Lô Borges foi um dos fundadores do Clube da Esquina, com MIlton Nacimento e outros virtuosos de Minas Gerais
CLUBE DA ESQUINA
Músico mineiro morre aos 73 anos e deixa um universo de composições cultuadas e ouvidas até hoje; foi um dos fundadores do Clube da Esquina
Morreu Lô Borges. Cabem todos os adjetivos e muito mais nesse espaço. E liberdade para todos os clichês. Gênio da raça. Produziu muito, com qualidade única, universal e atemporal. Vem de uma família super musical. Vale a pena conhecer o disco “Os Borges”, menos difundido, mas maravilhoso.
Lô vem do pai, Salomão Borges. O Clube da Esquina foi o início e ápice ao mesmo tempo. Disco que ninguém deixa de ouvir, como de quase todo o resto das obras dessa mineirada. No entorno de Milton Nascimento tinham Lô, Beto Guedes, Toninho Horta, Tavinho Moura, e vários outros, além de um elenco de músicos estelares.
A história da gênese das músicas – como e em que circunstâncias nasceram, onde – é quase tão grande quanto a audição da canção, letra e melodia. São infinitas as histórias. Lembro do Lô contando que “fazia” o Exército – prestava o serviço militar – quando contou ter sido chamado por Milton para ir para o Rio e, juntos gravarem o Clube da Esquina 1, como ficou conhecido. Início dos anos 1970. Aspas para o Lô.
“Pedi dispensa ao sargento: ‘sargento, o Milton Nascimento (já famoso por Travessia) tá me chamando. O Milton Nascimento”, disse.
O tal sargento resistia em liberá-lo. Até que o fez, não sem antes “expor” Lô. Juntou todos os recrutas e disse:
“Senhor Salomão Borges, se o Exército brasileiro não serve para o senhor, o senhor também não serve para o Exército brasileiro”.
E lá se foi Lô, feliz da vida. Nâo, sem antes, levar a tiracolo Beto Guedes, que é outra boa história para se contar.
Como todo artista de produção profícua, Lô tem seu lado A e o lado B. Apropriação que veio dos discos de vinil. Do lado A, os carros-chefes do disco e o lado B as que não eram tão apostas assim, mas não menos belas necessariamente. Às vezes, o contrário.
A lista, dos dois lados, é enorme: O Trem Azul, Um girassol da cor de seu cabelo (ambas com letra do irmão Márcio Borges), Paisagem da janela (letra de Fernando Brant) e Clube da Esquina 2, inicialmente instrumental, com Milton Nascimento, e que Nana Caymmi se apaixonou e pediu letra. A queria cantar. Márcio Borges fez o serviço e colocou a linda letra (“E basta contar compasso…”).
E seguem outros grandes discos: Via Láctea, Nuvem Cigana, Sonho real. E o lendário disco do tênis, feito antes do Clube da Esquina. A gravadora Emi-Odeon queria uma “prova” de que Lô, tão jovem, seria capaz de fazer música de qualidade. Milton o apresentou a gravadora. E, na correria, fez esse disco, em curtíssimo prazo, duas, três composições por dia. E se tornou outro clássico.
Salomão Borges, aos 16 aos, já compunha “Prá Lennon e McCartney”, em parceria com Milton e Márcio. Se vai aos 73 anos. Começou prematuramente e se despede também tão cedo. Estava internado em Belo Horizonte desde o dia 17, após uma infecção medicamentosa.
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