Coluna de Rodrigo Augusto Prando em nosso site
Não faz, ainda, uma semana que o Donald Trump, presidente norte-americano, anunciou tarifas de 50% às exportações brasileiras e as justificou ordenando a imediata interrupção do julgamento de Jair Bolsonaro que chamou de “caça às bruxas”. A questão em tela é que assistimos, para muitos, de forma inédita, uma intervenção direta dos EUA em nosso país, na Justiça e as instituições nacionais. Postura, portanto, inadmissível, sob qualquer perspectiva, seja econômica ou político-ideológico.
Tão logo o tarifaço foi anunciado, inúmeros atores políticos – a família Bolsonaro e aliados e governadores – passaram a se posicionar e as opções foram até simples: 1) defender Trump e Bolsonaro contra o Brasil ou 2) rechaçar Trump e Bolsonaro em prol dos interesses nacionais. Vejamos, doravante, alguns exemplos (com falas e ponderações) destes atores políticos e que devem ser registrados para a posteridade.
O ex-presidente, Jair Bolsonaro, após a carta de Trump a Lula, asseverou que deveria ocorrer uma ação urgente dos Poderes brasileiros. Ademais, segundo suas palavras: “A carta do presidente Donald Trump tem muito mais, ou quase tudo, a ver com valores e liberdade, do que com economia”. E completa: “Não me alegra ver sanções pessoais, ou familiares, a quem quer que seja. Não me alegra ver nossos produtores do campo ou da cidade, bem como o povo, sofrer essa tarifa de 50%”. E, mais um pouco, desnuda-se o efetivo desejo do ex-presidente: “O tempo urge, as sanções entram em vigor no dia 1º de agosto. A solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre irmãos e, com a anistia também a paz para a economia”.
Já Eduardo Bolsonaro, licenciado de sua função parlamentar e atuando nos EUA pedindo sanções ao Brasil, afirmou que o fim do tarifaço só ocorreria com a anistia aos golpistas do 8 de janeiro e, obviamente, de seu pai, Jair Bolsonaro. Além disso, condenou a conduta do Governador Tarcísio de Freitas em buscar diálogo com os EUA e disse que se sentiu desrespeitado por Tarcísio. Eduardo Bolsonaro é, no momento, investigado a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) e, muitos imaginam, que ao retornar ao Brasil pode ser preso por atrapalhar o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Nas palavras do deputado: “O problema de retornar ao Brasil não é necessariamente ser preso, minha preocupação está em fechar o único canal pelo qual Moraes se sentiu pressionado pela 1ª vez em anos: o Fator T, de Trump”.
Já o Senador Flávio Bolsonaro, em entrevista televisa, fez ponderações que, em seu entender, permitiam comparações históricas. Acompanhemos o raciocínio senatorial: “A gente vai continuar com o nosso orgulho, né? Somos brasileiros? Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que se resolve essa situação? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os Estados Unidos fizeram com o Japão? Lança uma bomba atômica e Hiroshima para demonstrar força”. E continua: “Qual foi a reação do Japão naquela época? Falou: ‘Olha, nós aqui somos patriotas; isso é uma interferência dos Estados Unidos aqui no nosso país; nós aqui vamos resistir; fora ianques’. Qual foi a consequência três dias depois? Uma segunda bomba atômica em Nagasaki para, aí, depois, sim, haver, no dia 16 de agosto de 1945, portanto duas semanas da primeira bomba, haver uma rendição formal por parte do Japão”.
Por enquanto, não temos notícias das falas e ponderações dos vereadores, também filhos de Bolsonaro, Carlos e Jair Renan. Aguardemos!
