E se o “Careca do INSS” fizer uma delação? Quem sobra? O presidente da CPMI, senador Carlos Viana, e o relator, deputado Alfredo Gaspar, conversam no túnel do tempo, no Senado | Foto: Evandro Éboli/MyNews CPMI

E se o “Careca do INSS” fizer uma delação? Quem sobra?

Coluna da Mara Luquet no MyNews

Há uma CPMI em andamento no Congresso que, à primeira vista, pode parecer apenas mais uma entre tantas. Não é. O que está sobre a mesa são as engrenagens da Previdência Social, o maior gasto do orçamento brasileiro, o principal pilar de proteção social do país e, sobretudo, a política pública que definirá se o Brasil terá condições de atravessar o século da longevidade sem colapsar. Discutir fraudes, desvios e responsabilidades no INSS é, na prática, discutir a sustentabilidade do futuro nacional. A CPMI precisa avançar para uma delação do “Careca do INSS”.

A presença de uma CPMI, via de regra, é espetáculo. O que tem efeito real são os achados. Até agora, a comissão não produziu fatos novos relevantes. E uma CPI só ganha força quando revela o que estava escondido. A expectativa é de que a quebra de sigilos, a identificação da participação de políticos ou dirigentes de alto escalão, ou mesmo uma eventual delação do “Careca do INSS” mudem o rumo da investigação. Aí, sim, ela poderá deixar de ser apenas barulho para se transformar em tempestade.

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Porque sejamos claros: não parece crível que um esquema dessa dimensão tenha nascido apenas de má gestão. Há indícios consistentes de que, já em 2022, práticas fraudulentas começaram a se instalar em menor escala, explodindo em 2023 e 2024 com a participação ativa de operadores do INSS.

A Previdência rural é um exemplo eloquente. Ali se escondem distorções que, em qualquer outro país, seriam tratadas como escândalo. Mas alguém acredita que o governo tem interesse em enfrentar essa realidade? Não tem. E a CPMI, ao que tudo indica, também não ousará tocar neste vespeiro político.

O mesmo vale para o atestmed, talvez o maior roubo de dinheiro público da história recente, que segue até hoje, ainda que talvez em menor escala. Seria esse o verdadeiro núcleo da investigação, mas tudo indica que também ficará de fora.

Paira então a dúvida essencial: até onde chegará a CPMI? O envolvimento de ex-dirigentes do INSS já está configurado. Mas nem governo, nem oposição, parecem estar dispostos a vasculhar essas contas de verdade. E se a teia alcançar políticos, de diferentes partidos? É aí que reside a relevância desta comissão: ela pode expor a corrupção que drena o coração do sistema previdenciário brasileiro ou se limitar a um relatório morno, escrito sob medida para não incomodar ninguém.

No século da longevidade, quando o equilíbrio da Previdência definirá o destino de gerações, o país não pode se dar ao luxo de fingir que olha para o problema. A CPMI tem em mãos a oportunidade de abrir a ferida e expor as entranhas de um sistema que sustenta o Brasil. Se não o fizer, não será apenas mais uma CPI esquecida: será a confissão de que escolhemos tapar os olhos, os ouvidos e, principalmente, a boca.

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