Coluna do Aquiles Reis no MyNews
Hoje trataremos do álbum Jazz Dixieland com Sotaque Tupiniquim, da Banda Cucamonga, um sexteto instrumental e vocal que buscou nas ruas o mote para sacudir quem os ouve.
Sem rebuscamentos harmônicos ou melódicos, mas com talento de sobra e tocando com garra contagiante, a banda cria o que a intuição lhes aponta. O resultado é pura empatia. Escutá-los é ter no rosto um sorriso que nada tirará, pois estará ali como que gravado para sempre.
Autores das dez faixas e das faixas bônus do álbum, a Cucamonga percorre um cortejo musical fantástico e estético pelas ruas imaginárias de um French Quarter, entrando pelos becos de comunidades ribeirinhas brasileiras, seguindo em meio a ruas de terra batida do sertão nordestino, dando a volta em torno de praças arborizadas cariocas e por avenidas com arranha-céus espetados nas calçadas paulistanas.
Trazendo um arranjo entusiasmante, a abertura do CD com “Corjaas” é um fervo! A letra de João Gomes de Sá, cantada e tocada a pleno pulmões pelos músicos, convoca o povo à festança da banda:“Pindorama, Kariri/ Tupiniquim, Pankaruru/ Guarani, Caboclinhos/ (…) Com licença/ sou o Jazz Tupiniquim/ na sua aldeia/ Salve, salve a Dona da Casa/ Essa Luz que me alumeia/ Terra à vista, chegança/ Viva a Nau Catarineta”. A sonoridade da Cucamonga tem o sabor da felicidade de quando se recebe uma notícia boa ou um beijo apaixonado.
Resta ir atrás e se divertir com sua pegada circense. Plena de soluções musicais ricas e inusitadas, onde não faltam dixieland, maracatu, frevo, bumba-meu-boi, reisado, ciranda, xote, baião e martelo agalopado, a formação instrumental é o há que de melhor para ser apreciada por ouvidos ávidos por novidades.
Pleno de improvisos e arranjos fecundos, o repertório vem pelos instrumentistas Mesaac Brito (trompete), Marcos Lúcio (clarinete), Fernando Thomé (banjo), José Renato (tuba e souzafone) e Ricardo Reis (washboard – a clássica tábua de lavar que virou percussão), mais as vozes da Banda Cucamonga.
Ao ouvi-los, transvejam (apud Manoel de Barros) a profundeza do corso musical que açula as ruas e as criações rítmicas e culturais do Brasil. Depois da audição, confessem se lhes deu vontade de segui-lo rumo à fantasia de que a música há de nos redimir e mudar a vida de toda a gente.
Mas, se não for exatamente assim, que pelo menos a música contribua para fazer do mundo um bom lugar para criar os filhos e torná-los cidadãos. Tudo para que, dentro do possível, tenhamos confiança que a música que temos em nós se tornará companheira de sonhos (im)possíveis.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ficha técnica: Gravação, mixagem e masterização: Adonias Souza Jr.; produção musical, composição, arranjos e direção artística: Banda Cucamonga; coordenação de produção e letras: João Gomes de Sá e Banda Cucamonga; design da capa: Raro de Oliveira; fotografia: José de Holanda.
Ouça o álbum:
https://open.spotify.com/album/2YTKSK3lMmGLiKaboz7F67?si=eDQ-RAv8SQKxXrFpUKR9vQ