Gestão de Fortunas
Após perder 5% do patrimônio em apenas quatro meses o empresário Fernando Katsonis decidiu invadir o mercado financeiro e construir o serviço que ele mesmo gostaria de ter contratado
Fernando Katsonis nunca dirigiu uma Maserati, mas já ajudou a trocar o pneu de uma. E essa experiência, aparentemente banal, foi o macaco hidráulico que elevou sua trajetória até ele construir uma empresa que lhe rendeu uma pequena fortuna. Ao vender o negócio, ele amealhou uma liquidez robusta. Como manda o figurino, entregou o capital para gestores de fortunas profissionais. O que parecia a solução para uma vida tranquila gerou um prejuízo de 5% do patrimônio em apenas quatro meses. Mas aí, como no caso da Maserati com o pneu furado, ele viu no infortúnio uma oportunidade. Foi ali que ele decidiu abandonar o banco do passageiro para assumir o volante, tornando-se um “intruso no mercado financeiro”.
Engenheiro de formação e forjado na “economia real”, Katsonis fundou a Lifetime com a lógica de quem entende de engrenagens, não apenas de planilhas. Ele não olha para o mercado com o tédio de um herdeiro ou a frieza de um operador de mesa. Ele olha com o pragmatismo e como quem já estve do outro lado do balcão.
Abaixo, deciframos a filosofia desse empresário através de cinco aforismos que colhemos nesta conversa com o MyNews, a íntegra está no vídeo, abaixo.
Katsonis aprendeu isso importando pneus de luxo para ajudar um amigo e descobriu a oportunidade de um grande negócio. O valor não está no custo do produto, mas na solução de uma “dor”. Se você julga o gasto do outro pela sua própria régua financeira, você perde a venda e o cliente. No mercado financeiro, isso significa entender que o objetivo do investidor é o que dá sentido ao dinheiro, e não o contrário.
Para quem já conquistou o patrimônio, a moeda mais escassa é o tempo, não o real. Katsonis percebeu que a eficiência é o maior luxo que um gestor pode oferecer.
Aqui entra o famoso skin in the game. A Lifetime nasceu da frustração de Katsonis ao ver seu próprio dinheiro derreter sob a gestão de terceiros que não sentiam a dor da perda. Ele se tornou o “cliente número um” da própria casa. A lógica é simples: se ele não investiria o próprio suor naquele produto, ele não o oferece ao cliente.
Parece heresia vindo de um homem do mercado, mas Katsonis é categórico: em sucessões familiares, o Excel vem depois do divã. Disputas de ego, falta de governança e conflitos entre herdeiros destroem fortunas muito mais rápido do que uma queda na Bolsa. Antes de escolher o fundo de investimento, ele defende que é preciso arrumar a casa, alinhar a cultura familiar e preparar os sucessores. O ativo mais difícil de gerir não é o financeiro, é o humano.
Como bom engenheiro, Katsonis lida bem com cálculos, mas abomina o caos. Para ele, o capital foge do Brasil não necessariamente pelos impostos altos, mas pela falta de regras claras. O investidor aceita o custo do jogo, desde que o juiz não mude a regra enquanto a bola está no ar. A “surpresinha negativa” do governo ou da insegurança jurídica é o veneno que impede o planejamento de longo prazo e empurra o patrimônio para o offshore.