Coluna da Mara Luquet no site do Mynews
“Está próximo o dia em que vamos eleger para a presidência não um candidato apoiado pelo crime organizado, mas o próprio chefão de alguma facção.” A frase não saiu de um cientista político. Ouvi ontem da mulher atenta ao noticiário que conversa diariamente com muitas clientes e cuida do meu cabelo há alguns anos. Ela, como eu, estava preocupada com os rumos da nação depois da votação da chamada PEC da blindagem.
A Câmara aprovou que qualquer ação contra parlamentares, e até contra presidentes de partidos, só poderá ser aberta com autorização do próprio Congresso. Na versão oficial, trata-se de “equilibrar os Poderes”. Na prática, como reconhecem governo e Judiciário, é erguer um muro contra as investigações do STF sobre desvios em emendas parlamentares.
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Para garantir votos, o acordo incluiu limitar a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. Nada de perdão total, mas um projeto que reduz penas. Troca típica da política: entrega-se um pedaço pequeno para salvar o essencial. Resultado: deputados, senadores e dirigentes partidários ganham imunidade quase divina, como apontam muitos colunistas. Não à toa, já se diz que agora só poderão ser julgados pela Justiça dos Céus.
Talvez a frase da cabeleireira não seja exagero. Se aceitarmos que nossos representantes escrevam as regras da própria impunidade, cedo ou tarde o crime não precisará mais se esconder atrás dos políticos. Ele mesmo sentará na cadeira presidencial.