Enquanto o STF discute a responsabilização das redes sociais, o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, reage com alertas sobre censura
Enquanto o STF discute se plataformas devem ser responsabilizadas por conteúdos postados por usuários sem decisão judicial, o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, reage com alertas sobre censura e engessamento. Mas esse debate é bem maior. O que está em jogo é a soberania digital do Brasil e quem de fato controla o ambiente onde se formam opiniões, se organizam movimentos e se decidem eleições.
Somos uma das maiores potências digitais do mundo: são 187,9 milhões de brasileiros conectados, representando 86,6% da população. Alimentamos um ecossistema que movimenta dezenas de bilhões de reais por ano em publicidade, dados e influência. É por isso que todas as big techs disputam nosso mercado, tentando operar sem restrições. O brasileiro virou ativo valioso e, até agora, sem proteção adequada.
A verdade é dura: quem governa o espaço digital brasileiro hoje são os algoritmos, programados fora do país, com interesses comerciais e geopolíticos claros. E não há lei brasileira que os alcance de fato.
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Trabalho com internet desde 1998. Vi a web nascer livre, baseada em fóruns, comunidades e trocas horizontais. Hoje, vivemos em plataformas opacas, onde a inteligência artificial decide o que você vê, sente e consome sem nenhum controle democrático sobre esses códigos.
Não existe neutralidade algorítmica. Existe prioridade algorítmica. E quem programa decide o que viraliza.
Regulamentar a internet não é censura. É aplicar o mesmo princípio que já usamos para alimentos, remédios, energia, bancos e veículos de comunicação. Tudo é regulado menos o que mais molda a vida pública contemporânea: o digital.
As plataformas não são neutras. São empresas que lucram com o vício da atenção, com a radicalização, com o caos. Por trás dos discursos em defesa da liberdade de expressão, existe um modelo bilionário que monetiza dados que nunca autorizamos vender.
Estamos há mais de 10 anos numa revolução invisível. Nos últimos 5, ela se tornou explosiva. O resultado é uma sociedade hiperconectada, emocionalmente instável e politicamente manipulável.
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Claro que a judicialização excessiva traz riscos. Mas ignorar um mercado descontrolado que lucra com desinformação, ódio e manipulação é ainda mais perigoso. Fingir que está tudo bem é entregar nossa democracia aos interesses de fora.
Minha posição é clara: é hora de uma regulação técnica, transparente e profissional das mídias digitais. Com inteligência, sem amarras ideológicas, mas com responsabilidade pública. O Brasil não pode continuar sendo um laboratório de algoritmos estrangeiros.
Essa não é uma pauta de esquerda ou de direita. É uma pauta de soberania. De civilização. De futuro.
Por Alek Maracajá | Professor, Pesquisador, Especialista em Big Data e Estratégia Digital
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