Arquivos Por Vasconcelo Quadros da Agência Pública - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/por-vasconcelo-quadros-da-agencia-publica/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 05 Jul 2022 16:38:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Fazendeira e ruralista, Simone Tebet perde aliados no MS ao se afastar do bolsonarismo https://canalmynews.com.br/politica/fazendeira-e-ruralista-simone-tebet-perde-aliados-no-ms-ao-se-afastar-do-bolsonarismo/ Tue, 05 Jul 2022 16:38:46 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=31173 Proprietária em região de conflito com os Guarani-Kaiowá, senadora já defendeu indenizações em dinheiro para fazendas em áreas indígenas e suspensão de demarcações.

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selo agência pública

Simone Tebet não herdou apenas o legado político do pai, o ex-ministro e ex-presidente do Senado Ramez Tebet. Falecido em 2006, Tebet deixou aos quatro filhos uma fortuna em imóveis no Mato Grosso do Sul, entre os quais estão três fazendas, uma em Três Lagoas, outra em Fátima do Sul e uma terceira em Caarapó, a Santo Antônio da Matinha, de 860 hectares, no extremo sul do estado, registrada entre os bens da senadora pelo modesto valor de R$ 457 mil. Segundo o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), o imóvel faz parte de uma grande extensão de terras reivindicadas pelos índios Guarani-Kaiowá, a Tekoha Pincorock, na Terra Indígena (TI) Amambaipeguá, em Caarapó. A portaria que daria início à demarcação e à homologação, elaborada pela Funai, foi publicada no final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, mas engavetada nos governos posteriores. Na área estão cerca de 80 fazendas cuja posse é questionada pelos indígenas.

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As terras da senadora integram o circuito dos históricos conflitos entre ruralistas e indígenas, que no dia 24 de junho passado, em Amambai, no sul do estado, resultaram na morte de Vito Fernandes, de 42 anos, e outros oito feridos, por uma tropa de choque da Polícia Militar (PM) do Mato Grosso do Sul, numa operação legalmente questionável, já que a atribuição de atuar em conflitos envolvendo indígenas é da Polícia Federal (PF). Caarapó foi palco também de outros ataques: um deles, em junho de 2016, na fazenda Yvu, que fica na mesma área das terras de Simone Tebet, onde um grupo de fazendeiros, ocupando mais de 40 caminhonetes, disparou contra indígenas, matando um deles, Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, e deixando outros oito feridos.

Como senadora, Simone também se colocou contra as reivindicações dos Guarani-Kaiowá. Uma publicação do Cimi, de setembro de 2018, lista Simone Tebet entre os 50 parlamentares, 10 senadores e 40 deputados, que mais atuaram contra os direitos indígenas no Parlamento. O destaque é para o Projeto de Lei 494/15, apresentado ao Senado, que visa alterar a Lei nº 6.001/73, o Estatuto do Índio, com o objetivo de interromper qualquer ato de demarcação em “caso de turbação, esbulho ou ocupação motivada por conflitos” nos dois seguintes anos à sua desocupação. Segundo a publicação, ela apoia também a PEC 45/13, que altera o artigo 231 da Constituição Federal, para vedar a demarcação de terras indígenas em áreas tradicionais. Simone Tebet já defendeu o cumprimento imediato das reintegrações de posse de áreas que ainda não têm estudos antropológicos e a indenização em dinheiro (e não em títulos da dívida agrária) sobre benfeitorias e também sobre a terra nua, item nunca considerado pelo governo nos casos de desapropriações em terras indígenas.

Desde que se consolidou candidata, a senadora procura passar uma imagem mais “ambientalista”, numa estratégia que tem rendido mais dissabores do que resultado. Há poucos dias, sua assessoria foi bloqueada pela Wikipédia, ao tentar mexer em seu perfil, acrescentando trechos sobre suas propostas. A mesma tentativa teria sido feita com o Cimi, onde, segundo a entidade, assessores dela pediram, sem sucesso, que seu nome fosse retirado da publicação em que é citada entre os parlamentares contrários aos direitos indígenas.

