Fernanda
Planejamento Financeiro
Além das fórmulas virais: o que as mulheres precisam saber para transformar o medo em estratégia financeira.
Numa época em que influenciadores de internet despejam regras e vendem aulas de como enriquecer ou aplicar bem seu dinheiro, Fernanda Moura, escuta, acolhe e só então começa, em conjunto, a desenhar estratégias. Porque a verdade é: nada que realmente importa para sua vida estará jorrando aos borbotões nas receitas fáceis, simplistas e comuns de influencers. Cada caso é um caso, uma história, um perfil. E para cada um deles há uma maneira eficiente de lidar. Só que antes é preciso escutar. É a escuta o início de tudo no trabalho cuidadoso de Fernanda. Ela é a principal executiva da LifetimeW, consultoria financeira especializada em atender mulheres das mais diversas classes sociais, idade e perfis.
A internet promove a ilusão de um enriquecimento rápido baseado em fórmulas universais. Contudo, o trabalho de Fernanda revela uma realidade financeira feminina mais complexa. Uma história marcada por inseguranças profundas, prioridades familiares e um medo concreto do futuro. Longe dos clicks e dos likes, as queixas ouvidas na “clínica financeira” de Fernanda revelam um panorama onde a gestão do dinheiro é indissociável da gestão das emoções e das crises de vida.
Ela nos conta um pouco de sua rotina nesta conversa com o MyNews Vida e Previdência.
A incerteza sobre o futuro domina, especialmente em um contexto onde a longevidade aumenta, podendo levar a pessoa a viver até 95 anos. O desabafo mais grave é a constatação de que, mesmo mulheres bem-sucedidas em suas vidas laborativas, tem o risco real de chegar à velhice em situação grave de vulnerabilidade financeira.
Atraso na poupança própria é uma constante. As mulheres admitem que, durante toda a vida produtiva, pensaram primeiro no filho, na casa e nos pais (devido à longevidade deles), e adiaram a poupança própria. Soma-se a isso o receio do custo da longevidade, pois a mulher percebe que não ficará mais barata, mas sim mais cara. O plano de saúde, em especial, é um grande vilão financeiro, com muitas mulheres que saem do corporativo se aposentando sem plano e enfrentando contas de até R$ 10 mil por mês, algo nunca considerado no planejamento. A pergunta que as assombra é: “Se eu viver muito, o que farei?”.
Muitas mulheres se sentem despreparadas para gerir crises que são estatisticamente comuns, como divórcios e viuvez, especialmente após os 50 anos.
O divórcio ou a viuvez machuca financeiramente porque muitas mulheres nunca pagaram uma conta ou não sabem fazer a gestão do patrimônio, mesmo que ele exista. O desespero não escolhe status.
Outra questão grave é o abuso financeiro, onde mulheres casadas (que às vezes não trabalham fora) acham que não têm direito ao patrimônio ou são abusadas moralmente pelo marido por supostamente gastar demais, mesmo quando estão trabalhando em casa pelos filhos e pelo patrimônio da família. O desabafo mais doloroso é o alto índice de mulheres que, ao descobrirem uma doença séria, como o câncer, são deixadas ou se separam do marido, ficando sozinhas e sem dinheiro.
A mulher manifesta uma dificuldade central em se colocar em primeiro lugar nas finanças, algo que é um foco constante do trabalho de Fernanda.
Há a queixa do que se chama de “mãe-trocínio”: filhos mais velhos (“quarentões” ou na segunda faculdade) que ainda estão em casa e drenam dinheiro. Esse sustento ocorre no momento em que a mulher deveria estar usufruindo, e o custo não só prejudica o final de vida dos pais, mas também joga uma responsabilidade financeira futura para os netos, pois os filhos dependentes não desenvolvem autossuficiência.
Um desafio geral que aparece fortemente na clínica é a falta de consciência sobre o custo de vida real. As clientes têm apenas uma vaga ideia de seus gastos. Elas relatam: “Eu ganho 30, gasto 20, sobram 10? Não, não está sobrando”. O planejamento busca, inicialmente, identificar onde o dinheiro está “vazando” para que o gasto se torne consciente e o planejamento seja eficaz.
Existe uma dificuldade cultural em abordar o tema financeiro dentro do casal ou da família. Mulheres relatam que a conversa sobre dinheiro só surge quando já é tarde demais, transformando-se em briga, não em planejamento. Muitas acham que não sabem o suficiente para conversar com o homem sobre dinheiro e não se posicionam, deixando que ele toque as finanças por achar que “ele já sabe tudo”.
O caminho para a autossuficiência feminina, como mostra Fernanda Moura, não começa com uma planilha ou uma aplicação da moda, mas sim com a escuta atenta das vulnerabilidades. É preciso reconhecer o histórico de despriorização e as crises emocionais e estatísticas que impactam o patrimônio de forma única. A eficácia, neste contexto, reside em transformar a dor da incerteza em estratégia concreta, provando que o planejamento financeiro, quando humanizado, é a verdadeira ferramenta de empoderamento e segurança para a mulher.
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