Plano para retomada de territórios começa com entrega de títulos de propriedade Rio

Plano para retomada de territórios começa com entrega de títulos de propriedade

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Plano para retomada de territórios ocupados pelo crime organizado no Rio começa com entrega de títulos de propriedade

O plano do Governo do Estado do Rio de Janeiro para a retomada efetiva e sustentável dos territórios ocupados pelo crime organizado começa com uma surpreendente mudança de prioridade: a entrega do título de propriedade dos imóveis para os moradores das comunidades. A estratégia inverte a lógica tradicional e coloca a segurança jurídica e o desenvolvimento social como o alicerce para o restabelecimento da ordem.

Segundo o Secretário de Segurança Pública, Vitor Santos, a iniciativa não é aleatória. Ela se baseia em pesquisas robustas de opinião e necessidades nas favelas.

…a gente tá se valendo de pesquisas o Instituto Data Favela e IGBE e CUFA fizeram uma pesquisa no Brasil inteiro,” afirmou o Secretário. “…você sabe qual é o sonho número um de quem mora em comunidade? Habitação, o registro! Ninguém tem propriedade.”

O elo fraco do crime organizado  

Santos explicou que a ausência de registro de propriedade torna os imóveis um ativo de fácil exploração para milicianos e traficantes. Sem o título legal, o crime organizado pode facilmente se apropriar, negociar ou expulsar moradores, transformando os imóveis em uma fonte de renda e poder.

“É muito fácil o miliciano traficante pegar aquele imóvel porque ninguém tem registro, não é dono”, disse Santos.

A resposta do Estado é direta e de forte simbolismo: afirmar-se como dono do território e, imediatamente, transferir essa propriedade legal ao morador.

Mais que um papel 

A entrega dos títulos vai além de proteger os moradores contra a extorsão e apropriação criminosa. O documento é o “começo de tudo” para o desenvolvimento da comunidade:

  • Acesso a Crédito: O título de propriedade permite aos moradores obter recursos mais baratos para financiar obras, melhorias e reformas em suas casas.
  • Segurança Jurídica: Confere o valor legal e a segurança da posse, transformando o imóvel em um patrimônio familiar.

A pesquisa que embasa a estratégia do Rio também revelou que o segundo maior sonho dos moradores é a segurança, mas entendida como a manutenção da lei e da ordem, e não apenas operações policiais esporádicas.

Com a entrega dos títulos de propriedade já iniciada, o Rio de Janeiro lança um novo modelo de retomada de territórios que prioriza a dignidade, o direito à moradia e o empoderamento econômico do cidadão como o primeiro e mais importante passo para vencer a hegemonia do crime organizado.

O novo plano de segurança pública do Rio

O novo Plano de Segurança Pública do Rio de Janeiro surge como resposta a uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a existência de um “estado de coisas inconstitucionais” no estado, provocado pela atuação de organizações criminosas (veja íntegra da entrevista com o secretário abaixo). Essas facções, ao explorarem economicamente os territórios, controlam áreas significativas e geram um complexo problema social e de segurança. A essência do plano, conforme explicado pelo secretário ao canal “MyNews”, é a retomada desses territórios com uma abordagem integrada e duradoura.

A principal diferença do novo projeto em relação às antigas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) reside na sua estratégia e foco. As UPPs concentravam-se predominantemente na ocupação e presença policial. Em contraste, o atual plano prioriza a efetiva implementação de serviços estatais após a retomada, abrangendo áreas como segurança, desenvolvimento social e econômico. Essa nova visão busca garantir que o Estado não apenas ocupe o espaço físico, mas também ofereça uma estrutura de serviços que promova a sustentabilidade da intervenção.

Crucialmente, a nova abordagem valoriza a participação ativa da comunidade no processo de retomada e integração de serviços. Além disso, o combate ao crime organizado é estratégico, visando a descapitalização dessas organizações para minar sua base de poder financeiro. Outro pilar fundamental do plano é o foco na saúde mental dos policiais, reconhecendo a importância do bem-estar dos agentes de segurança para a eficácia das operações a longo prazo.

Inicialmente, a estratégia de retomada está concentrada na região Sudoeste do Rio de Janeiro. Esta escolha se deve à complexidade logística da área e ao envolvimento de múltiplas facções criminosas, tornando-a um ponto de partida estratégico para testar e consolidar o modelo de intervenção integrada. O projeto, portanto, visa ser um esforço de escopo amplo e sustentável, diferentemente da ocupação policial das UPPs, ancorado na integração de segurança e desenvolvimento.

 

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