Na sexta-feira (28), presidente ucraniano se encontrou com seus aliados americanos para assinar um acordo, mas reunião não saiu como esperado
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu vice, JD Vance, na Casa Branca, na sexta-feira (28), com objetivo de assinar o acordo que concede aos EUA acesso às reservas minerais ucranianas em troca de apoio e garantia de segurança durante a guerra com a Rússia. Mas, a situação desandou completamente após aproximadamente meia hora de conversa.
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A discussão começou após um jornalista da Polônia que acompanhava o encontro perguntar a Trump que mensagem ele gostaria de enviar aos poloneses que estão preocupados com a possibilidade de os EUA estarem mais alinhados à Rússia do que à Ucrânia.
O republicano afirmou que se aproximou de ambos os países em conflito para que pudesse chegar a um acordo para encerrar a guerra.
“Se eu não me alinhasse com ambos [Ucrânia e Rússia], nós nunca teríamos um acordo. Você quer que eu diga coisas realmente ruins sobre [Vladimir] Putin e que depois diga: ‘Oi, Vladimir. Como vamos com o acordo?’. Não funciona assim”, afirmou Trump. “Eu não me alinhei a Putin, eu não me alinhei com ninguém, eu estou alinhado com os Estados Unidos da América para o bem do mundo.”
Vance concordou com o presidente norte-americano, defendendo que a diplomacia seria o caminho para a paz, pois os EUA já haviam tentado enfrentar a situação de forma combativa no governo anterior, com Joe Biden atacando o presidente russo, e isso não trouxe nenhum resultado.
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O posicionamento dos aliados incomodou Zelensky, que aproveitou o momento para relembrar que Putin tomou a Crimeia da Ucrânia e a anexou ilegalmente ao território russo em 2014. Segundo o presidente ucraniano, nenhum presidente americano tentou deter Putin desde então.
“De 2014 a 2022, a situação permaneceu a mesma […]. Ninguém parou ele”, reforçou Zelensky quando Trump respondeu que não era presidente em 2014. “Em 2019, eu assinei com ele [Putin] o acordo. Eu assinei com ele, Macron e Merkel o cessar-fogo […], mas depois disso ele quebrou o cessar-fogo e matou nosso povo. […] De que tipo de diplomacia, JD, você está falando? O que você quer dizer?”
“Eu estou falando do tipo de diplomacia que vai para a destruição do seu país”, respondeu Vance. “[…] Eu acho que é desrespeitoso que você venha ao Salão Oval e tente contrariar isso na frente da mídia norte-americana”.
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Após esse primeiro desentendimento entre o presidente ucraniano e o vice-presidente dos EUA, a tensão entre os líderes apenas aumentou quando Vance acusou a Ucrânia de enfrentar dificuldades para conseguir novos soldados.
“Durante a guerra, todo mundo tem problemas, até vocês. Mas vocês tem um oceano bonito [entre vocês e o conflito] e não sente [os problemas] agora, mas vão sentir no futuro”, respondeu Zelensky.
A fala do presidente ucraniano irritou Trump, que decidiu se envolver na discussão e alertar o aliado para não dizer como os Estados Unidos irão se sentir. “Você não está em posição de ditar isso”, afirmou o republicano.
“Você não está em uma boa posição, você não tem as cartas. Mas, com nós [ao seu lado] você começou a ter as cartas agora”, continuou Trump. “Você está apostando com a vida de milhões de pessoas, você está apostando com a Terceira Guerra Mundial. E o que você está fazendo é muito desrespeitoso com esse país [Estados Unidos]”.
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Antes que Zelensky pudesse responder, Vance se manifestou novamente, questionando o presidente ucraniano se, em algum momento daquele encontro, ele havia agradecido pelo apoio dos Estados Unidos na guerra. O vice-presidente dos EUA também acusou o aliado de apoiar Kamala Harris durante a campanha eleitoral em outubro de 2024, se referindo a uma visita que Zelenky fez a uma fábrica de munições na Pensilvânia, estado natal de Biden.
Ao tentar se defender, o líder ucraniano foi interrompido por Trump, que saiu em defesa de seu vice. Zelensky perguntou, então, se o aliado poderia aguardar um momento para que ele pudesse falar, mas o pedido foi negado.
“Não, você já falou demais. Seu país está em apuros. Você não está ganhando. Você tem uma chance muito boa de sair de forma ‘OK’ [dessa guerra] por nossa causa. […] Nós te demos, por meio desse presidente estúpido [Joe Biden], U$ 350 bilhões (aproximadamente R$ 20,5 bilhões), nós te demos equipamento militar […], se você não tivesse nosso equipamento militar essa guerra teria terminado em duas semanas.”
“[Teria terminado em] três dias”, respondeu Zelensky. “Eu ouvi isso do Putin”.
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Trump, então, se voltou para os jornalistas e afirmou que seria muito difícil fazer negócios daquela forma e que certas atitudes precisam mudar. Novamente, Zelensky tentou argumentar, mas foi interrompido.
“Escuta, você está ficando sem soldados, seria uma coisa muito boa [assinar um cessar-fogo], mas você vem e nos diz: ‘Eu não quero um cessar-fogo, eu não quero um cessar-fogo’.”, disse o republicano, imitando Zelensky. “Se você conseguir um cessar-fogo agora mesmo, eu te aconselho a aceitar para que as balas parem de voar e seus homens parem de ser mortos.”
Outra jornalista que acompanhava o encontro aproveitou um breve momento de trégua para perguntar o que seria feito caso a Rússia descumprisse o cessar-fogo. Com a voz alterada, Trump respondeu que isso não aconteceria porque Putin o respeita. “Ele quebram [o cessar-fogo] com Biden porque não o respeitavam, eles não respeitavam [Barack] Obama. Eles me respeitam”, afirmou.
Durante os últimos momentos do encontro, o presidente dos EUA deu um ultimato ao aliado: “O seu povo é muito corajoso, mas ou você faz um acordo ou nós estamos fora, e, se nós estivermos fora, você vai lutar”.
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Por fim, a assinatura do acordo referente às reservas minerais da Ucrânia, motivo original do encontro, foi adiada. Segundo a BBC, uma entrevista coletiva que deveria acontecer no mesmo dia foi cancelada e Zelensky foi orientado a deixar a Casa Branca mais cedo.
Pouco antes do líder ucraniano deixar o local, Trump publicou em suas redes sociais: “Volte quanto estiver pronto para a paz”.