Antes de discutir quem paga o que, é premente discutir, em ciência, o papel que ela tem na sociedade e como os indivíduos podem (e devem) se envolver no entendimento desse papel
por Luiz Vicente Rizzo em 14/12/21 11:15
Financiar a ciência faz parte das necessidades — e notem que eu não uso a palavra “obrigação” — de qualquer Estado. Muito se fala da importância da ciência na economia moderna, movida por inovações e não por commodities. Eu não entendo nada de economia, mas se me recordo um pouco da história, sei que faz bastante tempo que é assim. Afinal, o que agregava valor às especiarias na Índia era o transporte, já que eram bem baratas na fonte.
Mas a ciência é muito mais que o seu produto e, como demonstrado com vigor na recente pandemia, conhecer como ela funciona salva vidas, promove a economia e diferencia quem contribui de quem atrapalha.
Há, no entanto, sempre o debate sobre de onde deve vir o dinheiro para a pesquisa. Em Estados totalitários, o financiamento só pode vir do governo, e este é apenas mais um dos muitos, e egrégios, erros desses sistemas de (des)governo. Nas grandes sociedades democráticas, uma parte importante da contribuição para o custeio da ciência vem dos indivíduos e das empresas.
A parcela de patrocínio de ciência que os Estados deveriam investir é difícil de acessar. É impossível estabelecer o ideal — até porque há circunstâncias que podem exigir investimentos diferentes. Quando olhamos os exemplos, há dos mais diversos, que variam de 20% a 50% do total investido, a depender de como é feito o cálculo, do país e da circunstância em questão. Obviamente, estou me referindo ao período pré-pandemia.
Parece-me que, antes de discutir quem paga o que, como e quando, é premente discutir, em ciência, o papel que ela tem na sociedade e como os indivíduos podem (e devem) se envolver no entendimento desse papel. Só assim, com a parcela vocalmente ativa da sociedade realmente entendendo o valor da ciência — e não apenas falando em termos abstratos —, será possível se mover para a discussão do financiamento e execução.
Afinal, sim, a execução de pesquisa também deve ser discutida. Em países como o Brasil, com forte estatização da execução da pesquisa, sei que corro o risco de ser apedrejado no próximo encontro com colegas pesquisadores ao sugerir que, assim como em outros setores da sociedade, o governo deve participar, mas não necessariamente no braço executivo. Mas esse é um tópico para outro momento.
Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
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