Bolsonarismo: Michelle dispara, Flávio patina Michelle Bolsonaro - Foto: Reprodução/Redes sociais

Bolsonarismo: Michelle dispara, Flávio patina

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Enquanto os herdeiros de sangue patinam na busca por carisma, a ex-primeira-dama consolida-se como o motor emocional da direita, gerando desconforto no núcleo masculino do clã

A hierarquia dentro da família Bolsonaro sofre um abalo sísmico. De um lado, o “núcleo masculino” tenta, sem sucesso, empolgar a base. De outro, Michelle Bolsonaro avança. Ela não apenas ocupa espaços, mas domina a narrativa emocional. Consequentemente, esse protagonismo crescente incomoda. O brilho da ex-primeira-dama gera ciúmes visíveis e uma resistência silenciosa entre os filhos do ex-presidente, que veem sua influência política ser ofuscada por quem antes era vista apenas como coadjuvante.

Essa análise profunda dos bastidores da oposição foi debatida no programa Café do MyNews. A edição contou com a participação especial de Mauro Paulino, experiente analista de opinião pública que, por décadas, dirigiu o DataFolha. Segundo Paulino e a bancada do programa, a dinâmica familiar virou um fator de risco eleitoral.

O “falso batedor” e a frieza das redes

A fragilidade dos filhos ficou evidente na recente tentativa de lançar Flávio Bolsonaro como pré-candidato ao Planalto. O teste, contudo, falhou. O monitoramento digital da agência “Ativa Web” revelou um cenário desolador: em apenas 48 horas, a base bolsonarista reagiu com frieza. Não houve engajamento. Pelo contrário, o movimento foi interpretado como artificial e imposto.

Por isso, o recuo foi imediato. Analistas compararam a manobra a uma jogada ensaiada de futebol. Flávio atuou como um “pseudo-batedor” de pênalti. Ou seja, ele se posicionou apenas para atrair as vaias e a pressão. Assim, o “batedor real”, seja ele quem for, pôde ser preservado da confusão inicial. Todavia, o episódio expôs a falta de carisma do senador quando comparado ao pai.

O “ponto de calor”

Em contrapartida, Michelle tornou-se o verdadeiro “ponto de calor” do bolsonarismo. Ela demonstra força não só nas redes, mas também na articulação política real. Um exemplo claro ocorreu no Ceará. Lá, Michelle vetou alianças com Ciro Gomes, agindo à revelia dos enteados.

Portanto, a ex-primeira-dama prova ter capital político próprio. Pesquisas indicam, inclusive, que ela seria muito mais competitiva contra Lula num eventual segundo turno do que Flávio. Entretanto, essa viabilidade eleitoral alimenta a fogueira das vaidades. Os filhos tentam conter sua ascensão, temendo perder o controle do espólio político do pai.

Tarcísio e a fragmentação

No meio desse tiroteio familiar, Tarcísio de Freitas surge como a peça mais racional. Ele detém o apoio do mercado financeiro. Além disso, governa o maior colégio eleitoral do país e possui o perfil de “mão de ferro” na segurança pública, tema que, segundo a pesquisa Quaest, preocupa 38% dos brasileiros.

Ainda assim, o governador adota uma postura errática. Ele hesita. Tenta manter “os pés em duas canoas”, equilibrando-se entre o centro e a base radical. Para sobreviver, Tarcísio precisa que o bolsonarismo lhe transfira votos. Porém, a desunião da direita joga contra ele.

Vantagem para Lula

Diante desse cenário, a conclusão é matemática. A fragmentação da oposição e as “farsas” de candidaturas improvisadas, como a de Flávio, beneficiam diretamente Luiz Inácio Lula da Silva. O atual presidente mantém um terço do eleitorado fiel. Logo, continua sendo o favorito.

Se a direita não superar os ciúmes domésticos e definir um líder que vá além dos laços sanguíneos, o caminho para a reeleição de Lula estará pavimentado pela própria desorientação dos seus adversários.

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