Arquivos capitalismo - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/tag/capitalismo/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Mon, 02 Sep 2024 23:42:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Em entrevista ao MyNews, Márcia Tiburi discute a normalização do sofrimento dos mais pobres https://canalmynews.com.br/brasil/em-entrevista-ao-mynews-marcia-tiburi-discute-a-normalizacao-do-sofrimento-dos-mais-pobres/ Mon, 15 Jul 2024 18:07:29 +0000 https://localhost:8000/?p=44746 Em seu novo livro, filósofa busca entender narrativa que consagra o capitalismo como a única alternativa possível e tenta combatê-lo com esperança

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O capitalismo, nos moldes em que se está posto hoje, foi o único modelo socioeconômico que deu certo? Por que há tanta resistência em pensar em alternativas a um sistema que causa tanto sofrimento à maior parte da população mundial? Afinal, a sociedade normalizou o sofrimento? Essas são algumas das questões a que se propõe a pensar a filósofa Márcia Tiburi em seu novo livro, Mundo em disputa, lançado em abril deste ano. Em entrevista ao MyNews, ela afirma que a narrativa distópica, muito presente em filmes, séries e livros, foi normalizada na vida real, em um cenário de desesperança coletiva.

Para ilustrar sua tese, Márcia trouxe à tona, durante a entrevista, o enredo do filme Zona de interesse, lançado em 2023. O longa-metragem, dirigido pelo cineasta inglês Jonathan Glazer, gira em torno da família de um comandante de Auschwitz, o principal campo de concentração da Alemanha nazista. A família mora em uma vila residencial, com piscina, jardim florido e estufa, separada apenas por um muro alto do campo de concentração de Auschwitz.

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“O que é mostrado nesse filme pode ser equiparado à realidade das grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro”, explica Márcia. “Em São Paulo, você transita por bairros como Jardins, Vila Madalena e Higienópolis, onde vivem as elites, e se depara com inúmeras pessoas morando na rua nas piores condições. É como se não houvesse nenhum problema na coexistência das duas realidades”, acrescenta ela, em referência à “vida utópica” daqueles que disfrutam do luxo e do conforto e à “vida distópica” daqueles que vivem sem nenhuma dignidade.

A ideia de que o capitalismo e o neoliberalismo são a única alternativa possível está já muito consolidada, pois começou a ser difundida há décadas. Segundo Márcia, o discurso realmente “pegou” depois do fim da Guerra Fria, em 1991, que consagrou a vitória do capitalismo frente ao socialismo. Para romper com essa lógica, a autora propõe desmascarar as armadilhas da linguagem, reconhecer as estruturas de dominação e, acima de tudo, cultivar a esperança.

Assista abaixo à entrevista completa da filósofa Márcia Tiburi ao MyNews:

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O trabalho híbrido e o que Google tem a desensinar https://canalmynews.com.br/francisco-saboya/o-trabalho-hibrido-e-o-que-google-tem-a-desensinar/ Wed, 25 Aug 2021 17:52:01 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/o-trabalho-hibrido-e-o-que-google-tem-a-desensinar/ Ao reduzir salários, Google ressuscita o velho conflito entre capital e trabalho do século 19 nas empresas de serviços tecnologicamente avançados

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A discussão sobre a reconfiguração dos espaços de trabalho, sejam casas ou escritórios, segue acesa. O tema foi assunto da coluna passada, e volta aqui por demanda de uns poucos leitores e pela importância do assunto nesse momento de retomada econômica.

O movimento das big techs há tempos tornou-se balisa para a organização do trabalho em empresas intensivas em tecnologia. De pufes coloridos a mesas de bilhar em ambientes grafitados, tudo ali parece mais leve e sedutor para o trabalhador do conhecimento. Foram pioneiras na adoção do home office no início da pandemia, e agora surpreendem pela maneira crua como vêm articulando o retorno às atividades presenciais. Google à frente, causou surpresa a proposta de redução de salários para quem morasse em lugares cujo custo de vida médio fosse mais baixo. A escolha do local de trabalho (se escritório ou domicílio) é democraticamente compartilhada, mas haveria uma tabela de parametrização dos novos salários. 

