de pessoas afetadas no ambiente de trabalho pelo burnout varia dentro da própria empresa e dentre as profissões. “Geralmente, o burnout é maior em pessoas que têm contato direto com o público, por exemplo, os bancários, que trabalham no caixa e nos quais o índice alcança 70%”. Em outras empresas, são encontradas áreas com baixo burnout. Isso depende muito não só da profissão e da atividade, mas também da liderança, disse Gattaz.

O treinamento das lideranças faz parte do programa do grupo do professor Gattaz para reduzir o risco ambiental do burnout. O fator protetor mais forte contra o burnout consiste em promover o apoio social no ambiente de trabalho. “Bom contato com as chefias, com os companheiros, uma comunicação assertiva e clara, tudo isso previne o burnout como fator ambiental”.

A covid afetou esses números e, em especial, pessoas em home office, devido ao afastamento social, ao medo de infecção e de perder o emprego. Esses fatores aumentaram o estresse e a sobrecarga de trabalho e ampliaram também o risco de burnout. “Nós encontramos cerca de 40% a 50% em algumas áreas”, informou Gattaz.

Autonomia

Além da maior comunicação que deve existir entre chefias e subordinados, o grupo de estudos recomendou às empresas um fator que reduz o burnout, a autonomia, quando a companhia dá ao colaborador “o poder e a capacidade de decidir o que fazer, quando fazer e como fazer”.

Embora o home office tenha aumentado a sobrecarga, algumas pessoas passaram a ter uma performance melhor trabalhando em casa. “Isso surpreendeu muitas empresas que, no início, não queriam saber do home office e, de repente, viram que os funcionários estavam produzindo mais. Isso se deu, além dos fatores óbvios como não perder tempo no trânsito, entre outros, porque a pessoa trabalhando em casa tem autonomia. Ela sabe a que horas pode acordar, sabe que horas tem o maior pico de produtividade e criatividade. Então, pode decidir quais os melhores horários para ela. Com essa autonomia, aumentou a produtividade”, explica.

Outro fator usado pelas empresas é o índice de distância do poder, ou seja, como as hierarquias são determinadas na empresa. Quanto maior é esse índice, maior é o risco para o burnout porque a pessoa em vez de respeitar o líder, ela tem medo dele. “O líder não é respeitado. Ele é temido. A hierarquia não é uma coisa natural, mas forçada. Tudo isso engessa o ambiente de trabalho e aumenta o risco de burnout”.

Outro fator que gera o burnout é a demanda de produzir mais em menos tempo. O psiquiatra alertou que se há demanda, por um lado, e, de outro, fatores protetores, como apoio social e autonomia, o risco de burnout acaba equilibrado.

A recomendação de Wagner Gattaz às empresas para que mantenham a saúde mental de seus funcionários passa pela promoção de programas de saúde mental e de aumento de resiliência, em primeiro lugar, e de mudança de estilo de vida como, por exemplo, alimentação saudável, atividade física, relacionamentos.

“Quando isso é estimulado, a pessoa se sente mais saudável e com menos burnout no ambiente de trabalho. É preciso ainda oferecer treinamento para o manuseio e gerenciamento do estresse, principalmente treinamentos de relaxamento. O mindfulness (atenção plena) é uma arma poderosíssima para reduzir os riscos”, disse.

Ao mesmo tempo em que oferece esses elementos para os funcionários, a empresa treina as lideranças para estimular, no ambiente de trabalho, os fatores protetores, que são autonomia, apoio social e um ambiente de proximidade do poder. Algumas empresas têm adotado ginástica laboral dentro do ambiente de trabalho. Gattaz assegurou que já está provado cientificamente que isso diminui o desgaste e tem um efeito promotor de saúde mental e bem-estar.

