A queda da Ambipar, da ascensão meteórica à recuperação Judicial A Queda da Ambipar, da Ascensão Meteórica à Recuperação Judicial / Foto: Reprodução MyNews Crise de Liquidez e ESG

A queda da Ambipar, da ascensão meteórica à recuperação Judicial

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O mercado financeiro testemunhou uma reviravolta dramática no cenário de investimentos com o recente pedido e aprovação da recuperação judicial (RJ) da Ambipar Participações e Empreendimentos S.A.. É uma empresa que até pouco tempo era vista como um caso de sucesso na onda de investimentos em sustentabilidade. A empresa cresceu de forma exponencial no setor de ESG (Ambiental, Social e Governança).

A História de um Crescimento Acelerado

A Ambipar, classificada no setor Bovespa de Utilidade Pública e com governança no Novo Mercado (NM), surgiu focada no que chamavam de “emergências químicas”. A empresa firmava contratos com transportadoras de produtos químicos e, em caso de acidentes (como um caminhão tombado), chegava ao local com equipes e equipamentos para remover os resíduos, impedindo a contaminação do solo e do lençol freático.

A partir dessa base, a companhia expandiu seu DNA de cuidado com o meio ambiente. Ela começou a atuar na coleta de óleo usado (diesel, óleo de motor) em postos de gasolina e locais de troca de óleo, dando-lhe um destino adequado. O grupo também desenvolveu um braço de reciclagem e realizou aquisições no mercado externo, como a compra de uma empresa na Inglaterra dedicada ao socorro de acidentes em alto mar.

A companhia aproveitou a onda ESG e abriu capital (IPO) em 2020. Na época, as ações foram cotadas a R$ 24. A partir do IPO, a Ambipar iniciou uma série de aquisições rápidas, o que a levou a um crescimento meteórico. Em dezembro do ano passado, as ações atingiram um pico impressionante, chegando a R$ 258.

Da dívida aos Green Bonds

O crescimento vertiginoso da Ambipar, impulsionado por aquisições, resultou em um forte endividamento. Apesar do endividamento, a empresa buscou financiamento associado à sua pegada ESG. Em fevereiro de 2024, a Ambipar emitiu Green Bonds (títulos com a temática ESG) no valor de 750 milhões de dólares, com prazo de 7 anos. Em fevereiro de 2025, houve uma nova emissão de 400 milhões de dólares em green bonds, com prazo de 5 anos.

Recentemente, a Ambipar enfrentou uma severa crise de liquidez. O cenário se agravou com a liquidação de um contrato de swap pelo Deutsche Bank, o que teria sido o motivador do pedido de Recuperação Judicial. O ex-CFO da Ambipar chegou a solicitar a busca e apreensão de provas contra diretores da empresa, alegando que estes teriam realizado operações que precipitaram a “derrocada” da companhia.

O reflexo dessa crise foi sentido drasticamente no valor das ações, que desabaram. As ações que chegaram a R$ 258 estão sendo negociadas a apenas R$ 0,37 (37 centavos).

A recuperação judicial e a volatilidade no mercado

Diante da crise, a Ambipar deu entrada no pedido de recuperação judicial. A Justiça do Rio de Janeiro aprovou o pedido de RJ.

O deferimento da recuperação judicial trouxe alguma volatilidade positiva ao preço da ação, ainda que em patamares baixos:

  • A Ambipar fechou em alta de 34,6% após vencer um recurso para manter a recuperação judicial no Rio de Janeiro.
  • A Companhia fechou em alta de 21,2% após a Justiça do Rio aprovar a recuperação judicial.

Com a aprovação, a empresa terá um prazo de 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial. Além disso, o deferimento da RJ garante um período de 180 dias de suspensão de cobrança de dívidas pelos credores.

Apesar do forte declínio, analistas acreditam que a empresa possui ativos espalhados por diversos países, inclusive nos Estados Unidos e no Brasil, e veem perspectiva de que a empresa se reestruture.

O alerta para o mercado ESG

O caso Ambipar é notório pois a empresa estava em carteiras de fundos sustentáveis ESG, sendo um dos investimentos com critérios ESG que “deu muito errado”.

É crucial notar que os problemas da Ambipar foram relacionados primariamente a questões de gestão e à falta de liquidez, e não aos critérios ESG em si. No entanto, a falência levanta questões sobre o desempenho e a análise de riscos no mercado de títulos sustentáveis.

O movimento ESG é antigo, tendo nascido em 2004 no escopo do Impacto Global da ONU. Havia a expectativa de que esses investimentos fossem as “estrelas do mercado”, por indicarem melhores práticas ambientais, sociais e de governança, mas essa expectativa não se confirmou.

Globalmente, o mercado de títulos ESG movimenta cerca de 5,4 trilhões de dólares em green bonds. A premissa é que esses títulos sejam emitidos com taxas de juros menores do que os títulos tradicionais, incentivando o investidor, sob a ideia de que a menor exposição a riscos ambientais e judiciais resulta em um risco geral reduzido.

Contudo, no Brasil, a performance dos fundos ESG enfrenta desafios devido ao alto custo do capital. O país opera com a Selic elevada, resultando em um juro real muito alto (o segundo mais alto do mundo). Para superar esse patamar, as empresas sustentáveis precisam performar excepcionalmente bem.

Além disso, fatores geopolíticos, como a Guerra Rússia-Ucrânia e a instabilidade na política energética global, têm feito com que gestores voltem a investir em energias fósseis, e a mudança na agenda governamental em países como os EUA tem criado uma instabilidade que afasta investidores mais conservadores das alocações ESG. Apesar dos desafios, a agenda da restrição ambiental e das mudanças climáticas, centrais ao ESG, continua sendo um tema global.

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