Se confirmar deputado do PSol na Secretaria-Geral da Presidência, Lula estará colocando em risco relação com o Congresso
Se o deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) for confirmado ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o presidente Lula pode estar abrindo uma frente de resistência quase sem volta na relação com o Congresso Nacional. Somadas as presenças de Boulos e da já anunciada Gleisi Hoffmann na articulação política do governo o ambiente seria de “nitroglicerina pura” na relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional.
Essa avaliação foi feita por parlamentares do Centrão e na conversa com um desses líderes com o Canal MyNews, sob a condição do anonimato. Esse é o espírito com que foi recebido nesse grupo, que ocupa 11 ministérios no governo, a eventual nomeação do deputado do PSol para o cargo. É o que garante essa importante liderança, manifestação também contida troca de mensagens nesses grupos. Quando surgiu a expressão “nitroglicerina pura”, o termo ganhou sinalizações de “positivo” e reações como “concordo”.
“O governo nem esperou a indicação de Gleisi ser digerida e já vem com essa de Boulos? Espero não proceder”, escreveu um dos vice-líderes do Centrão.
Leia Mais: Escolha de Gleisi não foi à revelia do comando do Congresso
Por enquanto, impera um certo silêncio público entre os governistas, já que não há confirmação pelo Planalto da indicação de Boulos. A oposição não perdeu tempo. Foi para as redes detonar essa possibilidade. O presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro criticou e fez uma analogia de o parlamentar ser uma liderança do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) com um governo sem chão.
“O líder do movimento invasor dos sem-teto sob o teto do Planalto seria a comprovação definitiva de que o governo está sem rumo e sem chão”, postou o senador.
Gleisi já teve uma recepetividade de desconfiança no Congresso, em especial por seu temperamento e comportamento de distância no varejo de seus pares, concentrada muito nas questões do PT. O partido e o governo apostam na propalada proximidade da futura ministra com líderes importantes da base do governo, como Isnaldo Bulhões (MDB) e Doutor Luizinho (PP), além de Hugo Motta (Republicanos) e Arthur Lira (PP).
Pouco interessa aos insatisfeitos com o “risco” de Boulos ser ministro se ele ocupará uma pasta de pouca interface com o Congresso Nacional. A Secretaria-Geral da Presidência hoje tem entre suas missões precipuas a de interagir com os movimentos sociais, como o MTST e o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, viajou ao lado de Lula para a posse do novo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, há cinco dias.
Para a oposição, esses movimentos sociais são quase um só e vistos por esse grupo como “baderneiros” e “radicais”. O MST, há dois anos, foi alvo de uma CPI na Câmara. Ainda que o resultado tenha sido pífio, sequer foi aprovado um relatório fnal, a ancada ruralista fez barulho ao buscar criminalizar o movimento.
Até agora, a pasta vinha sendo tocada pelo ministro Márcio Macêdo, que fez uma gestão até de invisibilidade. Seu nome há tempos é ventilado como alguém que não ficará na reforma ministerial e que alguns episódios de sua gestão incomodou Lula, como a rusga com Maria Fernanda Coelho, ex-presidente da Caixa e que até janeiro de 2024 era a secretária-executiva da Secretaria-Geral.