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]]>Daqueles dias em diante, o problema só ganhou corpo.
Assim como a máfia italiana, no Rio de Janeiro as milícias têm atividades criminosas em vários campos do aparelho de Estado. Formada principalmente por policiais, ex-policiais e bombeiros (que têm licença para portar armas de fogo…), têm acordos espúrios com autoridades nos três poderes da República.
Quando surgiram, elas diziam combater a criminalidade, inibindo a ação de pequenos criminosos, impedindo o tráfico de drogas e começando a cobrar dos moradores uma taxa de proteção. Mas quem não pagasse, sofria retaliações. Só que, expulsos os traficantes, a milícia assumiu o comércio de drogas, pois o mercado consumidor não desapareceu com a saída dos antigos fornecedores. Em muitos casos, foi negociada a volta dos antigos traficantes, que passaram a pagar um imposto aos milicianos.
Com o tempo, estes últimos assumiram o controle de qualquer atividade que envolvesse dinheiro, proibindo a presença de concorrentes. Grilagem de terras e especulação imobiliária, com a construção e venda de imóveis, venda de botijões de gás, fornecimento de água por carros pipa ou transporte alternativo com vans, acesso à internet, entre outras. A morte de Marielle ocorreu porque sua atividade como vereadora incomodou a família Brazão, que grilava terrenos na região de Jacarepaguá.
Milicianos passaram a funcionar também como matadores de aluguel. E se tornaram mão-de-obra especializada para bicheiros que, de tempos em tempos envolvem-se em disputas armadas.
Aos interessados em conhecer com mais detalhes essa relação entre milicianos e bicheiros recomendo a série “Vale o escrito”, disponível no GloboPlay.
O controle territorial e político de um grande número de comunidades adubou a aliança entre milicianos e políticos inescrupulosos em busca de votos. Em geral, a aliança se deu com políticos de direita, mas, para surpresa de muitos, não só desses. Hoje, tal como ocorre com a máfia italiana, a milícia está em vários pontos do aparelho de Estado ou têm influência direta neles. A família Bolsonaro sempre protegeu milicianos, chegando a condecorá-los. Seus filhos tinham como assessores ex-policiais matadores, chefes de milícia.
Os irmãos Brazão foram presos pela PF, juntamente com o ex-chefe de polícia. Mas sempre se soube que eram mafiosos. Um dos irmãos Brazão é deputado federal. Outro foi eleito pela Assembleia Legislativa para o Tribunal de Contas do estado. Um deles lançou o filho, há poucos dias, pré-candidato a vereador, num ato com a presença prefeito do Rio, Eduardo Paes. Uma deputada estadual contra a qual há provas de vínculo com milícias – tinha até um codinome, “madrinha” – está sendo protegida por seus pares na Assembleia Legislativa e não teve o mandato cassado. E por aí vai.
Até recentemente uma deputada federal acusada de ligação com milícias era ministra de Lula. E, mesmo agora, depois que os Brazão estão presos, acusados de mandantes da morte de Marielle, o vice-presidente nacional do PT veio a público defender um deles, pondo em dúvida as conclusões da Polícia Federal, mesmo sem qualquer argumento consistente.
Isso tudo dá a medida da complexidade do problema, caso se queira, de fato, combater as milícias. Tudo pode ser resumido numa frase: combater as milícias exige cortar na própria carne.
Resta saber se os governos, os partidos e as demais instituições do Estado estão dispostos a fazer isso.
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]]>O post MPF diz que situação dos Yanomami foi causada por omissão do Estado apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.
]]>A conclusão está em uma nota publica divulgada pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF, que fez um relato histórico do trabalho realizado na Terra Indígena Yanomami, localizada em Roraima.
De acordo com a nota, apesar dos esforços feitos pelo órgão, as providências tomadas pelo governo foram limitadas.
“No entendimento do Ministério Público Federal a grave situação de saúde e segurança alimentar sofrida pelo povo yanomami, entre outros, resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras. Com efeito, nos últimos anos verificou-se o crescimento alarmante do número de garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami, estimado em mais de 20 mil pela Hutukara Associação Yanomami”, declarou o órgão.
A nota cita ainda ineficiência na oferta de serviços de saúde, falta de distribuição de remédios e a presença de garimpeiros na região como fatores que contribuíram para a situação.
“O Ministério Público Federal destaca também o firme compromisso da instituição de continuar atuando de forma célere e diligente, em todas as esferas e em cumprimento à sua missão constitucional para coibir as atividades ilegais de garimpo e outros ilícitos em terras indígenas, para a retirada de invasores nas Terras Indígenas Yanomami e de outros povos, como Munduruku e Kayapó, bem como para o fortalecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)”, concluiu o órgão.
Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) declarou que a situação dos povos yanomami foi denunciada pelo menos 21 vezes à Justiça. Segundo a entidade, cerca de 100 crianças morreram em 2022.
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]]>O post Financiar a pesquisa não é responsabilidade apenas dos governos apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.
]]>Mas a ciência é muito mais que o seu produto e, como demonstrado com vigor na recente pandemia, conhecer como ela funciona salva vidas, promove a economia e diferencia quem contribui de quem atrapalha.
Há, no entanto, sempre o debate sobre de onde deve vir o dinheiro para a pesquisa. Em Estados totalitários, o financiamento só pode vir do governo, e este é apenas mais um dos muitos, e egrégios, erros desses sistemas de (des)governo. Nas grandes sociedades democráticas, uma parte importante da contribuição para o custeio da ciência vem dos indivíduos e das empresas.
A parcela de patrocínio de ciência que os Estados deveriam investir é difícil de acessar. É impossível estabelecer o ideal — até porque há circunstâncias que podem exigir investimentos diferentes. Quando olhamos os exemplos, há dos mais diversos, que variam de 20% a 50% do total investido, a depender de como é feito o cálculo, do país e da circunstância em questão. Obviamente, estou me referindo ao período pré-pandemia.
Parece-me que, antes de discutir quem paga o que, como e quando, é premente discutir, em ciência, o papel que ela tem na sociedade e como os indivíduos podem (e devem) se envolver no entendimento desse papel. Só assim, com a parcela vocalmente ativa da sociedade realmente entendendo o valor da ciência — e não apenas falando em termos abstratos —, será possível se mover para a discussão do financiamento e execução.
Afinal, sim, a execução de pesquisa também deve ser discutida. Em países como o Brasil, com forte estatização da execução da pesquisa, sei que corro o risco de ser apedrejado no próximo encontro com colegas pesquisadores ao sugerir que, assim como em outros setores da sociedade, o governo deve participar, mas não necessariamente no braço executivo. Mas esse é um tópico para outro momento.
Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
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