No Rio de Janeiro, o tráfico e a milícia diversificam suas fontes de renda dentro e fora de seus territórios. Além do tráfico de drogas, criminosos exploram novas oportunidades para movimentar dinheiro. O MyNews conversou com o Secretário de Segurança, Victor Santos, que revelou mais uma forma de atuação dessas organizações.
Segundo ele, somente 11% dos R$ 145 bilhões movimentados anualmente pelo crime vêm do tráfico de drogas. A maioria do dinheiro circula por outras atividades, principalmente fraudes na internet e no setor de seguros.
“Por que se utiliza tanto uma arma de guerra para roubar um carro no Rio de Janeiro? Porque isso também virou um negócio. No ano passado, observamos um índice alto de roubos de carros, mas também inúmeros veículos recuperados. Isso chamou a atenção. No passado, os criminosos desmontavam os carros roubados, vendiam as peças, clonavam os veículos ou os enviavam para outros estados. Hoje, porém, surgiu uma nova figura: o ‘rei do resgate’”, explica Victor.
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O secretário detalha como esse modelo funciona. Segundo ele, os criminosos não sequestram os carros, mas atuam num sistema que envolve seguradoras e órgãos fiscalizadores. “As cooperativas de seguro entraram na jogada. O proprietário paga um valor muito menor do que um seguro convencional e coloca no vidro do carro um adesivo com o nome da cooperativa e um telefone”, afirma.
Quando um veículo é roubado, os criminosos o levam para dentro da comunidade e entram em contato com a empresa. Uma recuperadora terceirizada define os valores para devolução:
Motos: até R$ 3 mil
Sedãs: até R$ 5 mil
SUVs: até R$ 30 mil
“Agora, pense: não vale a pena para eles pagar R$ 30 mil por um carro avaliado em R$ 400 mil? Virou um negócio. Essa é mais uma fonte de renda para as organizações criminosas”, destaca o secretário.
As autoridades já investigam esse esquema. “Percebemos que algumas delegacias recuperam mais veículos do que outras, enquanto certas cooperativas direcionam mais carros para unidades específicas. Isso indica um mercado muito aquecido. Mais uma vez, não estamos falando somente de criminalidade ou segurança pública, mas de economia”, conclui Victor Santos.
O MyNews solicitou esclarecimentos à SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) e recebeu a resposta nesta terça-feira (18) Confira:
“Até o início deste ano, não havia marco legal que permitisse a atuação de associações de proteção veicular e de cooperativas de seguros de automóveis. A fim de trazer maior segurança jurídica e proteção aos consumidores, o Congresso Nacional aprovou a Lei Complementar nº 213, publicada em 16 de janeiro de 2025, que estabelece regras para a operação dessas entidades no setor. Ao longo dos próximos meses, ocorrerá o cadastramento das entidades e a regulamentação do setor.
Adicionalmente, destacamos que a atuação de organizações criminosas em roubo e furto de veículos e a ocorrência de práticas ilegais associadas ao pagamento de resgates de veículos roubados são questões de segurança pública, que são de competência dos órgãos de segurança pública, para os quais a Susep está à disposição, sempre que requisitada.”, disse o órgão responsável em nota enviada ao MyNews.