O problema é que o histórico de vida pública inclui a senadora no grupo que defende e mais se beneficia do ruralismo. O levantamento do Cimi sobre as doações que a então candidata ao Senado recebeu em 2014 aponta, com base na lista do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, de um total de R$ 3.239.893,61 recebidos para a campanha ao Senado, R$ 2.840.000,00 são originários dos grupos ligados ao agronegócio que ela defende. Segundo registrado na página de doadores do TSE, as maiores contribuições foram da JBS (R$ 1.720,000,00), Iaco Agrícola (R$ 700 mil), Rio Claro Agroindustrial (R$ 300 mil), Usina Eldorado (R$ 70 mil), Construtora J. Gabriel (R$ 70 mil) e Copersucar (R$ 50 mil).

Marido da senadora, o deputado licenciado Eduardo Rocha, atual secretário de Governo do Mato Grosso do Sul, levado à política por ela, também fez investidas contra o indigenismo. No exercício do mandato, ele foi um dos principais estimuladores da CPI do Cimi, investigação parlamentar aberta em 2015 na Assembleia Legislativa do estado para criminalizar a atuação das entidades que amparam a causa indígena, sob a acusação, nunca comprovada, de que eram as ONGs que organizavam as invasões. A CPI se transformou numa escancarada defesa dos latifundiários que ocupam áreas de conflito reivindicada pelos indígenas e acabou arquivada.

Aos 52 anos, advogada formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com especialização na PUC de São Paulo, professora de direito, ruralista, prefeita por dois mandados em Três Lagoas, Simone tem uma trajetória parecida com a do pai, que também iniciou a vida pública como prefeito de Três Lagoas, berço do clã. Ambos foram deputados estaduais e vice-governadores e se elegeram para o Senado pelo MDB, sem nunca terem disputado eleição para a Câmara dos Deputados.

Uma pesquisa da advogada e geógrafa Luciene Maria da Silva, divulgada em abril na revista Campo e Território, em um artigo escrito em parceria com o professor e pesquisador Thiago Araújo dos Santos, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), situa a senadora e seu pai como uma das três oligarquias políticas tradicionais do estado. Segundo o estudo, esse seleto grupo há décadas articula a atuação legislativa no Senado com demandas agrárias para garantir o controle privado das terras públicas à elite rural, base dos conflitos que pipocam no estado envolvendo fazendeiros contra indígenas e camponeses.

“Simone se pronuncia pelo direito, tentando imprimir um caráter de ruralista moderna, mas defende no Senado a elite rural e seus próprios interesses”, disse Luciene à Pública. Ela afirma que, assim como a filha, Ramez Tebet nunca declarou a condição de proprietário rural, mas, na lista de bens informados ao TSE na última eleição de que participou, informou ser dono de dez propriedades rurais. Os dois, segundo ela, sempre atuaram no comando de comissões do Senado por onde passam decisões fundiárias, como a de Assuntos Econômicos, Agricultura e Reforma Agrária, e de Constituição, Justiça e Cidadania, que chegou a ser presidida por Simone.

Filiada ao PT, Luciene chegou a ser sondada para sair candidata a prefeita de Três Lagoas e foi candidata a vice ao governo em 2018. Sua dissertação de mestrado, aprovada, incluiu as famílias Coelho e Corrêa da Costa, esta última berço da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP). Segundo afirma, são “três oligarquias políticas tradicionais do estado, que combinam, de modo orgânico, ativa atuação no Senado Federal com imbricação relacionada à terra e aos conflitos territoriais envolvendo camponeses e indígenas”.

