Arquivos Valdinéli Ribeiro Martins - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/valdineli-ribeiro-martins/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 08 Mar 2022 15:11:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Fundamento neopentecostal no bolsonarismo. Salomonismo de ocasião e antídoto. https://canalmynews.com.br/voce-colunista/fundamento-neopentecostal-bolsonarismo-salomonismo-de-ocasiao-e-antidoto/ Sat, 11 Sep 2021 16:10:09 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/fundamento-neopentecostal-bolsonarismo-salomonismo-de-ocasiao-e-antidoto/ Os evangélicos do tipo neopentecostal supostamente seguem por princípio os ensinamentos dos evangelistas. Mateus, Marcos, Lucas e João. Entre esses não há indicação qualquer acerca de prevalência da riqueza em relação à pobreza como distinção

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O neopentecostalismo brasileiro baseia-se na famosa teologia da prosperidade em que, na pressa pelo Paraíso, mundanizam a salvação pela riqueza. Vire-se o Sermão da Montanha (Mateus 5 – 7) ao avesso e teremos tal tipo de teologia.

Os evangélicos do tipo neopentecostal, dominante em nosso país, supostamente seguem por princípio os ensinamentos dos evangelistas. Mateus, Marcos, Lucas e João. Entre esses evangelhos não há indicação qualquer acerca de uma prevalência da riqueza em relação à pobreza como distinção moral ou de benesse divina aos seus escolhidos.

Jesus identifica a pobreza com a perfeição (Mateus 19:21) e afasta a riqueza da possibilidade de salvação (Lucas 18: 24 – 25). Esses são alguns dos trechos mais conhecidos da Bíblia e claro que os quatro superpastores do juízo final (Malafaia, Soares, Macedo e Santiago) o conhecem.

Mas por que o minimizam ou o ignoram? Por que Jesus pode até ser mais comentado, mas não é seguido. As falas de Jesus são pouco aproveitadas nos sermões desses superpastores e quando são utilizadas, são aquelas falas que se referem ao Antigo Testamento. Então… quem seguem?

Seguem O cara!

Não vou gastar nossos tempos com a teologia estrita – que nos importaria pouco – mas podemos identificar no texto bíblico outros livros em que o discurso da teologia da prosperidade é bastante defensável. O Velho Testamento. Old but Gold. Ali está o filé tribal, primitivista, grandiloquente em que a água não se torna vinho, coisa de comunistas bêbados, lá a água do Nilo vira sangue, mares se abrem, inundações mundiais, animais falantes, a criação do mundo, o pecado humano da ira é nada comparado à virtude divina da ira, Moisés, Jó, Davi, Salomão.

Pausa. Salomão, eis o homem!

O cara do neopentecostalismo é Salomão. Rei, poderoso, rico, devasso e abençoado. Escreveu poemas “gospel”, não elogiava a pobreza, fama de sábio, teve muitas, muitas, mulheres… Era o cara! Nada de jejum no deserto e o céu para os pobres. Apesar de não ser o mais referido dos personagens bíblicos é este o mais seguido.

A “imitação de Cristo” não é mais um imperativo, deve-se imitar Salomão. Assim um cristianismo pouco ou nada paulino, torna-se salomônico, quase um salomonismo. Cristo é convidado a ser um antimodelo, salvador num futuro incerto, mas não líder verdadeiro do presente. Seria então o neopentecostalismo um salomonismo de ocasião? Exagero meu. Não é.

Neopentecostalismo baseia-se em mais que Salomão e menos que no Cristianismo, por basear-se somente no Velho Testamento é no máximo um judaísmo degradado, sem os séculos de história dos judeus, sem o Talmude. Sem a reflexão e a profundidade dos protestantes históricos, o estudo e a hermenêutica dos rabinos ou o apego à pobreza dos franciscanos.

O estereótipo pré-cristão de rei é o modelo neopentecostal e não as pregações de Cristo. Assim ficamos menos perplexos ao constatar que parte aparentemente bem grande dos neopentecostais brasileiros consideram certas torturas justas, ditaduras democráticas, ditadores o grande líder tribal da pátria e que o sangue dos impuros pode ser derramado em favor da tribo dos escolhidos.

Quando o atual presidente, ao vencer as eleições do longínquo 2018, disse que o ideal seria que o Brasil voltasse a ser o que era 40 ou 50 anos atrás não foi necessário mais para identificar seu reacionarismo. O reacionarismo dos superpastores é mais radical, pois desejam muito mais.

O retorno do reacionarismo neopentecostal não é aos anos quarenta do século XX, mas talvez aos anos quarenta de algum século pré-Cristo em que Javé condenava populações por vingança (Gênesis 7). Não se pode entender o fenômeno Bolsonaro à luz pós-iluminista. É olhando pro deserto que ele fala, não como um messias, mas como um líder tosco de tribo fanática. Tanto faz o conteúdo estrito da fala, o que importa é que é ele quem fala.

