Arquivos Walmir Estima* - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/walmir-estima/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 07 Jun 2022 16:39:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Principais narrativas e distorções que estão fazendo militantes de internet reproduzirem a narrativa estatal russa https://canalmynews.com.br/voce-colunista/principais-narrativas-e-distorcoes-que-estao-fazendo-militantes-de-internet-reproduzirem-a-narrativa-estatal-russa/ Thu, 24 Mar 2022 19:28:29 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=26864 Há versões mal contadas sobre os fatos que estão acontecendo na Ucrânia durante a invasão russa ao país. Neste artigo, o pós-graduado em relações internacionais Walmir Estima discute sobre elas.

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“A Ucrânia é o país n30naz1sta?”

Existem células supremacistas na Ucrânia, mas isso não pode ser usado para definir a política, o regime político e muito menos o povo do país. Desde a guerra civil que começou em 2014, com a deposição do presidente pró-Rússia, chamada de novas eleições e anexação da Criméia pela Rússia (território ucraniano desde 1950), supremacistas ucranianos e anti-Rússia ganharam mais poder no país.

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A guerra civil é instigada por Vladmir Putin, presidente da Rússia, através de estratégias de polarização e a radicalização ocorre em ambos os lados. Os separatistas russos também formaram exércitos igualmente xenófobos e radicais – e armados pela própria Rússia, o segundo maior produtor de armas do mundo. O próprio Putin é um político supremacista de extrema direita. Os EUA alimentam guerras civis para intervir no Oriente, já a Rússia alimenta o caos na Ucrânia para ter razões de intervenção.

A guerra é o principal alimento das células supremacistas ucranianas e russas. São sua razão de ser. O supremacismo não define o governo ucraniano, mas o russo sim! O atual presidente da Ucrânia é um judeu eleito com 73% dos votos em 2019.

“O presidente da Ucrânia é autoritário, pois dissolveu o congresso no primeiro dia de governo?”

Quem compartilha esta falsa narrativa geralmente esquece de dizer o que significa “dissolver o congresso”. Falam como se isto significasse centralizar poderes no executivo.

Dissolver o parlamento em países com o regime político da Ucrânia significa simplesmente convocar novas eleições parlamentares. Zelensky foi eleito na onda internacional de políticos populistas “anti-sistema”. Uma de suas promessas de campanha era convocar eleições parlamentares (para dissolver o parlamento) assim que pudesse – é uma previsão constitucional – e assim o fez.

“A Rússia não teve opção para proteger o seu território, diante da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Ucrânia?”

A Rússia é a maior potência nuclear do mundo com 6 mil ogivas nucleares ativas. Poderia estar rodeado de países da Otan e nenhum deles seria irresponsável o suficiente para começar uma guerra com a Rússia a partir de qualquer fronteira – assim como não estão dando apoio militar à Ucrânia no momento.

Propaganda digital russa e suas influências. Foto: Reprodução (Walmir Estima)

O território russo está muito bem assegurado pelo seu poderio militar, independente de quem estivesse na fronteira. Putin não é uma “vítima das circunstâncias”. É sim um presidente expansionista. O que estaria em risco não seria o território russo e sim o regime ditatorial de Putin.

Ele é um ditador muito bem estabelecido, mas com a proximidade cultural entre Rússia e Ucrânia, esta se transformando numa “democracia europeia”, a legitimidade de Putin poderia começar a ser questionada na Rússia. E como neofascista que ele é, depende da guerra e do expansionismo para se mostrar como “líder forte”.Anexar a Ucrânia também é um plano antigo, porém se esta entrasse na União Européia (UE) e na Otan, seria impossível.

“Um golpe de Estado depôs o presidente Ucraniano em 2014?”

Alguns chamam de golpe, outros chamam de revolução, a questão é que teve protesto, teve violência, e o presidente foi deposto. Logo em seguida foram convocadas novas eleições.

A razão das pessoas terem ido para as ruas em 2014 foi que se abriu para a Ucrânia a possibilidade de entrar na União Europeia. O presidente era pró-Rússia e não acelerava as negociações. A maioria dos ucranianos queria entrar na União Européia e ter todos os direitos de migrar e trabalhar na Europa como todos os europeus.

“Os EUA querem controlar a Ucrânia para controlar o mercado europeu de gás natural?”

A dependência do gás russo é um “mal necessário” para a Europa. Países como a Alemanha parariam caso o abastecimento de gás da Rússia fosse interrompido. Por isso é normal que busquem variar o fornecimento, até porque a Rússia é um regime autoritário que não pensa duas vezes antes de mobilizar a dependência de seu gás para fins geopolíticos. Mas o gás natural não é um recurso renovável, para exportar gás é necessário ter reservas de gás e nenhum país tem reserva suficiente para substituir o fornecimento da Rússia.

“A Ucrânia não tem soberania porque está sendo influenciada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela Otan”.

Toda a controvérsia, desde 2014, começou porque os ucranianos se viram seduzidos pela possibilidade de fazer parte da União Europeia. É quase impossível ser da UE e não ser da OTAN. O atual presidente, eleito com 73% dos votos, teve como uma de suas principais pautas acelerar a entrada da Ucrânia na União Europeia. O povo ucraniano decidiu em eleições livres, com imprensa livre e oposição articulada (o que não existe na Rússia).