'Sala Maracanã' no escritório do Google em São Paulo, capital.
‘Sala Maracanã’ no escritório do Google em São Paulo, capital. Foto: Guilherme T. Santos (Flickr)

A reconhecida capacidade de inovação tecnológica e criatividade na gestão de negócios das big techs só não é maior do que sua ambição. Dominar o mundo parece tudo, mas é apenas uma das facetas do propósito corporativo. A disputa narcísica pela condição de ser ‘A’ maior em qualquer coisa leva essas empresas a situações bisonhas. Desde cenas infantilizadas de dois dos maiores executivos da atualidade disputando pra ver quem brinca primeiro de gravidade zero, até propostas indecentes de redução de salários para empregados em home office.

Neste último caso, não tem nada de infantilidade (o outro também não, por trás; embora pareça, pela frente). Trata-se da busca natural pela maximização dos resultados financeiros dos negócios. É preciso estar ali nos top 10 da Forbes a qualquer custo. Faz parte da narrativa que suporta a construção de imaginários de poder e sucesso na sociedade digital. (A propósito, o formato fálico do New Shepherd de Bezzos foi mais comentado do que as propriedades aerodinâmicas do foguete em si).

Aparentemente, há um paradoxo nas estratégias de gestão de pessoas em empresas como Google. Enquanto expoentes da chamada nova economia, essas empresas são intensivas em capital humano qualificado – por definição mais criativo, questionador, autônomo e escasso. E, em tese, deveriam estar mais atentas aos riscos de fuga de talentos e às dificuldades de formação de novas equipes como consequência de medidas que não estão centradas no bem estar do trabalhador.

É fato que as grandes companhias lutam continuamente contra o engessamento e burocratização de seus mecanismos de gestão e processos decisórios. Mas nem sempre – ou quase nunca – conseguem. Uma vez no topo, suas estratégias alternam de uma posição ofensiva, de liderança tecnológica, para uma postura defensiva, de manutenção da posição de mercado. Isso ocorre trocando-se o risco da experimentação do novo pela segurança dos processos já estabilizados.

A intensidade da inovação, nesses casos, é administrada na medida justa do necessário para a garantia do desempenho superior. Nesse momento, as empresas passam a ser centradas nos resultados, e nisso Google não é diferente de outras da economia da informação, onde a disputa pela manutenção de padrões vencedores empurra o capitalismo de volta para modelos monopolistas de organização de mercados, deslocando a concorrência cada vez mais rala para o plano promissor das startups, que, exceções à parte, logo serão adquiridas pelos incumbentes supercapitalizados.

A despeito da decisão que ao final venha a tomar, a postura de Google traz onboard uma questão maior, que remete à ideia original da coluna: a opção pelo trabalho híbrido. Essa possibilidade está presente na nova política da empresa. Apenas propõe uma precificação diferente, inusitada, para o valor da força de trabalho. Por incrível que pareça, Google ressuscita o velho conflito entre capital e trabalho do século 19 nas empresas de serviços tecnologicamente avançados.

Ao reduzir salários, Google não apenas não disfarça esse propósito, como escancara o interesse de se apropriar de parte extra do esforço produtivo dos empregados (transferindo para eles o custo da estruturação e manutenção do ambiente de trabalho), ao mesmo tempo em que também se apropria integralmente da redução dos seus próprios custos. (Antigamente isso tinha nome: extração bruta de mais-valia. Mas deixa pra lá…).

A apreciação do caso Google aqui nesse pequeno espaço é menos por ele em si e suas consequências para o trabalho no universo das empresas de tecnologia do que pelos impactos nos ambientes físicos de criação de riqueza. O escritório está para a economia de serviços assim como a fábrica para a economia industrial clássica. Aí veio a pandemia, o uso intensivo de plataformas de cloud meeting, experiências de trabalho remoto em escala, novas métricas de eficiência produtiva e, sobretudo, uma nova consciência quanto a possíveis arranjos alternativos de trabalho.

Qual seria o novo locus de trabalho da economia de serviços modernos no mundo pós-pandemia? Vamos ter que voltar ao tema na próxima coluna.

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