Perda de prestígio no estado

Até a metade do mandato de Bolsonaro, Simone votou com o governo em 86% das matérias que tramitaram no Senado, apoiando inclusive o projeto que estendeu porte e posse de armas em todo o perímetro das propriedades rurais. A senadora só se afastou do governo quando assumiu uma das vagas femininas na CPI da Covid, onde teve seus melhores momentos ao arrancar do deputado Luiz Miranda (Republicanos-DF) a revelação de que era o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (DEM-PR), a quem Bolsonaro se referia como suposto envolvido em suspeitas negociatas sobre a compra da vacina Covaxin.

Simone ganhou visibilidade na CPI da Covid, mas perdeu prestígio entre os grupos políticos que dominam o estado e enfrenta reação do ruralismo conservador, do qual ela faz parte, mas que hoje é fiel ao presidente Jair Bolsonaro. “Por causa das posições dela na CPI da Covid, entre os bolsonaristas não terá um voto sequer. Cada um tem que colher o que plantou”, disse à Pública o deputado estadual Capitão Contar (PRTB), ex-capitão do Exército, pré-candidato ao governo e a nova cara da direita bolsonarista no estado.

A desenvoltura de Simone na CPI coincidiu com a eleição do deputado Baleia Rossi (SP) para a presidência do MDB, que prometeu que a legenda disputaria as eleições presidenciais deste ano com candidatura própria. Depois de ter convencido a própria senadora, Baleia foi um dos principais articuladores dos prometidos apoios do PSDB e do Cidadania, que devem sustentar o senador Tasso Jereissati (CE) como companheiro de chapa da emedebista.

Para ele, o grande desafio da senadora é tornar-se mais conhecida, tarefa que o partido começou a desempenhar com as inserções eleitorais nos programas de rádio e TV. “A candidatura da Simone Tebet ajuda a valorizar o que o MDB tem de melhor, que é a defesa da democracia, da diversidade, do equilíbrio e da justiça social”, afirma o presidente da legenda.

Ao decidir-se pelo nome de Simone, o maior ganho do MDB foi evitar que o partido caísse na tentação de apoiar a candidatura de Bolsonaro, abrindo caminho para uma composição formal com Lula num eventual segundo turno. A senadora sabe, no entanto, que, a não ser por algum evento ainda não prospectado pelos institutos de pesquisa, se não ultrapassar o candidato do PDT, Ciro Gomes, e ameaçar a polarização entre Lula e Bolsonaro, está pondo em risco sua carreira política.

No Mato Grosso do Sul, ela não tem a garantia nem do partido. Seu marido, Eduardo Rocha, também do MDB, pediu licença do mandato de deputado estadual para tornar-se homem forte e um dos principais operadores políticos do governo do tucano Reinaldo Azambuja, adversário histórico do MDB local, em franco namoro com Bolsonaro e alvo de críticas das entidades indigenistas pelas ações da PM contra os Guarani-Kaiowá em Amambai em apoio a ruralistas.

Azambuja quer fazer seu sucessor o secretário de Infraestrutura de seu governo, Eduardo Riedel, biólogo, zootecnista e, como todos os políticos bem-sucedidos no estado, um fazendeiro que já declarou seu apoio à candidatura da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) ao Senado e a Bolsonaro. Os tucanos do Mato Grosso do Sul devem migrar em bloco para a campanha de Bolsonaro, e a senadora Simone Tebet não tem apoio de nenhum dos candidatos a governador mais bem colocados, nem mesmo do ex-governador André Puccinelli, do MDB, que, conforme as pesquisas eleitorais, lidera a disputa.

Puccinelli é cria do pai de Simone, o ex-ministro e ex-presidente do Congresso Ramez Tebet. Já no leito de morte em 2006, o então senador chamou Puccinelli à sua casa e fez a ele um dos últimos apelos em vida: que o então governador amparasse Simone, cuidando da carreira política da filha, que, então no primeiro mandato como prefeita de Três Lagoas, base do clã Tebet, ainda engatinhava na política. “A versão que procede é a de que o Ramez no leito da morte, com ela presente, pediu que Simone se tornasse minha filha política e me obedecesse”, corrige Puccinelli, rindo sobre a rebeldia da então pupila.

