Ministro Alexandre de Moraes durante Sessão plenária do STF | Foto: Victor Piemonte/STF
Banco Master
Se ele escolher a retaliação, estará se despindo da toga antes de assinar qualquer despacho
As redes sociais e os bastidores de Brasília fervem com uma narrativa explosiva. Especula-se que o ministro Alexandre de Moraes prepara um revide contra o Grupo Globo e o banqueiro André Esteves. Em suma, uma espécie de vingança. Eles seriam os supostos arquitetos de uma orquestração para derrubá-lo do STF. Eu duvido que o ministro siga este caminho. Se ele escolhesse a retaliação, estaria se despindo da toga antes de assinar qualquer despacho.
A toga preta não é um detalhe estético ou um figurino de gala. Ela simboliza sobriedade, contenção e a morte das vaidades pessoais em favor da lei. Diante da toga, o juiz deixa de ser um indivíduo passional para representar uma instituição secular. Quem julga é o cargo, amparado na razão e na Constituição. O revide pessoal é o oposto exato da magistratura; é a vitória do homem sobre o rito.
Dizem que Moraes está indignado porque a crise alcançou sua família. É difícil acreditar que o ministro, acostumado ao tiroteio constante do bolsonarismo, sucumba agora. Ele sempre demonstrou frieza técnica e segurou firme as rédeas do Estado Democrático de Direito. Quem conduz processos desta magnitude conhece o preço da exposição. Por isso, a família deve estar preparada para o escrutínio no momento em que a esfera privada toca a vida pública.
Não foi a imprensa que colocou os familiares do ministro na roda. Sua mulher entrou nessa esfera ao assinar um contrato com o Banco Master por cifras que espantaram os maiores escritórios de advocacia. O contrato também carece de um escopo delimitado. O ministro certamente previu que este fato viria a público cedo ou tarde. Por conseguinte, não existe razão racional para revides. A notícia apenas reflete as escolhas feitas no campo privado e não caberia na liturgia da toga.
Portanto, só vejo uma hipótese para o ministro despir-se do manto e mergulhar em um embate pessoal. Seria ceder àquele pecado que o diabo de Al Pacino, em O Advogado do Diabo, confessa ser o seu favorito: a vaidade. É um convite sedutor. Mas, para quem já enfrentou tempestades históricas, naufragar no próprio ego seria um erro de roteiro. A vaidade é a única força capaz de convencer um magistrado de que sua indignação pessoal é maior que a instituição que ele representa.
Por fim, precisamos focar no que realmente interessa ao país. As deputadas Heloísa Helena e Fernanda Melchionna protocolaram o pedido de uma CPMI neste sábado. Esta comissão pode esclarecer os pontos cegos de uma crise que escala e ameaça a independência do Banco Central. Em suma, Alexandre de Moraes não é delegado de polícia, é ministro da Suprema Corte. Dito isso, a resposta para este momento não está na vendetta, mas na transparência dos fatos que a CPMI pode trazer à luz.
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