Portanto, amigos, não gastemos nossos argumentos pós-modernos, contemporâneos, líquidos-baumanianos. Eles são inúteis. Os superpastores e seus rebanhos passaram a rosnar em eco à voz de Bolsonaro não por concordarem com seus argumentos, mas por amarem sua mística de líder tribal tosco, ganhando no grito, usando o patrimônio da tribo como seu, colocando os de sua família acima dos desígnios da tribo, amando a vingança e a violência como justiça, pregando castidade e escondendo a própria devassidão. Não haverá debate!

O que adianta então? Essa aura mística foi conquistada com falácias toscas e muito, mas muito ad hominem. O antídoto infelizmente é pré-iluminista, pré-cristão e até pré-escolar. Não vou prescrever o ad hominem de quinta série referindo-se à pouca virilidade que pode se supor de tão grandes compensações de gritaria e autoelogio.

O antídoto não requer grandes eloquências e complexidades de raciocínio. A solução é gritar mais alto! Nas ruas, nas redes sociais e na imprensa! Para que o presidente da Câmara nos leve a sério, para que os bozonaristas se assustem, para que o presidente recue frente e para que olhando ao nosso lado vejamos a multidão de democratas que há no Brasil.

Oitenta por cento de nós!

Outro 7 de setembro acontecerá novamente! Participaremos dele nas ruas ou mesmo sem agir e assim seremos todos culpados se nossa democracia ruir.


Quem é Valdinéli Ribeiro Martins?

Pai, graduado em Filosofia – UFPR, fotógrafo amador, aficionado por política, literatura e afins.

* As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews


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O quão fascista Bolsonaro é? Ou fascista por metonímia https://canalmynews.com.br/voce-colunista/quao-fascista-bolsonaro-e-ou-fascista-por-metonimia/ Tue, 31 Aug 2021 18:32:36 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/quao-fascista-bolsonaro-e-ou-fascista-por-metonimia/ No livro “Como funciona o fascismo”, Jason Stanley utiliza fascismo para ultranacionalismos nos quais a nação é representada por um líder autoritário e exemplifica com os confederados norte-americanos. Eis um erro de principiante no estudo da História

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As características do fascismo são conhecidas: autoritarismo reacionário pró elites econômicas, militarista, golpista, anticientífico, salvacionista, milicista, virilista aloprado e tantas outras. Se elencarmos todas as principais características, em todas ou quase pode se colocar ‘check’ ao lado na comparação com o que constatamos no movimento bolsonarista. Logo, o capitão e seus capitaneados são fascistas?

Depende. Por metonímia certamente. Chamamos todas as esponjas de aço de bombril, mesmo que Bombril, maiúsculo, seja apenas uma delas. Vamos falar em sentido estrito ou estamos num churrasco e queremos apenas “acabar” com ele? Se estivermos na segunda posição, então não há nada de errado, a metonímia serve muito bem, assim como chamar de nazista um neonazi ou de comunista um protossocialista que sonha com revolução. Afinal, é isso o que são.

Se alguém pensa e age como fascista, recebe representantes da AfD, reconhecida na Alemanha como de inclinações neonazi, se manda afagos aos autoritários do mundo e tira fotos com malucos fantasiados de Hitler ou afins, então dá para dizer que sim. É fascista. E não estaria completamente errado chamá-lo de franquista ou outro nome que o valha. Mas, e se… estivermos tentando falar de modo estrito, tentando estudar o fenômeno com suas características mínimas e compreendê-lo de tal modo que, conhecendo a doença, podemos conhecer também a cura? Aí é diferente. A afirmação é mais cuidadosa, assim como a negação é pouco assertiva.

Em seu bom, mas impreciso, livro “Como funciona o fascismo”, Jason Stanley utiliza o “rótulo” (sic) fascismo para ultranacionalismos nos quais a nação é representada na figura de um líder autoritário e, entre seus vários exemplos, fala dos confederados norte-americanos na época da Guerra da Secessão que ocorreu décadas antes do termo fascismo ser cunhado e Mussolini e Gentile e outros nascerem.

“Eis uma ideologia fascista clássica…”, escreve Stanley. Eis um erro de principiante no estudo da História, o famigerado anacronismo. A grosso modo, anacronismo é referir-se a um objeto histórico de uma época com termos próprios a outra.

Mas e se os confederados tiverem confirmadas características suficientes para, como o bolsonarismo, serem chamados de nazistas? E eles tinham essas características! Eram então nazifascistas? Não. Eram outra coisa, eram confederados. Mas como explicar que eram e não eram algo. Eram fascistas por metonímia, digamos. Ou seja, não eram, mas podem levar esse nome por imprecisão, mas estavam acometidos do mesmo mal. O que os aproxima é outra coisa, e pior, por ser subestimada. O nome dessa doença é reacionarismo.