Nas eleições de 2010, a tiracolo de André Puccinelli, Simone elegeu-se vice-governadora e, em 2014, conquistou uma das vagas ao Senado. A relação entre os dois estremeceu irremediavelmente em 2018, quando Puccinelli, alvo de dezenas de processos por corrupção, foi preso pela segunda vez pela PF. Desgastado, ele implorou, sem sucesso, para que Simone saísse candidata ao governo. Simone deu às costas, permitindo que o tucano Reinaldo Azambuja se reelegesse e, ao longo do segundo mandato, cooptasse deputados estaduais do MDB em troca de cargos em seu governo, entre os quais está justamente o marido de Simone.

A vingança não tardou. Hoje líder nas pesquisas, Puccinelli não reconhece a afilhada como candidata. “Será que ela será mesmo candidata? Vou aguardar as definições no quadro nacional para tomar uma decisão a posteriori”, desconversa Puccinelli, que toca sua campanha sozinho, com a ala emedebista fiel ao seu lado, mas liberando os correligionários para votar em quem quiserem para presidente desde que, é claro, não deixem de fazer campanha para ele.

Na polarizada disputa entre Bolsonaro e Lula, a metralhadora da senadora tem disparado também contra este último, dando eco à Operação Lava Jato, responsabilizando o PT pela corrupção que, no caso da Petrobras, apanhou também líderes de seu próprio partido, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-deputado Geddel Vieira Lima, o político que guardava a bagatela de R$ 51 milhões num apartamento em Salvador.

Como prefeita de Três Lagoas entre 2005 e 2010, ela chegou a responder por crime de responsabilidade, acusada em dois inquéritos originários de levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU) sob suspeitas de fraudes em licitações para beneficiar uma empresa, a Anfer Construções e Comércio, em concorrência por obras de revitalização de um balneário da cidade bancadas com recursos federais. Ela foi acusada de desvio de dinheiro supostamente usado em campanha eleitoral. Eleita senadora, com foro privilegiado, os casos foram parar no Supremo Tribunal Federal (STF), onde acabaram arquivados por prescrição, quando o processo é encerrado por extrapolação do prazo de tramitação, mas sem entrar no mérito das acusações.

Outro lado

A Pública pediu diversas vezes entrevistas à senadora e chegou a encaminhar uma relação de perguntas sobre as questões abordadas, mas, apesar do prazo de três dias, até o fechamento desta reportagem, sua assessoria não respondeu.

Em entrevistas concedidas recentemente, a candidata diz ter convicção de que melhorará seu desempenho nos próximos 90 dias e estará no segundo turno. No MDB, fontes ouvidas pela Pública avaliam que o desafio de Simone é difícil, mas acham que ela crescerá e acumulará capital político para negociar seu apoio num eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Nesse caso, embora tenha estado próxima a Bolsonaro no início do governo, a tendência seria superar as mágoas contra o PT. Na entrevista à jornalista Renata Lo Prete, do podcast O Assunto, no G1, em 20 de junho passado, ela deixou a porta entreaberta ao responder sobre seu destino caso não chegue ao segundo turno: “Vou estar no palanque defendendo a democracia e propostas”, disse ela, depois de considerar que os sucessivos ataques do presidente ao sistema eleitoral é uma tentativa de fragilizar a democracia. “Quem quiser o apoio da coligação vai negociar com a Simone, e não com os partidos”, disse à Pública uma fonte do MDB, sugerindo que, caso se alie ao vencedor, a candidata pode “cair para cima”, se cacifando, eventualmente, para um alto cargo federal.

“Aqui a Simone nem se reelegeria. A vaga do bolsonarismo é da Tereza Cristina, a queridinha do agronegócio”, diz o jornalista e publicitário Henrique de Medeiros, presidente da Academia de Letras do Mato Grosso do Sul, provável candidato do PV ao Senado.

