Os 70+ estão revolucionando o mercado

“Fiquei refém de memórias e reminiscências num apartamento pleno de lembranças do passado.”
O desabafo, que poderia ser o início de um romance existencialista, é de uma mulher de 70 anos que decidiu fazer algo muito mais radical do que mudar os móveis de lugar: ela mesma mudou de lugar.
Não que estivesse infeliz, apenas ocupada demais. Esgotada de cuidar de metros quadrados que já não combinavam com sua nova ambição: ter tempo para o futuro. Sim, porque no século da longevidade, o futuro não pertence aos jovens, pertence aos dispostos. E essa turma de 70+ está disposta a valer.

O movimento tem nome, endereço e uma energia que faria inveja aos millennials: boomers com espírito de intercambistas. Eles reduziram o custo fixo, cortaram o tamanho da casa e aumentaram o tamanho da vida. Estão trocando apartamentos grandes por flats, estúdios e condomínios onde a manutenção é zero e os vizinhos são 100%.
É a geração que já mudou o mundo uma vez e que agora decidiu mudar o próprio modo de viver. A mesma galera que, nos anos 60, desafiou costumes, inventou estilos e fez barulho, segue hoje produzindo seu ruído característico: não o da panela de pressão, mas o da mala com rodinhas no corredor do condomínio.

E que ninguém se iluda: não são avós da era do tricô e da cadeira de balanço. São avós com agenda. Avós que namoram, fazem Pilates, viajam para lugares impronunciáveis e, quando muito, sentam numa cadeira, mas é a do aeroporto, esperando o próximo voo.

Se antes a pergunta era “onde vamos jantar?”, agora é “onde vamos morar que dê menos trabalho e mais alegria?”.
É uma revolução. Porque essa geração não foi feita para o silêncio, e sim para inaugurar eras.

Estamos assistindo ao surgimento de um fenômeno interessante: o downsizing afetivo-existencial. Uma troca de metros quadrados por metros de liberdade. Um investimento de liquidez imediata em qualidade de vida.
E o mais curioso: depois de tantas décadas construindo patrimônio, muitos descobriram que o melhor ativo estava escondido, o próprio tempo. E que leveza, ao contrário do que se pensava, não é um luxo. É estratégia.

Aos 70, eles não estão se despedindo de nada. Estão apenas abrindo espaço para tudo o que ainda querem viver.
E, do jeito que vão, é bom o mundo se preparar. Porque, quando os boomers resolvem se mexer, ninguém fica indiferente, nem o mercado imobiliário.

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