* A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

Edição: Fernando Fraga

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Médicos destacam papel da espiritualidade para tratar doenças mentais https://canalmynews.com.br/brasil/medicos-destacam-papel-da-espiritualidade-para-tratar-doencas-mentais/ Sat, 08 Oct 2022 15:00:44 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34157 Tema mobiliza participantes de Congresso Brasileiro de Psiquiatria

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O tratamento dos transtornos mentais com abordagem dos aspectos da religiosidade e espiritualidade (R/E) passou pela pandemia de covid-19 e terá continuidade, afirmam especialistas que participaram do 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado nesta semana, em Fortaleza, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Trabalhos científicos divulgados ao longo das últimas décadas, entre os quais o estudo Position Statement, do psiquiatra brasileiro Alexander Moreira-Almeida, publicado em 2016 pela Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) na revista World Psychiatry, destacam a importância da abordagem e integração da R/E na avaliação, diagnóstico e tratamento de doenças mentais. A WPA reforçou, na ocasião, a relevância das pesquisas sobre o tema e a consideração da religiosidade dos profissionais da saúde mental envolvidos nos atendimentos.

Ao participar do congresso, Moreira-Almeida disse à Agência Brasil que o posicionamento da WPA já foi um reconhecimento das evidências desse impacto. “Sabemos que a maioria da humanidade tem religiosidade, tem espiritualidade, e que isso impacta a saúde, melhorando quadros depressivos ou evitando que aconteçam, diminuindo comportamento suicida, uso e abuso de substâncias e melhorando qualidade de vida e bem-estar também”, afirmou o especialista, que é vice-coordenador da Comissão de Estudos e Pesquisa em Espiritualidade e Saúde Mental da ABP.

Segundo Moreira-Almeida, a recomendação para profissionais de saúde de forma geral e, em particular, para os psiquiatras, era que soubessem da importância de tal condição para toda a humanidade, que, quando as pessoas lidam com problemas de saúde também buscam a espiritualidade para enfrentá-los e que isso tem impacto positivo.

Na prática, significa que a orientação é que os especialistas, sem ignorar a medicação, a psicoterapia, busquem conhecer a história espiritual da pessoa. “Porque nos interessa conhecer o paciente e perguntar qual é sua religiosidade, sua fé, e quanto isso impacta a sua vida. E, nesse ponto, identificar os aspectos positivos da religiosidade do paciente que podem ajudar o psiquiatra, clínico, ou psicólogo, no enfrentamento dos problemas.”

Achado

O coordenador da Comissão de Estudos e Pesquisa em Espiritualidade e Saúde Mental da ABP, Bruno Paz Mosqueiro, informou que, em 2019, saiu a revisão de um estudo muito completo sobre a relação entre depressão e espiritualidade. “Um achado interessante é que, nos momentos de adversidade, o papel protetor da espiritualidade é muito maior. Isso tem muito a ver com a covid-19, que foi um momento de adversidade.”

Na Universidade de Harvard, um estudo que acompanhou quase 90 mil mulheres nos Estados Unidos, mostrou claramente a importância da religiosidade entre aquelas que frequentam grupos religiosos semanalmente. Mosqueiro salientou a importância de abordar a R/E com os pacientes e integrá-la na prática clínica, porque eles querem muito falar sobre isso.

“E nós, como profissionais, precisamos estar capacitados para conversar, centrados no paciente e no que ele traz de crença. Precisamos aprender como trazer isso para a nossa prática clínica, sem precisar escolher entre o tratamento convencional e religiosidade, mas abordar junto com outros fatores importantes na vida da pessoa”, explicou.

Tendência

Para Alexander Moreira-Almeida, que também é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, esta é uma tendência veio para ficar, superando visões muito limitadas e parciais do ser humano. Ele lembrou que, no passado, viveu-se uma época em que se salientavam visões psíquicas do paciente, a parte psicanalítica ou psicológica. Depois, deu-se ênfase ao aspecto biológico, de medicações, enquanto outro grupo destacava a visão de estruturas sociais. Todos os grupos estão parcialmente corretos, por apontarem aspectos importantes, mas também errados porque querem “generalizar a partir de uma única ótica”, ressaltou.

