Um novo capítulo para a Venezuela Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Um novo capítulo para a Venezuela

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País governado por Maduro está na mira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Um novo capítulo na relação entre os Estados Unidos e a América Latina se iniciou com o anúncio do presidente Donald Trump, autorizando operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA) na Venezuela para combater atividades ligadas ao narcotráfico. A medida ocorre em meio a tensões crescentes entre Washington e Caracas e reflete a chamada Doutrina Trump, que busca ampliar a influência norte-americana de forma disruptiva e imprevisível.

A América Latina é historicamente estratégica para os EUA desde a Doutrina Monroe*, e agora volta ao centro das atenções, especialmente a Venezuela. O país tornou-se símbolo de um regime autoritário e de colapso estatal. Desde que Hugo Chávez alterou a Constituição em 2009, a Venezuela vive sob um sistema que perpetua o poder, e mergulhou em uma das piores crises humanitárias do continente. Mais de oito milhões de venezuelanos emigraram, fugindo da fome, da repressão e da falência dos serviços públicos. A vida cotidiana é uma disputa por energia elétrica, água potável e medicamentos.

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O primeiro fator que explica o interesse de Washington é o caráter ideológico e ditatorial do regime de Nicolás Maduro, considerado um governo que viola direitos humanos e reprime qualquer forma de oposição. O segundo é a retomada da “Guerra às Drogas”, uma promessa central do segundo mandato de Trump. As mortes por overdose de cocaína nos EUA mais do que dobraram entre 2015 e 2019, e a Venezuela tornou-se ponto-chave na rota do tráfico internacional, servindo como corredor logístico e de facilitação. O regime de Maduro é acusado de vínculos com o Cartel de los Soles, composto por militares venezuelanos, e vários de seus membros já foram denunciados por autoridades norte-americanas.

O terceiro fator é o petróleo e os recursos naturais. A Venezuela detém as maiores reservas do mundo, mas produz muito abaixo do potencial devido à corrupção e à má gestão. Buscar a influência sobre este país significa também conter o avanço da China e da Rússia na região, além de reforçar a estratégia energética dos EUA num momento de instabilidade global e guerra na Ucrânia.

O quarto ponto é o custo humanitário. A população venezuelana vive entre o medo e a exaustão, desconfiando tanto do regime quanto de intervenções externas. Qualquer ação mal conduzida poderia ampliar a repressão, o que torna essencial a cooperação regional – especialmente com Colômbia e Brasil – para assegurar que eventuais iniciativas mantenham caráter diplomático e humanitário.

Politicamente, a pressão internacional é vista como indispensável para desmontar a estrutura de impunidade e narcoterrorismo que domina o Estado venezuelano. O poder de Maduro se sustenta em redes de corrupção, tráfico e lealdades forjadas pelo medo, o que explica por que Washington prefere a intimidação estratégica e as sanções econômicas a uma invasão direta.

Nesse contexto, María Corina Machado, recém-premiada com o Nobel da Paz, surge como voz legítima pela reconstrução democrática da Venezuela. Sua missão é transformar o reconhecimento internacional em força política interna, defendendo eleições livres e o fim da repressão. O povo venezuelano clama por uma saída justa – com liberdade e soberania, e não por novos tutores estrangeiros em busca de vitórias políticas.

Esse artigo foi escrito em colaboração com Carlos José León, cientista político venezuelano que me ensinou muito sobre a realidade deste país.

 

*A Doutrina Monroe, proclamada pelos Estados Unidos em 1823, estabelecia o princípio de que qualquer intervenção de potências europeias nas Américas seria vista como uma ameaça à segurança norte-americana, resumida na frase “a América para os americanos”. Embora inicialmente apresentada como uma medida de proteção aos recém-independentes países latino-americanos contra o neocolonialismo europeu, na prática, a doutrina serviu como base ideológica para justificar a crescente influência e intervenção dos Estados Unidos na América Latina ao longo dos séculos XIX e XX, consolidando sua hegemonia política, econômica e militar na região.

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