A Otan é expansionista sim e os EUA são imperialistas também! Mas quem decide, no fim das contas, é o povo ucraniano. Você que está aqui lendo preferiria morar em um país refém de um governo neofascista há 22 anos no poder, ou iria preferir estar no campo de influência da Europa e ter todos os direitos de um cidadão europeu? A resposta é óbvia. A soberania, no fim das contas, é do povo. O povo ucraniano quis fazer parte da UE, Putin não deixou – e isso sim é um ataque à soberania.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Walmir Estima?

Estudante de jornalismo, mestrando em Comunicação e Cultura Digital na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-graduado em relações internacionais. Seu tema de pesquisa é o uso geopolítico das redes sociais.


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Ofuscar, distorcer e polarizar: como a narrativa da propaganda digital russa atingiu militantes ocidentais em cheio https://canalmynews.com.br/voce-colunista/ofuscar-distorcer-e-polarizar-como-a-narrativa-da-propaganda-digital-russa-atingiu-militantes-ocidentais-em-cheio/ Fri, 11 Mar 2022 14:10:23 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=25232 Como a Rússia utiliza as redes sociais para disseminar uma narrativa própria sobre os conflitos do leste europeu e como isso influencia a forma que o ocidente enxerga o país russo.

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Nenhum internacionalista que se preze poderia negar que os Estados Unidos são um país imperialista, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desrespeitou o acordo informal de não se expandir ao leste europeu e que existem nacionalistas extremistas (russos e ucranianos) na Ucrânia, alimentados pela guerra civil que acontece desde 2014. Porém, raramente uma propaganda política eficiente baseia-se em falsidades nuas e cruas e o exército digital russo sabe disso muito bem.

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Nenhum internacionalista que se preze poderia negar também que Vladmir Putin, presidente da Rússia, é um político autoritário de extrema direita, comandando um regime expansionista, conservador, capitalista, oligárquico, homofóbico e sexista. E que ele comanda a maior estrutura de guerra digital de nossa era. A ação de Putin não se baseia apenas em mísseis e ameaças nucleares: a Rússia trabalha incessantemente para que a opinião pública internacional relativize suas ações criminosas – a as narrativas oficiais são espalhadas com afinco nas redes.

Tendo por base as verdades do início deste texto, um exército de boots e “soldados” controlam uma infinidade de contas falsas, escrevem em várias línguas, trabalham para distorcer os fatos, ofuscar a gravidade do que faz a Rússia e polarizar a opinião pública. O objetivo é que um dos lados desta polarização apoie ou pelo menos relativize a gravidade das ações russas. A partir disso, as narrativas tomam forma e são espalhadas organicamente.

Pelo histórico de luta anti-imperialista e anti-fascista da militância de esquerda ocidental, especialmente na América Latina, é aí onde essas narrativas encontram campo mais fértil. Pois, na grande maioria, elas baseiam-se na responsabilidade dos EUA por conflitos ao redor do mundo e na existência de células supremacistas no exército ucraniano. É a partir daí que a opinião pública é polarizada, que a ação russa é ofuscada e as pessoas começam a relativizar os crimes de Putin.

ícones de redes sociais em dispositivo eletrônico. Foto: LoboStudioHamburg (Pixabay)

Os discursos geralmente são moralistas, impregnados de ódio e de ataques à Otan e aos EUA – e na maioria das vezes possuem falsidades embutidas. Uma falsa narrativa bem feita não cria uma realidade nova, mas distorce uma realidade existente. Militantes de esquerda amam criticar os EUA (com razão) e o efeito de “bolhas” nas redes sociais os fazem trabalhar no viés de confirmação. São nessas bolhas que as distorções russas criam raízes.

“E o PT hein? E o Lula?” A retórica bolsonarista que virou meme, alimentada de antipetismo, impede-os de entrar em contato com os vários crimes cometidos por Jair. Alguém negaria que houve corrupção no governo PT? Mensalão não existiu? Lula não sabia de nada do petrolão? Mas o orçamento secreto é dez vezes mais caro e os bolsonaristas fecham os olhos e respondem a crítica com o meme.

Para quem já entendeu a comparação, provavelmente vai considerar esdrúxula, é assim que funciona a polarização. Mas já em 2018 a ativista síria Leila Al-Shami publicou um artigo chamado “O anti-imperialismo dos 1D10T4S”, denunciando que 94% das vítimas na guerra da Síria foram mortas pela aliança Russo-Iraniana que apoiavam o governo. Porém, só quando ataques da Otan e dos EUA foram noticiados, os ativistas de esquerda tomaram as ruas com cartazes “Stop the Syrian War”.

Quando a opinião pública é polarizada, a revolta é seletiva. E a estrutura de guerra digital russa sabe disso, por isso trabalha incessantemente para manter essas bolhas de esquerda alimentadas por conteúdos cada vez mais radicais anti-EUA, anti-Otan que acabam virando pró-Rússia. E também para que os discordantes se radicalizem nas próprias diferenças. E é assim que ativistas anti-imperialismo passam a funcionar como apoio da ação de uma ditadura neofascista contra um vizinho mais fraco.

Eles não precisam que ninguém apoie a invasão, apenas que ela seja relativizada por milhares de usuários nas redes. E a relativização em massa funciona como apoio. As principais distorções que compõem esses discursos servem para que a relativização vire apoio literal. O “e os EUA hein?! E a OTAN?!” se transforma em “tinha que ser feito, a Ucrânia é ne0naz1” ou “Putin não tinha alternativa” – assim é a Guerra Híbrida na era digital.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Walmir Estima?

Estudante de jornalismo, mestrando em Comunicação e Cultura Digital na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-graduado em relações internacionais. Seu tema de pesquisa é o uso geopolítico das redes sociais.


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