Um 31 de Março “diferente” na Ordem do Dia nos quartéis Braga Netto, Jair Bolsonaro e Augusto Heleno deverão se tornar réus por tentativa de gole de Estado na próxima terça-feira, no STF | Imagem: Canal MyNews RÉUS GOLPE DE ESTADO

Um 31 de Março “diferente” na Ordem do Dia nos quartéis

Pela primeira vez, a partir do julgamento do STF nesta terça, o país deverá ter um ex-presidente e vários generais se tornando réus, acusados de golpe de Estado

Sempre que se aproxima a data de 31 de Março há uma expectativa sobre a manifestação dos militares em relação ao tom a ser dado ao golpe que instaurou uma ditadura de 25 anos no país, a partir de 1964. Mesmo em plena redemocratização, e até pouco tempo, a chamada Ordem do Dia nos quartéis era aguardada e cercada desse mistério.

Se nas quatro gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff – até  seu impeachment -, em 2016,  o culto ao 31 de Março de 1964 perdeu força, a data voltou a virar comemoração com o capitão reformado Jair Bolsonaro no poder.

Nesse período, em 2021, o então ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto, emitiu a seguinte Ordem do Dia, enaltecendo o ocorrido e associando o golpe à “garantia de liberdades democráticas”.

“As Forças Armadas acabaram assumindo (em março de 1964) a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, disse a Ordem do Dia de Braga Netto.

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Agora, quatro anos depois, o destino tornou o mesmo Braga Netto acusado de ser um dos ideólogos de um golpe de Estado e que, por essa razão, está há três meses preso. Nesta terça-feira, ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro, outros três generais (Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier) deverão se tornar réus pelas acusações de cometerem crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Estão nessa lista ainda, de serem julgados na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), na terça, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro,  o ex-ministro Anderson Torres (Justiça), e o deputado federal Delegado Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

A tendência bastante forte é que todos os sete se tornem réus e respondam criminalmente por essas acusações. Pela primeira vez no país, desde a ditadura, além de um general preso, o Brasil terá um ex-presidente da República e oficiais da cúpula de seu governo no banco de réus por tentarem implantar uma ditadura no país e impedir a posse do presidente legitimamente eleito.

“Órdi é órdi”, disse Augusto Heleno e 31 de março de silêncio

O 31 de Março deste ano será de silêncio. A atuação desses militares envergonham a caserna e deixou manchas e seques na imagem das Forças Armadas. Com José Múcio à frente do Ministério da Defesa, a data tem sido ignorada, e assim deverá ser daqui a alguns dias.

Uma história: no 31 de março de 2011, o general Augusto Heleno se preparava para dar uma palestra, algo que fazia costumeiramente sobre o golpe com o seguinte título: “A contrarrevolução que salvou o Brasil”. Com essa denominação, sempre usada pelos militares cultuadores da data. Mas a então presidente Dilma Rousseff o proibiu, ordem que foi repassada a Heleno pelo então comandante do Exército, Enzo Peri.

Heleno reagiu assim à proibição de Dilma, perguntado por um repórter:

” Sempre fiz (discurso nesta data). E nunca houve isso (proibição). Órdi é órdi (ordem é ordem)”, com certa ironia.

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