Retomar o território no Rio de Janeiro, e depois? Só a polícia não resolve Foto: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Retomar o território no Rio de Janeiro, e depois? Só a polícia não resolve

Estado repete ações do início dos anos 2000 em acreditar somente que a forma policial resolverá os problemas da população

No Rio de Janeiro, há 15 ou 20 anos, surgiram as chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). A ideia era conter o avanço do tráfico nas comunidades, principalmente na Zona Norte. Num cenário que se preparava para receber a Copa do Mundo e depois as Olimpíadas, entre 2014 e 2016, o governo queria mostrar força e segurança para a própria população. No fim desses eventos, tudo voltou a ser como antes ou pior.

Hoje, o governo fala em uma espécie de segunda retomada dos territórios, mas com foco diferente. Se antes a atenção estava na Zona Norte, em áreas como o Complexo do Alemão, Penha e Jacarezinho, agora o alvo é a chamada Zona Sudoeste, recém-nomeada pela Prefeitura, que abriga comunidades como Cidade de Deus, Gardênia Azul, Rio das Pedras, Muzema, entre outras. As ideias se repetem, mas por que o resultado seria diferente?

Com o avanço do Comando Vermelho em áreas historicamente dominadas pela milícia, o poder público se viu pressionado a reagir. Quer mostrar resposta à população e reduzir o atrito entre as facções. A solução? Retomar o território com violência, mesmo com o risco de matar inocentes. Basta observar: para comandantes da PM, deputados e governadores, o caminho ainda é resolver tudo “no tiro” ou maquiar o problema. Isso naquela época.

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Em 2010, pouco foi perguntado aos moradores o que eles queriam. A chamada Zona Sudoeste sofre há anos com a falta de infraestrutura, educação, moradia e serviços públicos o básico. Mudar a facção dominante não é o principal problema dessas pessoas. Ter a polícia presente também não é a única solução. O Estado erra ao acreditar que esses moradores precisam somente de vigilância.

Somente polícia não resolve

No entanto, agora pode ser diferente. Segundo o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, em entrevista à CBN, o novo modelo de combate à criminalidade prevê que os poderes estadual e municipal atuem em conjunto. Além disso, a proposta é oferecer à população não apenas segurança, mas também serviços básicos. Uma pesquisa mostra que as principais preocupações estão relacionadas a moradia, saneamento básico, transporte e locomoção, especialmente para o trabalho.

Entre os políticos, se antes prefeitos e vereadores evitavam falar sobre segurança pública, hoje alguns são eleitos com esse tema. O município, inclusive, terá uma espécie de “Bope” na Guarda Municipal, mais uma nova ideia de polícia que não resolve os problemas. Enquanto isso, Eduardo Paes e seu secretário de Educação são vaiados pela ausência de ideias e projetos voltados aos professores. É a prova mais atual que nem sempre mais força bruta resolve as questões.

Por fim, lembro uma frase de um comunicador que veio da favela e era mais ou menos assim: “A gente pede educação e recebe polícia. Pede infraestrutura e recebe polícia. E só isso não resolve.”

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