Escola do Grupo Especial do Rio se apresentou no primeiro dia de desfiles com o tema “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”
Para compor um bom samba enredo, a melodia precisa conversar com o tema, afirmou o compositor da Mangueira Paulo Soares Ramos, mais conhecido como Paulinho Bandolim, durante um MyNews Entrevista especial com os jornalistas Mara Luquet e Chico Otávio. Segundo ele, os compositores responsáveis pelo samba enredo se reúnem para explorar as possibilidades de transformar o texto em música somente depois de ler o enredo escolhido pela escola e refletir sobre a explanação do carnavalesco.
“Na primeira reunião a gente não costuma começar a fazer o samba, a gente reflete muito sobre o próprio enredo e as possibilidades que esse enredo apresenta, as possibilidades de tornar isso uma música porque a melodia precisa conversar com o tema”, explicou Paulinho. “Se você tem um enredo mais denso, a melodia tem que trazer essa densidade. Se vocês vem um enredo mais alegre, mais festivo, a melodia tem que trazer essa alegria.”
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Conforme explicado pelo compositor, o samba enredo desse ano, além sustentar a disputa do samba, precisava explicar o tema escolhido pela escola e aproximar o público da narrativa.
A Estação Primeira de Mangueira se apresentou no 1º dia do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro, na madrugada entre os dias 2 e 3 de março, com o tema “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”. O desfile foi desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França.
De acordo com a escola, o tema escolhido tinha como objetivo levar “para a avenida um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro”, contando a história de como este agrupamento linguístico do continente africano, que representa a maioria dos negros que chegaram ao país pelo Cais do Valongo de forma forçada, se estabeleceu e influenciou a cultura e a vivência na cidade, “apesar de tantas tentativas de apagamento da sua contribuição à negritude do Rio de Janeiro”.
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Para Paulinho, a escolha desse tema representa uma importante reflexão e revisitação da história da capital carioca. Em especial porque, devido às tentativas de apagamento desse grupo, a sociedade não se reconhece como descendente dos bantus.
“Tanto que, hoje, quase ninguém sabe o que é bantu, quais são as contribuições bantu para a cidade. Quando se pensa na contribuição africana, se pensa muito na contribuição iorubá, só que o Rio de Janeiro é muito bantu”, explicou ele.