Coluna do Rodrigo Augusto Prando no MyNews
Euforia é a palavra. A aprovação da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até 5 mil reais é uma enorme vitória do Governo Lula. Lula, Arthur Lira (relator do projeto) e Hugo Motta (presidente da Câmara) ganham capital político. Os petistas, especialmente, estão eufóricos com o que é considerado um “gol de placa” e uma possível pavimentação para a reeleição a ser disputada em 2026.
Arthur Lira manteve, após a presidência da Câmara, enorme poder e, agora, colherá os frutos da aprovação da isenção de IR e, com isso, quer gabaritar-se à disputa ao Senado; Hugo Motta, apequenado pelas ações dos bolsonaristas, consegue afastar o que chama de pautas tóxicas: anistia e PEC da blindagem; e, por sua vez, Lula vive no melhor momento de seu terceiro mandato. Do primeiro para o segundo semestre, de 2025, o cenário político mudou substancialmente, trazendo um ânimo para o Planalto e enfraquecimento da oposição. Vejamos.
Em primeiro lugar, a derrota do governo na votação do IOF permitiu que, pela primeira vez, de forma mais contundente, a comunicação e ação dos governistas fosse proativa e não reativa. Diferente do episódio da crise do Pix, com vídeo do Deputado Nikolas Ferreira, no qual o governo reagiu mal e tardiamente; com o imbróglio da votação do IOF houve uma rápida retomada do discurso do “nós x eles” tão caro ao PT e a Câmara dos Deputados, Hugo Motta, banqueiros, big techs, Bets e bilionários foram taxados de “inimigos do povo brasileiro”. Na reação à derrota do IOF, Lula conseguiu, neste terceiro mandato, encontrar um inimigo interno (os super-ricos) . Em segundo lugar, cai no colo do governo o “inimigo externo”, com o ataque de Trump e orquestrado pela família Bolsonaro à soberania brasileira. Em terceiro, temos que a inflação dos alimentos, que correu a aprovação de Lula arrefeceu e isso foi captado nas pesquisas de avaliação do governo ao final do primeiro semestre. A quarta posição, está no susto que a Câmara tomou após a aprovação da PEC da Blindagem com a reação das ruas, bem como o esfriamento, por enquanto, da discussão da anistia pelos bolsonaristas.
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Asseverei, em outras oportunidades, que o Lula 3 era reativo e não proativo e que não tinha uma marca para chamar de sua. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, tem sua marca: conseguiu por fim à hiperinflação e estabilizar a economia. Lula 1 e 2 firmou-se como um período de diminuição da extrema pobreza, incremento da classe média e consolidação dos programas sociais. Até há pouco, o Lula 3 devia algo para comunicar à sociedade brasileira. Não deve mais. O impacto econômico e, consequentemente, político da isenção do IR será, provavelmente, já apreendido nas próximas rodadas de pesquisas de avaliação do governo com melhora de seu capital político.
É cedo para traçar um panorama eleitoral de 2026. Lula, se condições tiver, será candidato à reeleição. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, afirmou, alhures, que não pretende disputar o Planalto; Ratinho Júnior, governador do Paraná, busca nacionalizar seu nome; outros, como Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite podem se apresentar no campo político órfão de Bolsonaro. Todavia, independente de quem for a oposição a Lula, devem rememorar que Lula está, direta ou indiretamente, disputando eleições presidenciais desde 1989: perdeu três eleições (1989, 1994 e 1998), ganhou duas (2002 e 2006), fez a sucessora (Dilma) duas vezes (2010 e 2014), colocou Haddad no segundo turno (2018) e voltou a vencer contra a força do bolsonarismo (2022).
Lula é o ator político cujo simbolismo é o mais conhecido e comunicado à sociedade brasileira na Nova República. A primeira metade do ano lhe foi desfavorável e a segunda já é bem animadora, retomando o domínio da narrativa política e conquistando espaço para a sua agenda.