Arquivos Luiz Vicente Rizzo - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/luiz-vicente-rizzo/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Fri, 15 Jul 2022 13:36:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 2021: o ano das vacinas https://canalmynews.com.br/ciencia-einstein/2021-o-ano-das-vacinas/ Thu, 06 Jan 2022 16:40:29 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=22750 Com a imunização de boa parte da população, os brasileiros salvaram milhões de vidas, deram algum alívio à economia e permitiram uma volta das atividades presenciais

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Chegamos ao fim de 2021 com quase 80% da população brasileira vacinada contra a covid-19 e, mais importante ainda, quase 70% com ao menos duas doses. O brasileiro, felizmente, gosta de vacinas.

 

O resultado do mundo é bem pior, com quase 60% com uma dose e menos de 50% com as duas doses. Ao olharmos a taxa de mortalidade por grupo na Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, as pessoas não vacinadas — com sequer uma dose — morrem entre 5 a 12 vezes mais do que as vacinadas com pelo menos duas doses, dependendo do momento da pandemia nos dois países. Quanto maior for a mortalidade, maior será a disparidade entre os grupos e isto é fácil de entender: nos momentos mais críticos, o número de mortos entre indivíduos vulneráveis é diluído.

 

Muito se falou sobre estas vacinas, mas a maior parte veio de quem nada entende de vacinas, vacinação, saúde, história. Aliás, pessoas que não parecem entender de nada, mas que fazem de conta que entendem de tudo. O importante é que as vacinas salvaram milhões de vida, deram algum alívio para a economia e permitiram alguma volta das atividades presencias.

Vacina

Infelizmente, a velocidade de vacinação não foi a mesma em todos os países, seja por problemas de logística, como visto na África, ou a falta de “sei lá o quê” na Europa e nos Estados Unidos, onde sobram vacinas e cerca de 30% a 40% da população se recusa a receber os imunizantes disponíveis. Problemas de logística, e de lógica, estão permitindo que surjam as variantes — agora com a vacina como uma força evolutiva para o vírus. Se não resolvermos logo estas questões, é possível que apareçam variantes mais resistentes às vacinas. A Ômicron, por exemplo, parece ser o início de uma destas estirpes, embora, felizmente, tenha se mostrado mais benigna que as antecessoras.

 

O incrível sobre as vacinas é que elas são vítimas do próprio sucesso porque, ao serem extremamente eficientes contra doenças, como a poliomielite, e terem quase a erradicado, os pais de hoje não veem a importância em vacinar os filhos. Eles não veem pelas ruas crianças caminhando com dificuldade ou, ainda, as alas de hospitais com os “pulmões de aço” (ventilador de pressão negativa que permite a respiração de pessoas com paralisia dos músculos, sequelas da poliomielite). Eles não conseguem entender que foram as vacinas que alcançaram isto. Infelizmente, assim como vemos atualmente, a falta de percepção trará um futuro no qual estes cenários voltarão a ser realidade.

 

O mesmo acontece com o sarampo. O sucesso da vacina tirou da frente o exemplo da doença que induzia os pais à ação, e permitiu que surgisse um outro tipo de grupo: os anti-vaxxers (antivacinas). Muitos deles estão vivos por terem sido vacinados quando crianças, mas elas se apegam à exceção para defender o indefensável, ou por acharem que as vacinas são um “mal”. Por qualquer medida, número de eventos adversos, gravidade ou gravidade versus efetividade, as vacinas são a intervenção médica mais segura que conhecemos (obviamente, se não levarmos em conta os placebos que alguns propõe como intervenções médicas sem qualquer prova de que funcionam).

 

Tomemos por base a vacina de febre amarela: um evento adverso grave a cada 200 mil a dois milhões de doses. No pior número descrito — um problema a cada 200 mil doses —, o imunizante é mais de 20 vezes mais seguro que a aspirina. Essa mesma, a medicação que você toma quando está com dor de cabeça. Enquanto isso, a mortalidade da febre amarela está entre 30% a 90% dos infectados. De forma direta: algo que pode salvar a sua vida é vinte vezes mais seguro que aquilo que você toma quando está de ressaca. Falta inteligência no debate sobre as vacinas.

