Coluna do Alek Maracajá no site do MyNews
Nos últimos dias, o debate sobre a “adultização” de crianças e adolescentes ganhou destaque nas redes sociais e na mídia. O que poderia e deveria ser tratado como um consenso social, rapidamente foi arrastado para o ringue da polarização política. A imprensa e influenciadores de diferentes campos ideológicos buscaram enquadrar o assunto como uma bandeira de direita ou de esquerda. Mas os dados contam outra história.
A Ativaweb analisou 46.411.789 menções sobre o tema em apenas quatro dias, utilizando coleta pública via APIs oficiais das principais plataformas Facebook, Instagram, X e TikTok. O resultado foi inequívoco: 99,2% das interações tinham tom positivo, todas expressando repúdio à adultização e apoio a medidas de proteção à infância. Apenas 0,8% eram neutras ou desconectadas do núcleo da discussão. Em um ambiente digital marcado por disputas acirradas e bolhas ideológicas, esse nível de unanimidade é raríssimo.
O que os números mostram é que a “adultização” não é uma pauta de um lado ou de outro. É uma pauta Brasil. Assim como temas ligados à injustiça, crimes contra crianças e catástrofes nacionais, ela transcende a lógica partidária e mobiliza a sociedade de forma ampla e transversal. Quando um assunto desperta indignação unânime, ele pertence à esfera das políticas sociais, não ao jogo eleitoral.
O problema é que, ao tentar enquadrar o debate em narrativas de direita e esquerda, desloca-se o foco do que realmente importa: soluções concretas. A polarização transforma um consenso em disputa, divide quem já concordava e atrasa qualquer avanço. É como se estivéssemos mais preocupados em “ganhar” a narrativa do que em proteger, de fato, nossas crianças.
É urgente que líderes políticos, comunicadores e formadores de opinião aprendam a diferenciar o que é pauta política do que é pauta Brasil. Quando a sociedade inteira concorda sobre a gravidade de um problema, o papel das lideranças não é criar trincheiras, mas construir pontes. Manter o tema fora da lógica eleitoral não é ingenuidade é estratégia. É assim que transformamos indignação em políticas públicas, campanhas educativas e mudanças reais.
A discussão sobre a “adultização” é um teste para a nossa maturidade como sociedade conectada. Ou escolhemos usar as redes para somar vozes e pressionar por soluções, ou continuaremos a desperdiçar energia em disputas narrativas que, no fim, não protegem ninguém.