Pesquisa mostra que mais pessoas estão se filiando a partidos no Brasil; entre os novos filiados, 70% consideram aversão e ódio ao rival político um motivo relevante para aderir a uma legenda
por Rodrigo Augusto Prando em 08/07/24 13:47
Apoiadores de Lula e Bolsonaro brigam após votarem nas eleições de 2022, em Genebra, na Suíça | Foto: Reprodução/Redes sociais
Em recente matéria publicada no Estadão, 01/06/24, página A6, de Hugo Henud, há a apresentação de uma pesquisa realizada por cientistas políticos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP) acerca do aumento da filiação partidária no Brasil. Vejamos.
Paradoxalmente, num ambiente de rejeição à política e de desconfiança em relação aos partidos políticos houve o aumento da filiação partidária em nosso país. Como explicar tal paradoxo? A investigação traz à tona o fato de que “entre os filiados, cerca de 70% consideram, em algum grau, a aversão e o ódio ao rival político como motivos relevantes para aderir a uma legenda”. Nas palavras de Pedro Paulo de Assis, pesquisador do Departamento de Política da USP: “Queríamos entender por que a filiação partidária estava aumentando, mesmo diante do crescente descrédito e desconfiança com relação aos partidos. Então, descobrimos que o ódio e a rejeição ao adversário motivam não só a filiação, mas também são fatores que tornam os filiados muito mais engajados na vida partidária”. Esse fenômeno foi denominado, pelos pesquisadores, como “engajamento pelo ódio”.
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Essa pesquisa, de certa forma, corrobora teses de outros cientistas políticos e teóricos. Giuliano Da Empoli publicou, em 2019, a obra Os engenheiros do caos, cujo subtítulo — “Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar as eleições” — vai de encontro com a ideia do “engajamento pelo ódio”. Na mesma linha, o livro de Felipe Nunes e Thomas Traumann, Biografia do abismo (2023), apresenta que nossa polarização política já se tornou uma “calcificação” e que visões de mundo que alicerçam as ideologias políticas acabam por dividir indivíduos e grupos não apenas no período eleitoral, mas que isso invade o núcleo familiar, a sociabilidade nas escolas e universidades, nas empresas, enfim, nossa vida está em constante tensão dada a polarização/calcificação vivenciada politicamente.
O quadrante histórico, por assim dizer, nos faz sentir, pensar e agir a respeito da política de uma forma desencontrada, fraturada e, por isso, gerando traumas evidentes. Políticos eleitos, nossos representantes, estão, cada vez menos, apresentando um projeto para o país ou, mais simplesmente, suas propostas de ação política. Muito melhor é lacrar, engajar, fazer cortes e, assim, apresentar-se como vitorioso não num franco e profundo debate de ideias acerca de nossos problemas reais e sim numa rápido vídeo para as redes sociais. Não raro, políticos e seus assessores — os “engenheiros do caos” — conjugam fake news, pós-verdades, negacionismos e teorias da conspiração e tudo isso para ganhar forças nas redes sociais, impulsionados por algoritmos que captam a força do medo, do ódio e do ressentimento, por exemplo. Neste caso, não há adversários políticos que devem, democraticamente, conviver e sim inimigos que devem ser destruídos, em sua trajetória, em sua reputação e em seus ideais e sonhos.
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Os partidos políticos e seus operadores, que são intermediários, têm, infelizmente, se nutrido desses elementos atinentes ao ódio e, com isso, apequenam a Política. Reina, em muitos casos, uma mediocridade e mesquinharia que ganha likes e viraliza, mas é vazio de conteúdo, de ideias, de projetos, de conceitos, de conhecimento e informação.
A situação será dramática no curto e médio prazo neste universo político. No longo prazo, já asseverou Keynes, estaremos mortos…
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