 

É claro que elas têm efeitos colaterais e podem causar eventos adversos graves, mas é certo também que elas são mais seguras que quase qualquer outra coisa que realmente funciona que você toma ou dá para os seus filhos.


Quem é Luiz Vicente Rizzo?

Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, Docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e Pesquisador 1A do CNPq.

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Financiar a pesquisa não é responsabilidade apenas dos governos https://canalmynews.com.br/ciencia-einstein/pesquisa-nao-e-responsabilidade-apenas-governo/ Tue, 14 Dec 2021 14:18:15 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/pesquisa-nao-e-responsabilidade-apenas-governo/ Antes de discutir quem paga o que, é premente discutir, em ciência, o papel que ela tem na sociedade e como os indivíduos podem (e devem) se envolver no entendimento desse papel

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Financiar a ciência faz parte das necessidades — e notem que eu não uso a palavra “obrigação” — de qualquer Estado. Muito se fala da importância da ciência na economia moderna, movida por inovações e não por commodities. Eu não entendo nada de economia, mas se me recordo um pouco da história, sei que faz bastante tempo que é assim. Afinal, o que agregava valor às especiarias na Índia era o transporte, já que eram bem baratas na fonte.

Mas a ciência é muito mais que o seu produto e, como demonstrado com vigor na recente pandemia, conhecer como ela funciona salva vidas, promove a economia e diferencia quem contribui de quem atrapalha.

Há, no entanto, sempre o debate sobre de onde deve vir o dinheiro para a pesquisa. Em Estados totalitários, o financiamento só pode vir do governo, e este é apenas mais um dos muitos, e egrégios, erros desses sistemas de (des)governo. Nas grandes sociedades democráticas, uma parte importante da contribuição para o custeio da ciência vem dos indivíduos e das empresas.

Qual parte cabe ao Estado?

A parcela de patrocínio de ciência que os Estados deveriam investir é difícil de acessar. É impossível estabelecer o ideal — até porque há circunstâncias que podem exigir investimentos diferentes. Quando olhamos os exemplos, há dos mais diversos, que variam de 20% a 50% do total investido, a depender de como é feito o cálculo, do país e da circunstância em questão. Obviamente, estou me referindo ao período pré-pandemia.

Parece-me que, antes de discutir quem paga o que, como e quando, é premente discutir, em ciência, o papel que ela tem na sociedade e como os indivíduos podem (e devem) se envolver no entendimento desse papel. Só assim, com a parcela vocalmente ativa da sociedade realmente entendendo o valor da ciência — e não apenas falando em termos abstratos —, será possível se mover para a discussão do financiamento e execução.

Afinal, sim, a execução de pesquisa também deve ser discutida. Em países como o Brasil, com forte estatização da execução da pesquisa, sei que corro o risco de ser apedrejado no próximo encontro com colegas pesquisadores ao sugerir que, assim como em outros setores da sociedade, o governo deve participar, mas não necessariamente no braço executivo. Mas esse é um tópico para outro momento.


Quem é Luiz Vicente Rizzo?

Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.


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O protagonismo da pesquisa brasileira durante a pandemia de COVID-19 https://canalmynews.com.br/ciencia-einstein/o-protagonismo-da-pesquisa-brasileira-durante-a-pandemia-de-covid-19/ Tue, 30 Nov 2021 19:32:59 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/o-protagonismo-da-pesquisa-brasileira-durante-a-pandemia-de-covid-19/ Apesar da excelência na condução das pesquisas, a comunidade científica brasileira precisa avançar no diálogo com a sociedade

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O Brasil está apresentando um dos piores desempenhos assistenciais em COVID-19, com uma mortalidade de aproximadamente 2,8%. É verdade que dados pouco confiáveis de países não democráticos ou com grandes populações podem nos tirar da “liderança” neste quesito. Mesmo assim, nosso resultado não é satisfatório e aponta para a necessidade de melhor treinamento dos profissionais de saúde, especialmente dos médicos.

Por outro lado, o desempenho da nossa ciência foi muito bom. Embora tenha havido um deslize ou outro, a comunidade científica brasileira participou ativamente do desenvolvimento das vacinas e foi a primeira a demonstrar de forma inequívoca a ineficiência da hidroxicloroquina e da azitromicina no combate ao SARS-CoV-2.

