Letramento digital e inclusão: um desafio urgente para pessoas 60+ Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Letramento digital e inclusão: um desafio urgente para pessoas 60+

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Coluna da Juliana Roman no site do MyNews

Vivemos em uma realidade onde o acesso a serviços públicos, privados e até mesmo o exercício do direito de consumir e participar socialmente estão cada vez mais mediados por aplicativos e plataformas digitais. Para muitas pessoas acima de 60 anos, essa transformação representa não somente uma barreira tecnológica, e consequentemente uma problemática social relevante.

Afinal, como exercer plenamente a cidadania se ações cotidianas — como agendar uma consulta médica, acessar um benefício público ou realizar uma compra online — exigem habilidades digitais que nem todos tiveram a oportunidade de desenvolver?

A exclusão invisível no contexto digital

Historicamente, a exclusão digital foi tratada como um problema de acesso — quem não tinha computador, celular ou internet simplesmente ficou fora. Hoje, o problema é mais complexo: a exclusão está na falta de letramento digital, ou seja, na ausência de competências básicas para compreender, usar e se beneficiar da tecnologia de forma segura e autônoma.

Nesse contexto, pessoas idosas, ou seja a partir dos 60 anos, conforme o Estatuto de Idoso, muitas vezes, não tiveram a oportunidade de desenvolver essas habilidades em contextos profissionais ou educacionais. Assim, tarefas simples para gerações mais jovens

— como emitir um documento digital, acessar o aplicativo do banco ou marcar uma consulta médica — tornam-se obstáculos diários.

Essa barreira tecnológica não é apenas funcional: é também emocional. Ela gera sentimentos de insegurança, dependência e desamparo diante de sistemas que não foram pensados para a diversidade de experiências e ritmos de aprendizagem dessa faixa etária.

Quando uma pessoa idosa não consegue acessar o aplicativo de um serviço público, não entende o funcionamento de uma carteira digital ou teme usar um canal bancário online, há uma violação implícita de um direito fundamental: o direito de participar plenamente da vida social e exercer a própria cidadania.

A digitalização de serviços públicos e privados trouxe eficiência e conveniência, mas também um novo dever para o Estado e para o setor privado: garantir que ninguém fique para trás. Isso implica desenvolver políticas públicas de letramento digital, mas também repensar o design, a linguagem e a acessibilidade das plataformas que hoje mediam o acesso a direitos e oportunidades.

O papel dos agentes virtuais e da tecnologia empática

Nesse contexto, a tecnologia pode — e deve — ser parte da solução. Agentes virtuais e assistentes digitais têm o potencial de atuar como pontes entre pessoas idosas e o ambiente digital. Imagine um assistente que ajude a preencher formulários, explique cada etapa de um processo online em linguagem simples ou ofereça instruções por voz a quem tem dificuldade de leitura. Essas soluções não são futuristas; são ferramentas já possíveis, desde que guiadas por princípios de acessibilidade, empatia e ética.

De acordo com Ricardo Schwerz, Co-Founder e UX Designer da A.Guia: “Agentes virtuais e assistentes digitais podem apoiar pessoas idosas ao simplificar tarefas que costumam ser difíceis em sites e aplicativos, explicando o que aparece na tela, indicando o próximo passo e ajudando a conferir informações importantes. O acesso guiado é fundamental no processo, pois organiza a navegação de forma clara e reduz o risco de erros, o que traz mais segurança em ações sensíveis, como pagamentos, cadastros ou envio de dados pessoais. A inteligência artificial contribui ao interpretar conteúdos, ajustar o nível de explicação conforme a necessidade do usuário e oferecer apoio imediato sem exigir experiência prévia com tecnologia. O A.Guia se insere nesse contexto ao interpretar a interface em tempo real e orientar o usuário idoso de forma simples e direta, ampliando segurança, facilitando tarefas e fortalecendo a autonomia digital ao longo do tempo.”.

A integração de inteligência artificial com design inclusivo pode transformar a experiência digital das pessoas 60+, tornando-a mais intuitiva, segura e adaptada às suas necessidades cognitivas e sensoriais.

Uma agenda pública para o envelhecimento digital

O envelhecimento da população brasileira é uma realidade incontornável. Segundo o IBGE, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil subiu de cerca de 8,7% em 2000 para 15,6% em 2023.

Promover o letramento digital dessa geração é investir em autonomia, dignidade e participação social. É também uma estratégia de sustentabilidade: quanto mais pessoas idosas forem capazes de interagir digitalmente, menos sobrecarregados estarão os serviços presenciais e os canais de atendimento, ao mesmo tempo que a economia estará mais aquecida devido à maior aderência ao comércio eletrônico (e-commerce).

Trate-se de um dever multissetorial: poder público, setor privado, academia e terceiro setor agindo em conjunto para garantir a inclusão digital como parte relevante do exercício da cidadania. Não basta conectar — é preciso capacitar, e respeitar os diferentes ritmos de acesso e aprendizagem.

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