Ao MyNews, Thais Ferreira revela detalhes dos desafios na Câmara Municipal do Rio de Janeiro
A vereadora Thais Ferreira (PSOL-RJ) é uma das parlamentares mais atuantes na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mas, por ser mulher, negra e do subúrbio carioca, enfrenta dificuldades adicionais para exercer o mandato. Com 36 anos, é a primeira vereadora negra eleita pelo PSOL após Marielle Franco, que foi brutalmente assassinada em 2018.
Em entrevista ao MyNews, Thais fala de redes socias, saúde mental e conta como se prepara para os embates políticos. “Claro que tem estudo, tem estratégia política, mas tem também um preparo de alma. Porque é pesado. É desigual. É exaustivo. E ser uma mulher, mãe e preta ali dentro é carregar tudo isso multiplicado por muitas camadas”, afirmou.
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“Se preparar para um embate na Câmara é mais do que estudar pauta. É lembrar todo dia por que estou lá. Antes de qualquer votação ou fala no microfone, penso nas mães que me procuram, nas crianças sem escola, no povo que tá pedindo socorro. Isso me fortalece”, disse a vereadora.
Em 2020, Thais Ferreira foi eleita pela primeira vez e, em 2024, foi reeleita. Defende diversas causas, com destaque para a educação e a saúde. Já presidiu a Comissão de Direitos da Criança e do Adolescente e liderou, entre outros projetos, o Estatuto da Igualdade Racial do Rio de Janeiro.
MyNews: A senhora faz o que chamamos de “mandato móvel” como vereadora, sempre frequentando inúmeros locais, com pautas distintas. Como consegue absorver tantas demandas?
Thais Ferreira: Meu mandato é das ruas porque é de onde vim, popular desde o começo. Piso onde o povo pisa: favela, hospital, escola, terreiro, ponto de ônibus. É assim que eu funciono. Eu escuto. Eu anoto. Eu volto. O mandato não é sobre mim. É sobre transformar o que escuto em ação concreta. E é isso que me move. Absorver tudo isso é difícil, não vou mentir. Mas é o único jeito de fazer política com verdade.
MyNews: Hoje a rede social é uma continuação do trabalho que é feito na Câmara. Como a senhora lida com os ataques e discursos de ódio, que são potencializado pela internet? Tivemos agora recente o caso envolvendo a deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP).
Thais Ferreira: A rede social virou extensão do plenário. Só que ali a gente fica mais exposta. E o ódio não é pouco. Mulher preta, mãe, suburbana e do morro, quando fala firme, vira alvo. E não são só discordâncias — são ataques mesmo, à nossa dignidade, à nossa existência. O que a Erika Hilton tá passando agora é reflexo disso. E não tem armadura que segure sozinha. A gente cansa. Mas, com cuidado e proteção, a gente segue.
MyNews: A senhora faz terapia? Tem algum momento em que consegue desligar do trabalho e fazer coisas diferentes?
Thais Ferreira: Sim, eu faço terapia. Porque entendi que autocuidado é parte do meu compromisso político. E tento, do meu jeito, desligar ocasionalmente. Brincar com meus filhos, sair para comer com meu marido, cantar, ver um filme bobo. Mas, mesmo nesses momentos, o peso do que a gente vive não sai do corpo. A diferença é que hoje tenho rede. Tenho equipe, tenho família. E isso segura a gente. A política precisa de mais gente que sente, que chora, que vive o que fala. A política precisa ser humana de verdade. E é essa Thais que levo para na Câmara: com coragem e potência, mas também com amor e cuidado.