 

*Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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PSB e PT monitoram extremistas de direita durante eleições https://canalmynews.com.br/politica/psb-e-pt-monitoram-extremistas-de-direita-durante-eleicoes/ Fri, 27 May 2022 16:44:54 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=28702 Grupos de inspiração paramilitar, CACs e neonazistas estão no radar do PSB e PT, além de outros partidos que apoiam a candidatura de Lula.

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A radicalização do presidente Jair Bolsonaro e de seus seguidores, com ameaças à democracia, ao Judiciário e apelo ao armamento da população gerou uma ferramenta inimaginável nas bases do PT e PSB antes do avanço da extrema direita: a organização de núcleos profissionais de segurança e inteligência para enfrentar os grupos paramilitares que, a seis meses da eleição, se movimentam à luz do dia. Ouvidos pela Agência Pública, os responsáveis por esses núcleos afirmam que a principal tarefa agora é esquadrinhar, identificar e monitorar os diferentes grupos de inspiração paramilitar que, sem segredos, o presidente afaga.

Coordenador nacional do núcleo antifascista criado pelo PT, o vereador de Porto Alegre Leonel Radde, policial civil e alvo constante dos extremistas – ele contabiliza um média de duas ameaças por semana-, acredita que os chamados CACs – caçadores, atiradores e colecionadores de armas – representam o maior risco de violência eleitoral.

Segundo ele, boa parte dos 600 mil CACs são eleitores de Bolsonaro que, favorecidos por decretos do governo federal, têm capacidade individual para comprar até 60 armas de diferentes calibres. Radde afirma que, como mostram casos já levantados por especialistas de segurança e pela polícia, parte das armas compradas com esses registros pode estar sendo revendida de forma ilegal para milicianos, traficantes, neonazistas, fascistas e outros criminosos.

Um levantamento feito pelo vereador aponta mais de 500 células no país formadas por ativistas de extrema direita que representam algum risco de se envolver em atos de violência. Cada célula, segundo ele, é formada por um número que varia de cinco a dez pessoas, todas elas com forte interação pelas redes sociais. No Rio Grande do Sul, o vereador contou 40 células. Há também nesse grupo CACs, motoqueiros alinhados a Bolsonaro, pessoas com distúrbios mentais, os chamados lobos solitários, e misóginos, como os “incel” (celibatários involuntários).

Segurança de Lula preocupa militantes e especialistas. Foto: Maria do Rosário (Flickr)

“É gente empoderada pelo discurso bolsonarista e disposta a qualquer coisa. Vai se encaminhando cada vez mais para atuações extremistas”, afirma o vereador gaúcho que, pela experiência de policial e pela leitura de ameaças frequentes difundidas na rede, se diz preocupado com a segurança de Lula, principalmente no Sul e Sudeste do país.  Em 2018, os ônibus da caravana de Lula foram bloqueados no Rio Grande do Sul e depois alvejados a tiros no Paraná, um mês antes de o petista ter a prisão decretada pelo ex-juiz Sérgio Moro.

No último dia 6 de maio, a dispersão de manifestantes bolsonaristas que cercaram o carro de Lula na saída de um condomínio, em Campinas, revelou que o pré-candidato do PT já reforçou sua segurança, da qual fazem parte agentes do Exército lotados no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), prerrogativa que ele tem como ex-presidente.

Segundo o vereador, o crescimento de grupos neonazistas é registrado em todo o país, mas tem mais densidade no interior de São Paulo e, em especial, nos Estados do Sul. No Rio Grande do Sul, segundo Radde, há denúncias de proliferação de clubes de motoqueiros que fazem clara apologia ao nazismo.

