Julio Souza/Capta
Saúde
A economia que gira em torno das BETs, das canetinhas emagrecedoras e dos influenciadores
Todos querem ser magros, ricos e famosos, não necessariamente nesta ordem. Pelo menos, isto é o que podemos depurar ao observar os três pilares que sustentam a economia da atenção e do desejo atual: a explosão desenfreada das apostas online (as onipresentes “bets”), as vendas crescentes e indiscriminadas das “canetinhas” de emagrecimento e a saturação do mercado de influenciadores digitais.
Parece que montamos um ecossistema onde a felicidade foi reduzida a um corpo esquálido, uma conta bancária inflada por “sorte” e a validação de milhões de estranhos na internet. Mas observe que o outro lado da moeda é cruel. Esses três objetivos de vida, se é que podemos chamar assim, dada a vacuidade que carregam, estão cobrando um preço altíssimo. Eles não estão apenas pautando conversas; estão fazendo com que as pessoas drenem sua saúde física, sua sanidade mental e, ironicamente, exauram suas finanças na busca por uma riqueza fácil que nunca chega.
O mecanismo é perverso. As bets vendem a ilusão de renda sem trabalho, transferindo a renda de famílias endividadas para plataformas, muitas sediadas em paraísos fiscais. As injeções para emagrecer, milagrosas para quem tem indicação clínica, viraram muletas estéticas para quem busca um padrão inalcançável, muitas vezes ignorando efeitos colaterais severos. E o influenciador vende uma vida editada que faz a realidade do espectador parecer medíocre e insuportável.
O resultado é uma conta que já chegou para a sociedade, especialmente para os mais novos. Estamos vivendo uma epidemia de saúde mental entre os jovens. Dados recentes são alarmantes: Os relatórios “Saúde Mental Mundial Hoje” e “Atlas da Saúde Mental 2024” ressaltam o aumento da prevalência de transtornos mentais em todos os países e comunidades afetando pessoas de todas as faixas etárias e rendimentos.O custo indireto da depressão e da ansiedade à economia global é de cerca de US$ 1 trilhão por ano. Estudos apontam que quase metade da Geração Z relata sentir-se estressada ou ansiosa na maior parte do tempo, fruto direto da pressão estética e financeira amplificada pelas redes sociais.
A vida pode ser boa demais para transformarmos essas verdadeiras ameaças em propósitos. A verdadeira riqueza reside em vivermos plenamente os dons que recebemos e em contemplar a exuberância do planeta que habitamos. A felicidade genuína está na capacidade de cultivar conexões reais e aproveitar momentos simples com quem realmente importa. As pesquisas sobre longevidade e bem-estar são claras: um viver longo, saudável e prazeroso é fundamentalmente incompatível com a tríade sintética do Mounjaro, das bets e da vida editada dos influencers.