Quinze anos após a ocupação, UPP deixa legado de fracasso nos Complexos do Alemão e da Penha Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Quinze anos após a ocupação, UPP deixa legado de fracasso nos Complexos do Alemão e da Penha

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Em 2010, o Brasil acompanhou a retomada de territórios, mas o cenário piorou atualmente com o fracasso da política de segurança antes comandada por Sergio Cabral e hoje por Cláudio Castro

Era domingo de sol no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 2010. Após uma série de ataques de criminosos na cidade e no estado, o então governador Sergio Cabral e o secretário de Segurança, José Beltrame, determinaram a entrada de agentes e o início da UPP nos Complexos da Penha e do Alemão. Quinze anos se passaram, o projeto criado em 2008 fracassou e ainda influencia a política de combate ao crime. Nesse intervalo, cinco governadores passaram pelo Palácio Guanabara e o problema só piorou.

Atualmente, o estado afirma que o novo plano de retomada precisa do suporte de todos os órgãos, com participação das prefeituras e do governo federal. Há quinze anos, o cenário era outro. Somente a polícia entrou nos complexos, sem programas sociais ou projetos voltados para os moradores. O governo apostava na força bruta e não na presença social e econômica. Visualmente, a UPP na Penha e no Alemão não enfrentou problemas nos dois primeiros anos, mas o crime nunca saiu de lá, só se reorganizou. E hoje avança no Rio e também em outros locais do Brasil, entre eles, o Ceará.

Teleférico não funciona desde 2016

O teleférico do Complexo do Alemão ilustra o fracasso da UPP. Inaugurado em julho de 2011, funcionou até 2016. Era fundamental para o deslocamento dos moradores, mas está fechado há quase dez anos e não existe projeto para retomá-lo. O MyNews procurou as secretarias responsáveis por obras e transporte no estado, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria. As estações atendidas pelo teleférico eram Bonsucesso, Baiana, Alemão, Itararé, Palmeiras e Morro do Adeus.

Estação do teleférico de Bonsucesso fechada — foto: Leonardo Cardoso

Com o desgaste e a queda do PMDB nos governos estadual e municipal, além do fim dos grandes eventos sediados pela cidade entre 2013 e 2016, a UPP perdeu espaço enquanto o crime retomava áreas pouco a pouco. O caso Amarildo, ocorrido na Rocinha, expôs ainda mais o fracasso da política. Agentes do estado mataram um homem sem envolvimento com o tráfico e o corpo nunca apareceu.

Fracassos do projeto da UPP

Outro ponto marcante do fracasso das UPPs foi o aglomerado de policiais despreparados. Muitos saíam do curso de formação e já chegavam a áreas desconhecidas, com uma missão complexa de cumprir. Com o tempo, a própria polícia passou a se sentir acuada em diversas comunidades.

Hoje, o Comando Vermelho avança sobre áreas historicamente dominadas pela milícia, como Gardênia Azul, e tenta chegar a Rio das Pedras, região que eles chamam de Complexo de Jacarepaguá. Em 2010, o cenário era o oposto. Os milicianos ditavam o ritmo no estado, conquistavam áreas estratégicas e até cadeiras nas câmaras de deputados e vereadores. Sempre chamou atenção o fato de a maioria das UPPs ter sido instalada em áreas do Comando Vermelho. Agora, com a intenção de retomar territórios, o estado começará pela zona sudoeste.

Em entrevista exclusiva ao MyNews, o atual secretário de Segurança, Victor Santos, afirma que pretende conter o avanço da criminalidade na região e destaca a presença do Comando Vermelho, do Terceiro Comando Puro e da milícia. Diferentemente da UPP, ele garante que o estado entrará com serviços públicos e policiais preparados, algo que o projeto original nunca teve.

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