Comissão julga anistia política ao maior ídolo do Atlético Mineiro Reinaldo comemora gol pelo Atlético com o gesto do punho cerrado, que incomodou a ditadura ! Foto: Atlético Mineiro

Comissão julga anistia política ao maior ídolo do Atlético Mineiro

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Atacante Reinaldo foi perseguido pela ditadura por comemorar os gols com o punho cerrado, o que o prejudicou na seleção brasileira numa Copa

Maior ídolo da história do Atlético Mineiro, o atacante José Reinaldo de Lima atuou também “fora das quatro linhas”. Reinaldo, também principal goleador do clube, com mais de 250 gols, foi monitorado pela ditadura e, principalmente,  perseguido pelos generais que comandavam o governo e também a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje a CBF, por comemorar seus gols com o punho cerrado para o alto.

A Comissão de Anistia do governo julga amanhã pedido de Reinaldo de concessão da condição de anistiado político e por ter sido perseguido pelo regime militar.

O gesto do punho cerrado é uma referência declarada da luta dos Panteras Negras, movimento negro que atuou contra o racismo e pela conquista dos direitos civis no Estados Unidos, na década de 1960. Um gesto que ganhou o mundo e repetido hoje com frequência, em especial por políticos de esquerda. Na semana passada, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva o repetiu, após manifestação de apoio de sindicalistas do ABC paulista.

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Reinaldo comemorava assim seus gols, mas incomodava. O craque chegou a ser advertido pelo general Ernesto Geisel, em 1978, antes do antes do embarque da seleção brasileira para disputar a Copa do Mundo da Argentina. Na despedida do general, em Porto Alegre (RS), a delegação foi até o Palácio Piratini, sede do governo estadual.

O ex-jogador, hoje um funcionário do Atlético Mineiro, uma espécie de relações institucionais, relata no seu pedido à comissão, nesse episódio daquele ano, o então ministro da Educação, Ney Braga, o levou  a uma sala onde estava Geisel, que queria falar com ele. Elogiou seu futebol, mas o advertiu para não misturar futebol com política. Sugeriu que, em caso de assinalar gol no Mundial, evitasse comemorar daquele jeito, com braço erguido e punho fechado.

“Fomos nos despedir do presidente, até porque a CBD (hoje CBF), por si só, era uma junta militar. Tinha o almirante Heleno Nunes (presidente), o capitão Cláudio Coutinho (técnico) e outros, como Admildo Chirol (preparador físico). O Ney Braga me chamou e disse: ‘vem cá, quero te apresentar o presidente’, num lugar mais reservado. Me apresentou, eu era o artilheiro do Campeonato Brasileiro. E o presidente me disse: ‘Você joga muito bem, mas deve se preocupar só com a bola. Deixa que política a gente faz. Não fale de política’. Não falei nada, só obedeci”, relatou Reinaldo ao Correio Braziliense, numa reportagem de julho de 2024.

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Reinaldo foi “fichado” pelo Serviço Nacional de Informações, o temido SNI, órgão do regime militar que monitorava os opositores do regime, base para prisão e tortura. No Arquivo Nacional, há 40 páginas com informações sobre o atleta, como sua amizade com o Frei Betto, frei dominicano que foi preso na época, e até sua participação nos atos pelas Diretas Já.
Nesses documentos, consta até uma entrevista que deu ao jornal alternativo “Movimento”, em 1978, cujo título era: Bom de bola, bom de cuca. No pedido, além da condição de anistiado político, Reinaldo reivindica o direito a uma indenização, que, se aprovada, deve ser uma prestação única no valor de R$ 100 mil. Na ação, o ex-jogador é representado por Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República.

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