Castro x Lula: operação no Rio expõe crise entre os governos estadual e federal Fotos: Rogério Santana /Governo do Estado do Rio de Janeiro e Ricardo Stuckert/Gov

Castro x Lula: operação no Rio expõe crise entre os governos estadual e federal

Tamanho do texto:

Governador do Rio de Janeiro reclamou de ausência de suporte do Governo federal e recebeu resposta direta de Brasília em nota

O Rio de Janeiro viveu nesta terça-feira (28) a maior e mais letal operação policial de sua história, com mais de 64 mortos, entre eles quatro policiais. Ao todo, 75 fuzis foram apreendidos. A ação também provocou uma crise entre o governo estadual, comandado por Cláudio Castro (PL), e o governo federal, liderado por Lula (PT). O governador acusa Brasília de não oferecer suporte às ações contra o crime organizado.

Durante coletiva no início das operações, Castro afirmou que os pedidos de blindados das Forças Armadas foram negados pelo governo federal. Segundo ele, o Rio de Janeiro está sozinho para enfrentar as facções criminosas.

“Já entendemos haver uma política de não ceder. Disseram que precisa de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Depois afirmaram que poderiam emprestar e voltaram atrás porque o servidor que opera o veículo é federal e deveria ter a GLO, enquanto o presidente é contra a medida. Entendemos que a realidade é essa e não vamos ficar chorando pelos cantos”, disse o governador.

Ele também declarou:

“Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com segurança pública. É uma operação de defesa, um estado de defesa. É uma guerra que está passando dos limites de onde o Estado deveria estar sozinho. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com a segurança urbana, deveríamos ter um apoio muito maior e, talvez, até das Forças Armadas. É uma luta que já extrapolou toda a ideia de segurança pública e daquilo que está na Constituição Federal, quando você tem essa quantidade de armas que vem do tráfico internacional e o poder bélico financiado por lavagem de dinheiro. Não é mais só responsabilidade do Estado.”

+ Rio de Janeiro: maior ação policial da história deixa mais de 60 mortos

Ainda nesta terça, o governo federal reagiu e divulgou uma nota negando a falta de apoio ao governo do Rio.

Confira a nota do Governo Federal

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a Força Nacional atua no estado desde outubro de 2023, conforme a Portaria nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A operação segue vigente até 16 de dezembro de 2025, podendo ser renovada.

O ministério afirma que atendeu a todos os pedidos do governo fluminense para o emprego da Força Nacional em apoio aos órgãos de segurança federais e estaduais. Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação, todas aprovadas.

No âmbito da Polícia Federal (PF), apenas em 2025 foram realizadas 178 operações no Rio de Janeiro, sendo 24 relacionadas ao tráfico de drogas e armas. Ao todo, houve 210 prisões, das quais 60 ligadas diretamente a investigações sobre tráfico.

No mesmo período, a PF apreendeu 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis, além de cerca de 600 peças e acessórios de armamento suficientes para montar aproximadamente 30 fuzis.

Entre 2024 e 2025, até outubro, foram cumpridos 855 mandados de prisão, sendo 462 em 2024 e 393 em 2025.

Entre as ações de destaque, estão a Operação Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produzir 3.500 fuzis por ano para o Comando Vermelho, e as operações Buzz Bomb e Libertatis, deflagradas em 2024, que prenderam os operadores de drones das principais facções do estado.

A PF também coordena duas ações conjuntas com as forças estaduais, FICCO/RJ e Redentor, reforçando o combate integrado ao crime organizado.

Desde 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atua em operações de combate a roubos de cargas e veículos nas rodovias federais do Rio. De janeiro de 2023 a outubro de 2025, foram recuperados 3.082 veículos, apreendidas 13.961 munições, 172 armas curtas e 72 fuzis. No mesmo período, 8.250 pessoas foram detidas, R$ 3,24 milhões em valores ilícitos foram apreendidos, além de 29,5 toneladas de maconha, 3,9 toneladas de cocaína e 73.990 unidades de drogas sintéticas.

O governo federal também destaca que o Rio recebeu recursos significativos para investir em segurança pública e no sistema penitenciário. Pelo Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), o estado recebeu mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024, valor que, com rendimentos, superou R$ 143 milhões. No entanto, apenas R$ 39 milhões foram utilizados, restando mais de R$ 104 milhões em conta.

Já pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o Rio recebeu quase R$ 288 milhões desde 2019, valor que, com rendimentos, chegou a R$ 331 milhões. Deste total, R$ 157 milhões foram executados, deixando um saldo de mais de R$ 174 milhões disponíveis.

Além disso, o estado foi beneficiado com doações de veículos, computadores, drones, coletes e munições, somando cerca de R$ 10 milhões.

O MJSP também informou que, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), vem desenvolvendo iniciativas com o governo fluminense, como a integração à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).

Outro acordo prevê a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, que cruza dados policiais e judiciais para identificar e prender criminosos de outros estados refugiados em comunidades do Rio.

Também foi criado o Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), voltado a descapitalizar organizações criminosas por meio de inteligência financeira e investigações de lavagem de dinheiro. Até setembro de 2025, o comitê analisou 59 relatórios do Coaf, envolvendo mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos.

Em fevereiro deste ano, Cláudio Castro se reuniu com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e recebeu dez vagas em presídios federais para abrigar lideranças criminosas do estado.

“A missão é a cooperação total entre União e o RJ. Estamos empenhados em combater o crime de forma cooperativa e integrada. Esse é mais um exemplo da integração federativa que a PEC da Segurança Pública pretende consolidar”, afirmou o ministro após o encontro.

O Ministério da Justiça reafirmou o compromisso com o Rio de Janeiro e destacou que as ações coordenadas visam fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir a criminalidade e garantir mais segurança à população.

RIO EM GUERRA: 64 MORTOS E UMA DISPUTA ENTRE CASTRO E LULA  – JORNAL DO MYNEWS

🎥 Curtiu esse conteúdo?
Tem muito mais esperando por você.
Entrevistas completas, e-books e livros exclusivos para membros, a partir de R$ 7,99/mês.
🔒 Seja Membro MyNews e tenha acesso ao que vai além da notícia.

Clique neste link e seja membro do MyNews — ser inscrito é bom, mas ser membro é exclusivo!

Relacionados