Na semana em que a deputada viu o STF formar maioria na acusação de porte ilegal de arma, a parlamentar foi acusada por Bolsonaro desse ato ter lhe tirado a reeleição
Há dez anos, Carla Zambelli, uma então manifestante a favor do impeachment de Dilma Rousseff, se acorrentou num dos pilares do Salão Verde até que fosse aberto o processo que levou à cassação da ex-presidente. Seu grupo, o “Nas Ruas”, contava com o beneplácito do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (MDB-RJ), que permitiu o acesso desse pessoal nas dependências da Câmara.
Três anos depois, em 2018, se elegeu deputada federal pelo PSL, partido do presidente eleito naquele ano, Jair Bolsonaro. Foi reeleita para a Câmara, em 2022. Nesses seis anos como parlamentar, Zambelli protagonizou vários momentos ruidosos. O mais barulhento deles, e que pode lhe custar o mandato e até sua liberdade, foi ter perseguido um apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, em outubro de 2022, pelas ruas de São Paulo e com uma arma na mão. Bolsonaro, há menos de uma semana, a culpou por não ter sido reeleito.
“Carla Zambelli tirou o mandato da gente. Tirou o mandato da gente”, disse Bolsonaro, que se tornou réu no STF acusado da tentativa de implementar um golpe no país.
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Os dois já foram muito próximos. Quando se elegeu para o primeiro mandato ela pediu e ficou com o gabinete que Bolsonaro ocupou por mais de duas décadas como deputado, o de número 885, no Anexo 3 da Câmara. Não foi a única concessão do ex-presidente. Zambelli solicitou, e foi atendida por Bolsonaro, para ficar também com sua galeria de fotos dos cinco generais presidentes na ditadura, que já estavam armazenados em seu patrimônio e que voltaram para o gabinete.
Zambelli respondeu à acusação de Bolsonaro de que foi a responsável por sua derrota para Lula e afirmou que ele “perdeu por outro motivo” e que um dia irá “perceber o que aconteceu”. A parlamentar afirmou também não ter mágoa do ex-presidente e que se ele quiser procurá-la, tem seu número de telefone.
A responsabilização de Zambelli por sua derrota ocorre na semana que a deputada sofre um revés severo no STF, que formou maioria, por 5 a 0, para condenar e cassar o seu mandato, na ação penal em que ela é acusada de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O ministro Kassio Nunes pediu vistas, que significa mais tempo para analisar o caso. Num aceno, Bolsonaro julgou injusta a acusação contra ela no Supremo.
Alvo de cinco ações no Conselho de Ética
Nesses anos de mandato, Zambelli respondeu a cinco ações no Conselho de Ética na Câmara, duas delas de autoria de seu antigo partido, o PSL. Todas foram arquivadas. A deputada, nessas representações, foi acusada de ofensas a então colega Joice Hasselmann (PSL-SP), que foi líder do governo Bolsonaro no Congresso, por se referir a ela como “Peppa Pig”, uma personagem de desenho infantil.
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Em outra ação, fez uma ofensa contra o deputado Duarte Jr. (PSB-MA), se dirigindo a ele com um palavrão, “vai tomar no c.”, numa discussão numa das comissões. Zambelli foi acusada também no conselho de quebra de decoro por ter, durante a pandemia, acusado do governo de Sergipe de proibir as pessoas de sairem de casa, com ameaça de confisco da residência das pessoas.
Não bastasse, Zambelli teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, em janeiro deste ano, por entender que ela cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao espalhar notícias falsas sobre o processo eleitoral de 2022. Decisão que cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).