O avanço da vacinação impõe uma retomada gradual das atividades presenciais. No entanto, modelos híbridos de trabalham conquistam influência entre os profissionais
por Francisco Saboya em 11/08/21 11:45
Agosto marcou a volta às aulas para a maior parte dos alunos das redes pública e privada. O fato dá uma sensação de retorno a algum grau de normalidade social. Os estragos do confinamento sobre a formação e equilíbrio emocional das crianças e jovens somente serão conhecidos lá na frente. Por enquanto, fica a certeza de que aqueles que não tiveram acesso às medidas mitigadoras do isolamento, como serviço de internet em banda larga, aprendizagem remota de qualidade e suporte familiar, terão muito mais dificuldades, no futuro, de inserção no mercado de trabalho. Roteiro certo para a ampliação das desigualdades sociais no país das injustiças seculares.
O mês também trouxe outras movimentações no universo produtivo. O avanço da vacinação acelerou a retomada dos negócios e as empresas, em especial do setor de serviços modernos (tecnologia da informação, serviços financeiros, comunicação, consultoria, design, arquitetura, etc), começaram a retornar ao chamado trabalho presencial. Muitas delas de um jeito diferente. E que jeito é esse?
Recuando no tempo, experiências de trabalho a partir de casa já vinham sendo vivenciadas há anos, sobretudo em empresas de tecnologia, naquelas funções I. em que havia clareza quanto às tarefas a serem executadas; II. existia boa conexão; e III. onde os mecanismos de supervisão podiam funcionar tranquilamente à distância.
Com a pandemia, o trabalho remoto (ou híbrido, quando o corona parecia dar um refresco) impôs-se como modelo. Mas nem todas atividades fluem da mesma maneira, assim como nem todas as pessoas dispõem de condições materiais e psicológicas para converterem suas casas em escritório sem perda de performance profissional e satisfação pessoal. O aprendizado de dezoito meses de experiência forçada está sendo processado de forma diferente pelas empresas.
Pelos sinais do mercado, há três grupos de abordagens. Um para o qual a dissipação dos valores organizacionais provocada pelo distanciamento social sequestra potência de negócios (são as empresas centradas na cultura). Outro para o qual a economia com locação de imóveis, infraestrutura, energia e itens assemelhados justifica eventuais perdas de eficiência produtiva (são as empresas focadas no resultado). E um terceiro grupo que procura saltar essas duas leituras, deslocando a racionalidade da decisão para a perspectiva do empregado, ao invés do empregador (são as empresas centradas no bem estar do capital humano).
Em qualquer das situações, mudou tanto a relação do empregado com a sua própria casa quanto a visão empresarial sobre os espaços tradicionais de trabalho. O mercado vem registrando forte crescimento na demanda por habitações melhores e mais bem divididas, num sinal claro de que a cultura do home office foi absorvida por parte dos trabalhadores das áreas mencionadas mais acima (segundo o SECOVI/SP, a venda de imóveis residenciais na capital paulista nos últimos 12 meses foi 38% maior do que no período anterior).
Ao mesmo tempo, a locação de edifícios para escritórios ainda não recuperou o terreno perdido na pandemia, terminando o primeiro trimestre de 2021, segundo o portal InfoMoney, com uma taxa de vacância na cidade de São Paulo de cerca de 22%, contra aproximadamente 15% verificada no primeiro trimestre de 2020. No Rio de Janeiro, a vacância vai a próximo de 32%.
Há casos emblemáticos de enxugamento de espaço físico em empresas como a XP Investimentos, Itau, Embraer, Ticket Refeições, Tim, entre outras que fizeram opção por um esquema de trabalho híbrido. Esse modelo prevalecerá no mundo pós-covid, pois é quase certo que a capacidade de influência do empregado qualificado crescerá – e, em algumas atividades, até predominará – em relação à lógica puramente financeira das empresas.
Por esta linha de raciocínio, uma fração dos empregos estará definitivamente perdida para os escritórios convencionais, pois há vagas sobrando em qualquer parte do mundo para quem fale inglês, encare o fuso horário e tenha o domínio das habilidades profissionais requeridas na nova economia de serviços sofisticados suportados por tecnologias digitais e muita inovação. Esse profissional – o trabalhador do conhecimento, especialmente os mais jovens e sem filhos – quer flexibilidade e autonomia. Pode até ir no escritório vez por outra, mas prefere mesmo um co-working perto de casa ou trabalhar na sua própria residência, onde fica mais perto do companheiro ou companheira e dos pets queridos. E longe da próxima virose.
É esse público que, no limite, determinará o futuro jeito dos escritórios.
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