Em missão complicada, aliada direta de petista ajudará em melhorias para o governo
Gleisi Hoffmann e Alexandre Padilha tomaram posse recentemente como novos ministros do governo Lula, assumindo a Secretaria de Relações Institucionais e o Ministério da Saúde, respectivamente. Gleisi substitui Padilha, enquanto ele assume o ministério deixado por Nísia Trindade.
Nesta reforma ministerial, Lula não promove uma mudança ampla e, ao que tudo indica, mantém resistência em ceder mais espaço aos partidos aliados. Suas escolhas recaem sobre figuras de confiança e aliados consolidados. Durante um dos momentos mais difíceis de Lula — sua prisão —, Gleisi permaneceu fiel e presidiu o PT em um período conturbado, sendo peça-chave na construção da frente ampla que levou à derrota de Bolsonaro e à vitória de Lula em 2022.
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Gleisi tem um perfil combativo e pode imprimir uma guinada à esquerda, afastando-se do centro político moderado e até mesmo do Centrão, que ocupa ministérios no atual governo. Muitos atores políticos possuem assento no ministério de Lula, mas seus partidos, mesmo assim, não entregam o apoio necessário à agenda do Planalto. Nesse contexto, faz sentido que o presidente fortaleça o PT e seus aliados históricos em detrimento de outros grupos políticos.
Hoje, o Legislativo está mais autônomo em relação ao Executivo, especialmente por controlar fatias substanciais do orçamento. Além disso, a inflação dos alimentos se tornou um grande obstáculo para a governabilidade e para o projeto de reeleição de Lula. Durante a campanha eleitoral, prometeu-se picanha, mas a realidade do brasileiro tem sido a dificuldade de comprar ovos e café. Como resultado, a desaprovação do governo atingiu níveis recordes na trajetória de Lula.
Diante desse cenário, o presidente e o PT não podem se dar ao luxo de perder eleitores historicamente fiéis, como aqueles que ganham até dois salários mínimos e os que vivem no Nordeste. Assim, a chegada de Gleisi pode sinalizar a percepção de que acenos ao centro não apenas não rendem votos, mas também afastam a base social petista.
A nova ministra terá o papel de articular politicamente e construir o diálogo institucional, mas também de preparar o governo, o partido e a militância para uma dura disputa eleitoral em 2026. Vale lembrar que Bolsonaro, em nenhum momento, buscou a moderação. Pelo contrário, radicalizou seu discurso e, mesmo assim, chegou ao segundo turno em 2022, sendo derrotado por uma margem mínima de votos. Em um país polarizado, buscar o centro pode significar perda de identidade e, consequentemente, derrota eleitoral.
As pesquisas indicam a crescente desaprovação de Lula. Diante disso, fortalecer o campo progressista pode dar coesão à militância e reforçar o antagonismo com o bolsonarismo. Embora Gleisi, como titular da Secretaria de Relações Institucionais, tenha funções institucionais a desempenhar, seu perfil aguerrido pode afastar partidos e atores políticos que, apesar de ocuparem cargos no governo, têm entregado pouco ao Planalto.
Aguardemos para analisar os primeiros movimentos da nova ministra e, depois, avaliar se suas ações serão ou não positivas para o governo e para o projeto de reeleição de Lula.