O leito virou a cerca; os visitantes e a claquete externa, os apoiadores matinais do Palácio; o hospital, o Alvorada. Tudo é jogada, tudo é marketing. Tacada final para evitar condenação, de efeito zero
Três semanas depois de sua internação, para cuidar de suas alças intestinais – vísceras que foram expostas nas redes -, Jair Bolsoonaro recebeu alta na manhã deste domingo no Hospital DF Star, em Brasília. Na saída, repetiu aos jornalistas a cantilena de sempre: voltou a criticar o STF, saiu em defesa dos golpistas do 8 de janeiro e até anunciou novo ato político, para a próxima quarta, a Marcha Pacífica da Anistia Humanitária.
Nesse período no hospital, Bolsonaro fez de sua internação um show e a transformou no cercadinho do Palácio do Alvorada. Fez live ao lado dos filhos e do amigo e ex-piloto Nelson Piquet, num evento comercial para venda de capacetes de grafeno.
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Essa cena de dentro da UTI do hospital lhe custou a visita de uma oficial de Justiça, que cumpriu ordens de Alexandre de Moraes para intimá-lo a se defender da acusação de tentativa de golpe de Estado. Essa intimação virou intimidação à funcionária da Justiça, que foi exposta num vídeo por Bolsonaro, que gritou com ela.
Até pastor – Silas Malafaia – e um padre – Kelmon – o visitaram. O católico chegou a rezar uma missa ao redor do ex-presidente. Do lado externo do hospital, bolsonaristas com camisas da seleção brasileira de futebol, a verde e amarela, não a vermelha, faziam uma espécie de vigília. Em outros tempos, Bolsonaro reunia muito mais apaixonados seguidores.
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O desfecho de sua internação se deu ontem, quando postou fotos de suas vísceras, uma demonstração de perda de senso mínimo, e de duvidoso apelo a seus aliados.
Ao longo da internação, o ex-presidente exibia diariamente imagens com pijama, andando pelos corredores do hospital e sonda no nariz. O resguardo e intimidade que requer uma hospitalização foram ignorados, o que, se tratando do ex-presidente, é zero surpresa.
O leito virou o cercadinho; os visitantes e a claquete externa, os apoiadores matinais do Palácio; o hospital, o Alvorada. Tudo é jogada, tudo é marketing. Uma tacada final para tentar escapar da certeira condenação que o aguarda no STF.