Eu sei, reacionarismo é um termo que não desconta nossa raiva e é mais difícil de se comunicar usando termos menos populares, mas é a vida… É o custo da precisão, se a desejamos. Os fascismos são o reacionarismo constituído em um movimento. Reaças isolados não metem medo. Mas quanto mais organizado, mais próximo da imagem clássica do nazifascismo.

O movimento de rua passo a passo se organiza e se radicaliza: consegue tornar-se um partido, consegue tomar o governo, suspender as legalidades constitucionais, rasgar as instituições, perseguir adversários, torná-los inimigos objetivos da nação, expandir fronteiras, no limite talvez eliminar os que não seguem o grande líder ou que este não seleciona para viver. Mas esse é o limite chamado totalitarismo.

Voltemos ao bolsonarismo. Se o chamamos de fascista como Jason Stanley chamou os confederados estaremos
usando o diagnóstico genérico em vez do diagnóstico acurado. Fascismo existiu um, “fascismos” há muitos. Cada doença precisa de uma cura, cada doença deve ter sua designação própria. A doença é os movimentos reacionários; confederacionismos, bolsonarismos, franquismos, salazarismos, fascismos e nazismos são suas manifestações, suas variações reinventadas que não fluem necessariamente de Mussolini, fluem da inclinação política reacionária.

Uma peste! O oposto do revolucionarismo. Este quer quebrar as instituições ao meio, para supostamente levar a um progresso em muito pouco tempo. Reacionarismo quer o regresso, mas um regresso muito grande nas instituições, nos costumes, na organização do povo, e para isso ambos utilizam de artifícios parecidos de controle. O reacionarismo é a peste que, cuja ideologia (um conjunto de ideias supostamente lógico inventado a partir de poucas ideias de base) apoia-se em Deus, nação, pureza, honra, virilidade, força, hierarquia… É nesse âmbito mínimo de ideias que surge a crença de superioridade do movimento reacionário nas repúblicas modernas.

Reacionários veem a nação de modo primitivo e tribal e anseiam a purificação dos outros. Nunca encontrando na própria miscigenação sinal de impureza, somente na miscigenação alheia. Foi assim antes do fascismo, continuou sendo após sua queda. Uma coisa é a doença: o modo como as pessoas tendem a pensar politicamente de acordo com suas tendências pessoais, em parte impulsivas e em parte racionalmente aprendidas. Outra, são os sintomas que dependem do organismo, do país e da época em que se instala: o movimento político, conjunto mais ou menos coeso de pessoas em torno a ideias comuns que pode se tornar um sistema bem fundamentado de proposições ou não e ainda um grupo bem organizado de pessoas ou não.

Há uma fraqueza nesse pensamento, afinal precisamos utilizar de modo menos estrito certos termos para conseguirmos nos comunicar. Um exemplo é a palavra democracia. Surgiu numa Grécia tão antiga, que o significado era outro, dizem que até pejorativo. Quando hoje no Brasil atual falamos em democracia, falamos de outra coisa, mas a mesma palavra nos remete a coisas diferentes, ainda que próximas, sem que a gente se perca no raciocínio.

Mas ainda assim pode-se falar de modo mais preciso sobre as democracias como democracias representativas, republicanas, modernas… entre outras atualizações. Ou seja, não há regra absoluta. Pode-se usar um nome para se referir a fenômenos complexos em política, desde que se saiba que há subdivisões necessárias a serem consideradas.

Fascismo é um guarda-chuva impreciso arranjado para abarcar e nomear algo anterior e posterior a Mussolini: movimentos reacionários. Defendo que referir-se a vários movimentos políticos diferentes com o mesmo nome é ruim porque não privilegia as diferenças específicas de cada movimento e como tal dificulta o entendimento e o consequente poder de ação contrário aos autoritarismos deles resultantes.

E referir-se às tendências políticas através da História que desenvolvem vários movimentos diferentes, ainda que parecidos, é mais desejável exatamente porque privilegia a especificidade de cada evento histórico, facilitando o entendimento e a ação preventiva ou contrária aos autoritarismos, aos movimentos antidemocráticos, reacionários, primitivistas.

O bolsonarismo se aproxima mais das “democracias iliberais” da Hungria e Turquia até o momento, nunca se constituiu em partido ou em movimento coeso como no século XX, e pode descambar em uma ditadura clássica sul-americana, ou num protofascismo pseudodemocrático novo. Todas essas variações são próximas e, em geral, afora Maduro, são reacionárias e tendem a não romper claramente a democracia, mas não a deixam em paz também. Não nos deixam em paz.

E então? Depois disso tudo. A metonímia ou o senso estrito permanece? Vai! Pode me dizer: no que digo nos meus churrascos mando eu.


Quem é Valdinéli Ribeiro Martins?

Pai, graduado em Filosofia – UFPR, fotógrafo amador, aficionado por política, literatura e afins.

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