O governador Tarcísio, por sua vez, além do episódio de buscar negociar diretamente com os EUA irritando Eduardo Bolsonaro, foi, segundo publicado na mídia, até o STF pedir que liberassem o passaporte de Bolsonaro para que este pudesse ir aos EUA negociar ou suspender as tarifas vindouras. Ao que parece, os ministros do STF não concordaram com essa sofisticada ideia do governador de São Paulo… No mais, Tarcísio, no uso de suas redes sociais, aduziu que a responsabilidade da tarifa seria de Lula e não do clã Bolsonaro e, em suas palavras: “a responsabilidade é de quem governa” e, por isso, em seu entender, “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. A repercussão para o governador, ao culpar Lula, foi negativa e ele mudou o tom do discurso, clamando por união de esforços. Para muitos – analistas e jornalistas – Tarcísio foi prejudicado, pois, até o momento, buscou um equilíbrio para ser o herdeiro político do espólio eleitoral de Bolsonaro e não afrontar o STF apresentando-se como mais moderado. Até o momento, Tarcísio conseguiu a irritação dos bolsonaristas radicais, a desconfiança do STF e do eleitorado que visualiza nele uma possível superação da retórica golpista e de ataque às instituições. Ricardo Nunes, outro personagem e prefeito de São Paulo, aliado de Tarcísio e de Bolsonaro, também deu sua contribuição ao tema em voga, defendendo Bolsonaro nas eleições de 2026 e, com isso, afrontando a justiça eleitoral: “O que eu sinto como democrata é que ele [Bolsonaro] deveria disputar a eleição, para a população definir. Me parece que tirar alguém do cenário eleitoral, onde população vai ter o seu direito pleno da democracia, que é a escolha, me parece que não é o melhor caminho”.
Em relação a outros dois pretendentes aos votos bolsonaristas para a eleição presidencial de 2026, Romeu Zema e Ronaldo Caiado, governadores de Minas Gerais e Goiás, respectivamente; importante enfatizar suas visões. Para Zema, o tarifaço deveu-se à “inabilidade externa” do Governo Lula já que: “O governo [federal], além de inábil internamente, com uma gastança que provoca inflação e juros altos, se mostra inábil externamente, se aliando a quem não deveria. Está próximo de ditadores, mas prega democracia” e, completou: “O Brasil começou a afrontar seus clientes. Você não pode tratar mal quem compra seus produtos”. E, por fim, Caiado seguiu na mesma toada, culpando Lula que fez, segundo suas palavras: “o que Hugo Chávez fez na Venezuela ao afrontar gratuitamente o governo americano”. E conclui: “Com as medidas tomadas pelo governo americano, Lula e sua entourage tentam vender a tese da invasão da soberania do Brasil. Mas Lula não representa o sentimento patriótico do nosso povo, e muito menos tem credenciais para defender a soberania brasileira”.
No momento de finalização deste artigo, já há pesquisas indicando a melhora na avaliação de Lula e muito se deve aos ataques de Trump à soberania brasileira. Em que pese as ameaças, o governo brasileiro e tampouco as instituições como o STF parecem dar indicativos que se vergarão às chantagens trumpistas. Dos atores, acima indicados, sejam da família ou aliados políticos, depreende-se que, em primeiro lugar, o objetivo é salvar Bolsonaro de um julgamento em curso e que, após pedido de condenação pela PGR, se encaminha para um desfecho desfavorável ao ex-presidente; dos que se colocam como herdeiros dos votos bolsonaristas (Tarcísio, Zema, Caiado e Nunes) suas falas seguem o script da extrema direita e, não raro, são obrigados a moderar o discurso por conta das repercussões negativas de suas retóricas.
Lula se encaminha para finalizar o terceiro ano de mandato, sem uma marca positiva e sem entregas efetivas à sociedade brasileira. Sua desaprovação vinha numa curva ascendente e sua aprovação declinando. Conseguiu sair das cordas numa estratégica de polarização com os BBB (banqueiros, bilionários e Bets) e colando na imagem do Congresso (Hugo Motta e Davi Alcolumbre) de políticos inimigos do povo brasileiro após a derrota acachapante do IOF. Assim, Lula tem, de forma clara, um “inimigo” interno; agora, com Trump e Bolsonaro, ganhou o “inimigo” externo que não apenas quer interferir nas instituições nacionais, mas que, pior ainda, promoverá impactos negativos na economia do país, gerando queda do PIB e desemprego, caso as tarifas persistam. Política é assim: tudo parece indicar um caminho (Lula desgastado e até sem vontade de se candidatar se for para ser derrotado) e, por questões conjunturais e exógenas, uma guinada trazendo novos cenários para 2026.
E cada ator político é e será responsável pela posição assumida neste imbróglio: a favor ou contra o país.