Também fomos um dos primeiros países a mostrar a utilidade dos corticoides na fase inflamatória da doença, bem como ajudamos na definição de protocolos para cuidar da síndrome de liberação de citocinas, um dos principais causadores de mortalidade nos pacientes acometidos pela COVID-19.

Jaqueline Góes de Jesus, cientista baiana que coordenou a equipe que sequenciou o genoma da covid-19 em apenas dois dias.
Jaqueline Góes de Jesus, cientista baiana que coordenou a equipe que sequenciou o genoma da covid-19 em apenas dois dias. Foto: Reprodução (Redes Sociais)

Faz muito tempo, talvez desde o descobrimento da Doença de Chagas, que o Brasil não tem um desempenho tão relevante e respeitado no cenário mundial de pesquisa na área de saúde. A atuação científica contra a Zika também teve destaque, mas há que se considerar que era uma epidemia no Brasil.

O fato de a pesquisa clínica nacional ter desempenhado bem não chega a ser uma surpresa. O Brasil habitualmente produz dados bastante confiáveis em grandes ensaios, sobretudo em fase III em âmbito mundial. Além disso, as taxas de recrutamento são, de forma geral, muito superiores àquelas observadas nos Estados Unidos e Europa Ocidental. A busca dos grandes patrocinadores de pesquisa por participação brasileira também é grande — e só não é maior por um conjunto de condições que nada tem a ver com a qualidade das instituições e pesquisadores daqui.

Na pandemia, também observamos uma “inversão do fluxo”, no qual centros de pesquisa brasileiros foram procurados pela indústria farmacêutica para atuarem — não apenas como participantes — mas como protagonistas de estudos clínicos. Como resultado, o país teve publicações de alto impacto lideradas por cientistas brasileiros. Vale destacar ainda que o uso de procedimentos virtuais e “descentralizados” em pesquisas clínicas representam importante legado para estudos futuros em outras áreas terapêuticas.

Pesquisa e diálogo

Precisamos entender este sucesso como uma ferramenta para alavancar mais progresso. Os processos regulatórios precisam ser agilizados e emprestar segurança para a pesquisa — que já é uma atividade de risco sem se adicionar nada além da incerteza do conhecimento ainda não adquirido. Aqui vale a máxima: “se só tem aqui e não é jabuticaba, não é bom”.

Não menos importante é o apoio para a atividade científica. Apoio que vem da sociedade, e não de um governo qualquer. Em países democráticos, a sociedade maior é quem decide e demanda do governo. Se os contribuintes entenderem quão importante a ciência é, os impostos que deles se arrecadam serão usados de maneira comensurável.

Soluções são necessárias, e não só em saúde, mas também na agropecuária e no meio ambiente, com as energias renováveis, por exemplo, entre outras áreas de preocupação imediata para o ser humano. E as respostas só podem vir da pesquisa. Obtivemos um aumento significativo nas doações privadas para pesquisa, mas muito disto foi obtido por esforços individuais ou por pressão do momento.

Os pesquisadores precisam estabelecer um melhor diálogo com a sociedade e, neste aspecto, a pandemia foi uma oportunidade que se perdeu. Diferente dos resultados mensuráveis da pesquisa brasileira — que contribuiu para mitigar a catástrofe sanitária mundial de COVID19 —, a comunicação de ciência com a sociedade maior repetiu o que sempre se viu.

Nos meios tradicionais de imprensa, a comunicação manteve o padrão quase que professoral e as tentativas de simplificar geralmente resultaram em maus entendidos. Sem contar no uso das mídias sociais por pessoas sem qualquer formação ou de intenções duvidosas, que ofuscou qualquer tentativa educacional.

Embora seja necessário comemorar o sucesso na condução de pesquisa de excelência, precisamos nos aperfeiçoar no diálogo. Fica a mensagem de que temos conteúdo e qualidade na pesquisa nacional, mas temos que adicionar comunicação.

 


Quem são Luiz Vicente Rizzo e Otavio Berwanger?

  • Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Docente do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
  • Otavio Berwanger, diretor da Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein.

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