Os jornalistas Franklin Martins, Fernando Gabeira e Cid Benjamin, que sequestraram Charles Elbrick em 1969,, na ditadura, relatam como é viver sem visto para entrar nos Estados Unidos
Nem todo mundo que é barrado nos Estados Unidos chega lá por ter enfrentado extremistas na Suprema Corte. Alguns são barrados com um currículo bem mais… cinematográfico. É o caso de Franklin Martins, Fernando Gabeira e Cid Benjamin, que, em 1969, participaram do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. O episódio custou o visto de imigração negado para sempre. Já se vão 56 anos sem o direito de entrar nos Estados Unidos, para eles.
Agora, com Alexandre de Moraes impedido de pisar em solo americano, os três veteranos, todos sobreviventes da tortura e perseguição da ditadura militar brasileira, foram procurados pelo MyNews para oferecer conselhos práticos sobre como viver bem sem pisar na terra do Tio Sam.
Franklin Martins, ex-ministro e jornalista, lembra que foi conversar com Thomas Shannon, então embaixador dos EUA no governo Lula, na época que era ministro da Secom. O encontro foi ótimo, mas o visto… nada. Saiu com uma frase que poderia estar num manual diplomático:
“Eu acho que eu e os Estados Unidos sobreviveremos a essa bobagem.”
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Desde então, Franklin descobriu que o mundo é grande: quase 30 países na África, América Latina inteira, Brasil de ponta a ponta. E a cultura, para ele, é o teletransporte definitivo, sempre leu e lê autores americanos e consome a música universal de gênios estadunidenses. Não precisa estar lá.
“Você não come tão bem, não bebe tão bem, mas viaja muito bem”.
Fernando Gabeira assume que é uma perda não visitar os EUA. Gosta do país, acha vibrante, criativo, enriquecedor. Mas dá a receita para quem não tem o visto, como ele : com a tecnologia de hoje, você pode absorver mais da cultura americana do que o próprio presidente dos Estados Unidos.
“Desapegue, Alexandre, desapegue”
Cid Benjamin é o mais direto. Não vê drama nenhum:
“Isso nunca atrapalhou minha vida. Tive oportunidades de conhecer culturas até mais interessantes do que a americana.” É quase zen-budista: desapegue, Alexandre, desapegue.
Entre filosofia de viagem, diplomacia literária e minimalismo cultural, o recado é claro: há vida fora dos Estados Unidos e ela pode ser bastante divertida. E, se serve de consolo ao ministro, e a outros que porventura foram também cerceados, esses três sabem bem o que é enfrentar governos hostis e ainda assim dormir tranquilo. Afinal, como diz Franklin, tanto ele quanto os Estados Unidos já sobreviveram a bobagens muito maiores.