Coluna do Cincinato Silva
Quem diria que um almoço de janeiro de 2024 seria tão profético? Naquela mesa, com figurões da política nacional, o nome de Pablo Marçal surgiu. “Ele vem forte como candidato à prefeitura de São Paulo”, disse uma jornalista. A reação? Um misto de risos e desdém. Aquele ar de “coisa de internet, vai passar”. Eu, confesso, discordei. Via algo ali, nas redes. Algo que poderia ser, sim, perigoso. E não é que ele provou que o perigo tinha nome e 5,5 milhões de seguidores no Instagram? Em suma, 2026 chega online e é preciso atenção.
Esqueça o tradicional horário eleitoral. Marçal construiu o seu, ao vivo, nas telinhas dos celulares. Sem um segundo de TV ou rádio, ele não só se manteve relevante, como disparou nas pesquisas. Ultrapassou a soma dos seus principais adversários nas redes! É um estudo de caso: o poder migrou.
A “máquina” partidária, com seus jingles e santinhos, parece um carroça em uma corrida de foguetes. Enquanto os partidos tentam entender o TikTok, o jogo já está no streaming ao vivo, com narrativas personalizadas e alcance massivo.
O DataSenado confirmou: em 2024, redes sociais já equiparam a TV e o rádio. Para 2026? A previsão é que a influência digital seja superior. Um caminho sem volta. E, sejamos honestos, estamos perigosamente despreparados.
O perigo reside na combinação de três fatores críticos: a ascensão de figuras radicais e inexperientes, a defasagem de nossa regulamentação e a exploração de dados em massa por meio de novas tecnologias.
Pense nisso: conversei com Silvio Meira, fera em transformação digital. Ele me contou que, até junho de 2024, nenhum partido monitorava sistematicamente os dados públicos eleitorais. Enquanto as máquinas partidárias operam na intuição e modelos analógicos, os “agentes antissistema” já usam IA para dissectar o eleitorado. Medos, frustrações, desejos… tudo vira munição para narrativas cirúrgicas. É um xadrez com um lado jogando com peças de madeira e o outro com inteligência artificial.
O Brasil tem o Marco Civil, sim. Mas na prática, para responsabilizar plataformas e combater desinformação, nossa legislação ainda engatinha de fraldas.
A população sente isso: 81% dos brasileiros creem que fake news afetam eleições, e 78% querem mais controle. O PL das Fake News? Aprovado no Senado, mas em hibernação na Câmara. A burocracia legislativa é um caracol frente à velocidade das inovações digitais. E a democracia paga o preço.