Ascensão e queda de Fernando Collor são contadas em série, e diretor revela detalhes ao MyNews Foto: Orlando Brito

Ascensão e queda de Fernando Collor são contadas em série, e diretor revela detalhes ao MyNews

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Charly Braun conta como surgiu a iniciativa de produzir o documentário sobre a chegada do “Caçador de Marajás” à Presidência e o posterior impeachment

O ex-presidente Fernando Collor é um personagem importante e controverso para a história da política brasileira. Afinal, foi o primeiro a assumir a Presidência por meio de eleição direta após o fim da Ditadura que durou 21 anos e também o período Sarney. No entanto, passou por um processo de impeachment e deixou o cargo dois anos após ser eleito, em disputa contra Lula. Hoje, sua história é contada em uma série documental chamada O Caçador de Marajás, e dirigida por Charly Braun, que falou com exclusividade ao site do MyNews.

Braun detalha como surgiu a ideia de fazer uma série sobre Fernando Collor de Mello e qual conteúdo leva ao público.

Charly Braun: A saga da era Collor traz uma série de ineditismos históricos, é cheia de singularidades e recheada de personagens riquíssimos, motivo pelo qual há muitos anos eu namorava a ideia de transformá-la numa série documental. Via nesta história todos os elementos dramatúrgicos e cinematográficos das grandes tramas de ficção. Com o tensionamento do clima político do país a partir das manifestações de 2013 que perdura até hoje, me veio a vontade de me debruçar a fundo nos acontecimentos que marcaram o início pleno da redemocratização do país, com a eleição de um presidente pelo voto direto depois de quase trinta anos. Pareceu-me que para entender melhor onde estamos como país, e para onde queremos (ou devemos) ir, seria importante compreender melhor de onde viemos. E que a era Collor, ademais, nos dá uma distância temporal quase ideal para suscitar esta reflexão. Distante o suficiente para arrefecer as paixões da época ao mesmo tempo, em que se encontram ecos de tudo que ali ocorreu presentemente.

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Na infância, Charly conviveu com a família Collor, principalmente com um dos irmãos, Leopoldo. Assim, ele explica detalhes de como era a convivência e fala sobre a relação entre eles.

Charly: Por uma casualidade da vida, ainda criança fui testemunha do drama da família Collor que eu, incrédulo, via reverberar na vida do país. Minha mãe era amiga de infância da esposa de Leopoldo Collor, o primogênito dos Collor e personagem importante em sua eleição. Por este motivo eu era amigo dos filhos do casal, cuja casa eu frequentava, e onde vi e vivi episódios desta saga que mistura Shakespeare e Dias Gomes, com pitadas de Nelson Rodrigues. Naturalmente estas lembranças ficaram gravadas em minha memória, pela natureza extraordinária dos fatos-e eu diria que esta foi uma motivação extra. A série foi filmada em duas etapas. Realizei as primeiras entrevistas em 2021, mas o grosso das filmagens, no final de 2023, durou cerca de dois meses.

Charly: Leopoldo tinha boa relação com todos os irmãos, e foi figura importante na campanha presidencial. A briga entre Pedro e Fernando acabou causando um racha na família, mas Leopoldo só foi cortar relações com Fernando muitos anos depois, por outros motivos. O surpreendente nessa história é que a geração seguinte-a dos filhos dos irmãos Collor de Mello- se dá muito bem. Eles conseguiram superar os traumas dos pais, manter um bom relacionamento entre si e construir vidas e carreiras livres dos problemas que ocorreram antes.

Brasil dividido na época de Collor e atualmente

Na série, vemos um Brasil dividido, mas que parecia mais respeitoso entre os diferentes, principalmente entre os artistas. Frota, por exemplo, diz que ver o pessoal vestido de PT foi algo emocionante e o cativou. Desse modo, Charly analisa aquela época e faz um comparativo com o momento atual.

Charly: Há muitos pontos de convergência entre aquela época e a nossa. É curioso ver como as coisas se deram depois. Acho que aquela eleição, embora possa parecer mais polida, foi bastante polarizada, talvez a mais polarizada até a de 2018. A impressão que fica é que depois da eleição de Collor as coisas se aquietaram um pouco nas eleições seguintes, pelo menos até 2014. Permanece até hoje, talvez, a ideia de que uma pessoa virá como “salvadora da pátria”. Embora exista um descrédito bastante grande em relação a políticos, as eleições ainda parecem muito em cima de uma pessoa, uma figura, mais do que em programas ou ideias.

Série de Collor faz sucesso e retrata sua história até chegar na presidência do Brasil. — Foto: Orlando Brito

Na produção, aparecem a secretária de Collor, o motorista que o denunciou e pessoas próximas de Lula falando sobre a campanha de 1989. Mas um detalhe chama atenção: Thereza Collor está presente em praticamente todos os episódios. O diretor conta se isso foi planejado ou aconteceu naturalmente. Por fim, também explica quais pessoas faltaram na série.

Charly: Thereza Collor é uma personagem central desta trama, portanto ela acaba tendo bastante destaque. Gostaria muito de ter entrevistado Arnaldo Jabor. Falamos ao telefone e chegamos a combinar, mas ele faleceu antes. Sua fina ironia e ponto de vista certamente teria rendido muita graça e inteligência ao documentário.

Por que assistir à série do Collor?

Charly: A meteórica ascensão de Collor e sua brutal queda, cujo estopim foi uma briga com seu irmão caçula, mistura de maneira fascinante uma tragédia familiar com todas as questões íntimas e afetivas que isto implica com o destino de um país. É uma história realmente sem igual, e acho que a série consegue tratar de assuntos sérios com graça e agilidade. Um bastidor curioso é que enquanto entrevistávamos uma ex-namorada de Collor, a família dela apareceu no local e nos expulsou. Era uma personagem genial!

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