A avaliação do coordenador do núcleo de segurança petista é similar àquela do PSB, aliado ao partido de Lula, ao qual pertence o ex-governador Geraldo Alckmin.“Não estamos num jogo político. Estamos numa guerra política. O Bolsonaro sabe que se perder, com a esquerda no poder, vai direto para a cadeia. É isso que o preocupa”, afirma o veterano militante de esquerda Acilino Ribeiro, secretário nacional do Movimento Popular Socialista (MPS) do PSB, ao qual está vinculada a Coordenação Executiva de Relações Internacionais e Inteligência Partidária, que monitora os radicais de direita ligados a Bolsonaro e as ações do governo contra movimentos sociais.

Ex-militante do PCB e do MR-8, Ribeiro foi preso duas vezes durante a ditadura. Nos últimos anos tem se dedicado a estruturar um serviço de inteligência de esquerda, que ele chama de Rede Nacional de Inteligência Cidadã (RENIC). “Não há nada de ilegal. Como o estado está lá vigiando a sociedade, nós temos mais direito de fiscalizar o estado e agentes públicos. A RENIC vigia a Abin, mas a Abin também vigia a RENIC”, diz Acilino.

O trabalho de inteligência desse núcleo aponta que os diversos grupos paramilitares que gravitam em torno do presidente somam cerca de 100 mil militantes, dos quais, pelo menos dez mil podem ser considerados como linha de frente, ou seja, milicianos, ex-policiais ou paramilitares que se apresentam como CACs e militares da reserva saudosistas da ditadura.

Para núcleos de inteligência, seguidores de Bolsonaro não aceitariam derrota. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom (Agência Brasil)

“Dez mil é uma conta empírica que faço com base na liberação da venda de armas e de balas. É gente capaz de fazer uma luta armada pela direita. A junção desses grupos, que foram se aglutinando em torno da figura de Bolsonaro, estão moldando um estado policial miliciano”, afirmou Acilino Ribeiro.

Parte dos saudosistas da ditadura aos quais se refere o dirigente do PSB, são oficiais generais que já vestiram o pijama e hoje se entrincheiram nos clubes do Exército, Marinha e Aeronáutica cujos dirigentes assinaram nota em que consideram o julgamento do deputado Daniel Silveira “inconstitucional e imoral”, e elogiaram o decreto de perdão editado por Bolsonaro como decisão que “restabeleceu o estado de direito”.

Acilino Ribeiro não tem dúvidas de que apoiadores de Bolsonaro, com apoio velado de militares da ativa, estão se organizando para criar conflitos caso Bolsonaro seja derrotado. “Eles estão preparando isso”, afirma. “O Bolsonaro vai colocar as Forças Armadas numa encruzilhada e chamá-los para uma guerra civil, para tentar dar o golpe”, prevê.

Segundo ele, o grupo bolsonarista mais perigoso é o dos milicianos urbanos e rurais. “São pessoas extremamente violentas, que estavam atrás de um mito que lhes desse respaldo na busca de um estado autoritário, pois sabem que não sobrevivem na democracia”, cutuca Acilino Ribeiro.

Um dos dirigentes do Movimento Policiais Antifascismo (MPAF), o policial potiguar Pedro Chê também avalia que o presidente Bolsonaro aposta no caos e diz que os grupos que o cercam “têm os meios” para deflagrar um conflito. Chê alerta que, originários de bases sociais autoritárias e golpistas, os bolsonaristas não podem ser ignorados pela ameaça que representam. Esses militantes de direita, diz o policial, já criaram base suficientemente forte para gerar conflitos.

“A questão é em que momento isso pode acontecer. É uma galera que anda na esteira de Bolsonaro, alimenta ideias autoritárias e sonha em poder participar de um conflito. Estão comprando muita arma e se passando por colecionador ou atirador, num nível de armamento jamais visto e em alta proliferação”, diz o policial.