O que a WPA e a ABP defendem é uma abordagem biopsicosocioespiritual, que enxergue todas as dimensões do ser humano. “Na verdade, eu escolho o meu paciente. E, nesse paciente, vou lidar com o aspecto biológico, físico, vou saber usar a medicação, a atividade física, o uso de drogas. No aspecto psíquico, como ele está vendo o mundo, a si mesmo, suas dificuldades. No aspecto social, o ambiente onde ele convive, buscar situações mais produtivas. E, por fim, a sua própria espiritualidade, em conjunto com tudo isso”, explicou o psiquiatra.

Moreira-Almeida informou que foi publicada recentemente uma revisão de psicoterapias que incluíam a espiritualidade para tratar problemas psiquiátricos.

Caso faça parte do contexto espiritual do paciente, uma ideia é incentivar que ele frequente, pelo menos uma vez por semana, um grupo de sua religião, faça um trabalho voluntário, tenha uma prática regular diária de oração, meditação e que reflita sobre os problemas do mundo a partir também de sua perspectiva espiritual. “Vou usar a capacidade de recuperação e correção de equívocos, arrependimentos pesados que aconteceram no passado, autoperdão, superação. Tudo isso pode ser usado de modo saudável, visando à recuperação do paciente. Isso tem crescido cada vez mais nas áreas de medicina”, disse o psiquiatra.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou uma diretriz de prevenção cardiovascular com uma seção de espiritualidade. Alexander Moreira-Almeida destacou que a existência de milhares de estudos sobre o tema não deixa dúvida de que é um movimento não tem volta.

Na opinião do especialista, isso se aplica sobretudo no caso da covid-19, cujos efeitos sobre a saúde mental ainda vão se manifestar por algum tempo. No início do confinamento, uma das respostas mais frequentes da população sobre o que mais queria voltar a fazer era voltar logo à sua comunidade religiosa. “A covid lembrou também às pessoas a fragilidade humana, a falta de controle sobre os acontecimentos. E isso tem muito a ver com a busca espiritual.”

Embora ainda não haja estudos conclusivos sobre isso, Moreira-Almeida citou o trabalho de um grupo de pesquisa que investigou mais de 1.600 pessoas durante a pandemia, para ver como a espiritualidade as influenciou, levou a reflexões sobre a existência, sobre a vida. Para muitas pessoas, foi um redescobrir de três coisas: não estou no controle absoluto de tudo; há necessidade dos vínculos familiares e humanos e da própria espiritualidade. “Foram três buscas de crescimento com a adversidade.”

Universitários

Bruno Paz Mosqueiro enfatizou que o tema da R/E tem crescido no meio universitário. Por isso, a comissão se preocupa em trazer para os congressos da ABP mesas-redondas, cursos e palestras sobre o assunto. “Queremos trazer isso para o estudo dos profissionais e também para a população em geral”, afirmou Mosqueiro, lembrando que muitos pacientes ficam satisfeitos ao conversar sobre isso com os psiquiatras. “Muitos relatam que aumenta a satisfação no tratamento, e há pesquisas que mostram isso.”

Já Moreira-Almeida destacou que, entre os estudantes de medicina, existe uma grande abertura para o tema da R/E. Segundo ele, na maioria das universidades, são os estudantes que puxam o tema com as ligas acadêmicas de religiosidade e espiritualidade em todo o país. “Tem tido uma recepção muito positiva”. A comissão da ABP tem parceria com a Liga Nacional dos estudantes, informou o médico.

Confirmação

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, disse à Agência Brasil que estudos recentes confirmam a relevância da abordagem sobre religiosidade e espiritualidade no tratamento de transtornos mentais, incluindo publicações e editoriais em revistas científicas de grande impacto.

“Trata-se de tema de grande prevalência na população geral. A maior parte dos pacientes demonstra vontade de abordá-lo nos atendimentos em saúde, e dados consistentes reforçam um fator geral predominante protetor da R/E dos pacientes para saúde mental, particularmente nos transtornos depressivos, de humor, transtornos por uso de substâncias e na prevenção ao suicídio”, indicou Silva.

*A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria

Edição: Nádia Franco

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