Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes | Foto: Carlos Moura/SCO/STF
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O Brasil não precisa de mitos. O fortalecimento das instituições de fiscalização é o único caminho para um país próspero e justo.
Não existe democracia sólida construída sobre a conveniência de “passar pano”. Atualmente, vivemos uma crise existencial profunda. Ela atinge, sobretudo, quem se entregou ao “oba-oba” da polarização. Nesse cenário, a coerência ideológica foi sacrificada em nome do sobrevivencialismo político. Por isso, torna-se impossível explicar a atual canonização de Alexandre de Moraes por setores da esquerda. O dever do cargo não autoriza o messianismo.
Em primeiro lugar, é preciso exercitar a memória. Convém lembrar que Moraes é um afilhado político de Michel Temer, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab. Ele jamais transitou pelo campo progressista. Inclusive, chegou ao STF pelas mãos de Temer, o mesmo que a esquerda sempre chamou de “golpista”. Portanto, a defesa fervorosa que esses mesmos grupos fazem dele hoje é uma bofetada na própria biografia.
Além disso, há um erro de conceito grave. Muitos dizem que Moraes salvou a democracia. De fato, ele teve um papel essencial. Contudo, é necessário pontuar: isso estava no seu job description, o dever do cargo. Cumprir o dever institucional com vigor não transforma um magistrado em super-herói. Por conseguinte, esse papel não lhe confere imunidade crítica, nem autoriza ataques ao trabalho da jornalista Malu Gaspar. Atacar a imprensa para blindar um ídolo de ocasião é um método autoritário.
Por outro lado, a direita também se perde na própria futilidade. Enquanto o país exige transparência, esse campo prefere se entreter com a “treta das Havaianas”. Essa distração não é por acaso. Ela serve como uma cortina de fumaça estratégica. Nesse sentido, o silêncio sobre os fatos reais revela a presença de figuras como Vorcaro operando em ambos os lados. Entre o barulho vazio e o silêncio cúmplice, as instituições de controle enfraquecem.
Portanto, a única saída é trazer o assunto para o domínio público. O Brasil precisa de uma CPI. Somente uma investigação oficial pode romper o ciclo de narrativas das redes sociais. Nesse contexto, o centro gravitacional do impasse é o depoimento do Presidente do Banco Central. Havendo a convocação, o cenário se torna um xeque-mate institucional inescapável.
Se o presidente do BC for depor amparado por um HC para ficar em silêncio, a mensagem será clara. O peso político dessa omissão será insustentável para Moraes. Afinal, o silêncio protegido grita a verdade. Por outro lado, se ele decidir falar a verdade e confirmar as denúncias o ministro cairá. Caso opte por mentir para salvá-lo, o destino será a cadeia por falso testemunho. A CPI tem poder para encurralar a mentira e escancarar a verdade. Sim, em seu depoimento ele poderá convencer a todos que Moraes nunca o procurou para falar qualquer coisa sobre o Master. Nesse caso, ambos saem ileso.
Em suma, o Brasil não precisa de mitos. O fortalecimento das instituições de fiscalização é o único caminho para um país próspero e justo. Se você defende o Estado de Direito, não pode temer a investigação. É hora de sair do “oba-oba” e exigir que a República funcione. A transparência não é uma escolha; é uma obrigação.