CACs, favorecidos por decretos do governo federal, têm capacidade individual para comprar até 60 armas de diferentes calibres. Foto: Marcos Corrêa (PR)

O dado mais alarmante sobre a corrida armamentista estimulada pelos decretos editados por Bolsonaro foi revelado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em levantamento no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal: de 637.972 registros existentes até 2017, o número de armas no final de 2020 saltou para 1.279.491, um espetacular aumento de 100%. Segundo o Exército, o número de CACs, que era 225 mil em 2019, também dobrou em 2020, chegando a 496 mil. No Distrito Federal, houve uma explosão no registro de novas armas, saltando de 35.693 até 2017 para 236.296 em 2020, aumento de 562%. No total o número de armas em poder da população atualmente chega a 2.077.126, o que significa uma para cada 100 pessoas. Especialistas criticam a falta de controle sobre o destino desse arsenal.

Pelas informações e análises que circulam no meio policial, segundo Pedro Chê, militares podem até manifestar simpatia a Bolsonaro, mas dificilmente apoiariam ações fora da lei. “O Exército trabalha com a conjuntura internacional e sabe que não tem amparo dos Estados Unidos para uma aventura golpista. Os militares têm projeto de poder, espaço no governo e, com muito a perder, não se arriscariam a se desvincular do governo. Uma aventura tragaria os militares, especialmente o alto oficialato que está no poder”, afirma Pedro Chê, se referindo ao avanço da presença militar no poder. Dados do Ministérios da Defesa e da Economia mostram que os generais controlam mais de 3 mil cargos de confiança, 8.450 vagas temporárias, oito dos 22 ministérios, 16 estatais e 61% das empresas de administração direta ou indireta da União.

Com tamanha presença no poder, ele acha que os militares da ativa não tomariam a iniciativa de se envolver por avaliar que, em caso de derrota da pretensão golpista de Bolsonaro, perderiam o que já conquistaram e ainda abririam espaço para que um governo de esquerda faça uma reforma que os afaste do governo e da política. Chê acha, no entanto, que a expectativa de Bolsonaro é criar caos para mais tarde tentar atrair os militares para uma intervenção.

O vereador Leonel Radde concorda: “A tentativa de golpe virá pelos grupos civis que cercam Bolsonaro. Forças legais podem até dar suporte, mas não de forma frontal”, afirma o petista. Segundo ele, há um claro movimento dos grupos bolsonaristas no sentido de forjar uma luta armada pela direita. Pedro Chê afirma que o núcleo central do bolsonarismo é extremamente perigoso e cita parte dos colecionadores e atiradores da rede privada, onde há “gente mal intencionada e mais perigosa, alguns desempregados, que não tem muito a perder”. Ele também lembra o apoio dos policiais a Bolsonaro, especialmente da PM.

“São forças que podem até subverter a ordem estatal. Bolsonaro tentou isso no 7 de setembro (2021) e já havia estimulado o motim da PM no Ceará, no episódio em que o Cid (senador Cid Gomes) passou com o trator”, afirma o dirigente antifascista, para quem, se chegar ao poder a esquerda deve se preocupar com uma reforma profunda nas instituições de segurança. “A esquerda tem de cuidar disso. É uma granada amarrada num barbante. Pode ser com Bolsonaro ou outro”, adverte.

Com o trabalho preventivo de inteligência, Acilino Ribeiro, Leonel Radde e Pedro Chê pretendem, através dos partidos, alertar às autoridades competentes sobre riscos concretos. Para eles, a extrema direita se movimenta para atacar o STF e TSE, como ficou claro com a concessão de perdão de Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, indicando que não aceitaria outro resultado que não seja a reeleição do presidente. Por essa tese, se farejar a derrota, Bolsonaro partiria para uma tentativa de ruptura. “Faremos a luta institucional e de massas contra a extrema-direita. Não aceitaremos o conflito. Vamos fortalecer as instituições da República para que elas os enfrentem”, afirma Acilino Ribeiro.

Conteúdo originalmente publicado na Agência Pública e reproduzido em parceria com o MyNews.

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