Outras Vozes

CINCO PRINCIPAIS AÇÕES

Brasil avançou apenas 20% em produtividade nas últimas décadas. Como mudar isso?

Nos anos 1980, um trabalhador brasileiro produzia quase a metade de um americano (46%); hoje, produz cerca de um quarto (25,6%)

por João Amoêdo em 08/10/24 11:07

Investimento na educação básica é uma das principais ações para aumentar a produtividade | Foto: Pixabay

Nos últimos 40 anos, a produtividade brasileira avançou apenas 20%. No mesmo período, a americana evoluiu 65%*. Nos anos 1980, um trabalhador brasileiro produzia quase a metade de um americano (46%). Hoje, produz cerca de um quarto (25,6%). Essa situação deveria motivar reformas estruturais urgentes por parte do nosso Legislativo e do Executivo. Mas, afinal, o que é produtividade e por que ela é tão importante para o desenvolvimento de uma nação?

Quando um trabalhador transforma um pedaço de pano em uma camisa, ele produz riqueza. Se um país — pelas habilidades de seus cidadãos, pelo treinamento recebido por eles, pelos fluxos de trabalho adotados, pela utilização de máquinas mais modernas e de novas tecnologias — é capaz de realizar o processo em menos tempo do que antes — nesse exemplo, a confecção de camisas —, essa nação será mais produtiva, mais competitiva e terá uma maior geração de riqueza.

A produtividade representa a eficiência com que os recursos — humanos, financeiros, tecnológicos e naturais — são utilizados para entregar bens e serviços. A consequência é, ao mesmo tempo, aumento de salários, incremento do lucro e diminuição de preços. O resultado é claro: desenvolvimento do país e melhoria da qualidade de vida da população. De forma resumida, podemos dizer que a produtividade é a velocidade com a qual se cria riqueza.

Leia mais: Privatizar é preciso

Em um país como o Brasil, onde mais de 20 milhões de famílias dependem do Bolsa Família, a geração de riqueza é a única forma de eliminarmos ou, ao menos, reduzirmos a pobreza de forma sustentável. Se a produtividade brasileira fosse igual à americana, nosso PIB per capita seria o dobro.

Esse cenário de baixa produtividade é ainda mais preocupante com o fim do bônus demográfico. Nos últimos 20 anos, cerca de 77% da evolução do PIB brasileiro foi decorrente do crescimento da população empregada, enquanto o incremento da produtividade contribuiu com apenas 22%. Com o envelhecimento da população, a queda da taxa de natalidade e, consequentemente, a redução da força de trabalho disponível, é imprescindível aumentar a produtividade para que o Brasil continue a crescer.

Os exemplos ao redor do mundo e no Brasil deixam claras as ações que devemos perseguir:

  • Investimento em capital humano

Educação básica de qualidade, desde a creche, é um dos investimentos com melhor custo-benefício para uma nação, fato comprovado por estudos que renderam o Nobel de Economia a James Heckman. Segundo ele, crianças que, na primeira infância, tiveram suas habilidades socioemocionais desenvolvidas têm 44% mais chances de concluir o Ensino Médio, essencial para aumentar a qualificação. Essa é, portanto, uma área que deveria receber mais atenção e recursos.

Outra medida importante é a expansão do acesso ao ensino técnico, garantindo mais oportunidades para os brasileiros. A formação técnica e profissionalizante prepara para as demandas específicas do mercado de trabalho. Profissionais que completaram a educação técnica têm salários, em média, 32% maiores do que os de quem se formou apenas no Ensino Médio. ***

Países que priorizaram a educação, como a Coreia do Sul e a Finlândia, alcançaram saltos significativos em produtividade e desenvolvimento.

  • Abertura da economia

Em uma economia cada vez mais integrada, a especialização, o acesso a novas tecnologias e a participação em cadeias globais são determinantes para o incremento da produtividade.

A competição internacional força as empresas a aprimorarem seus produtos e processos, para produzirem de forma mais eficaz e com maior qualidade.

Eliminar as inúmeras barreiras protecionistas, hoje adotadas pelo nosso país, é condição necessária para melhorarmos a produtividade.

O agronegócio é um ótimo exemplo do que ocorre quando um setor é exposto à concorrência internacional: ele é forçado a aumentar sua competitividade, gerando mais investimento, emprego, renda e desenvolvimento. A adoção de tecnologias avançadas e práticas sustentáveis transformou o agronegócio brasileiro em um dos mais eficientes do mundo.

  • Segurança

A segurança é outro pilar indispensável para a atração de investimentos e de capital humano. Um ambiente legal estável e previsível atrai investimentos e permite que empresas planejem a longo prazo. O prêmio de risco exigido pelo investidor é inversamente proporcional à segurança jurídica existente.

Uma das áreas que mais sofrem com as incertezas atuais é a infraestrutura do país. Os investimentos em transportes e energia, fundamentais para uma produção eficaz e competitiva, demandam previsibilidade e recursos de longo prazo.

Ao mesmo tempo, um país seguro, com baixos índices de criminalidade e com um ambiente pró-negócios, atrai quadros qualificados de outros países.

  • Ambiente empreendedor

A desburocratização, as reformas estruturais, como a Tributária e a Trabalhista, além dos marcos regulatórios, como o de saneamento, são essenciais para simplificar processos, reduzir custos e eliminar barreiras ao empreendedorismo. Todas essas áreas devem ser constantemente aprimoradas pelos legisladores, tendo como premissas, o uso intensivo de tecnologia, a simplificação das regras estabelecidas e a liberdade de entes privados firmarem os contratos que julgarem adequados.

  • Responsabilidade fiscal (ou contas públicas equilibradas)

O equilíbrio das contas públicas permite a redução das taxas de juros e, consequentemente, o custo dos investimentos. Juros mais baixos estimulam as empresas a se modernizarem, impulsionando a produtividade.

A citação da Moody’s esta semana ao promover o aumento, ainda questionável, do rating brasileiro reflete exatamente isso: “Além de estabilizar a relação dívida/PIB, um balanço fiscal mais robusto contribuirá para a redução das taxas de juros e a melhoria das condições de crédito, criando um ambiente favorável à expansão dos investimentos.”

  • Fim de privilégios setoriais

Outro entrave para o aumento da produtividade no Brasil são os privilégios dados a determinadas empresas. O Estado utiliza isenções tributárias, barreiras alfandegárias e crédito subsidiado – por intermédio do BNDES e de outros bancos estatais – para esses objetivos.

Essa situação transmite, para quem empreende, a mensagem de que é mais produtivo trabalhar por um benefício do governo do que buscar a melhoria de processos ou a inovação tecnológica. Exatamente o contrário do que precisamos.

Ou seja, há muito a ser feito. Se almejamos ser uma nação próspera, onde todos os brasileiros tenham uma vida digna, a agenda da produtividade precisa ser uma prioridade.

Devem fazer parte desse roteiro: um ambiente social com capital humano qualificado, o fim de privilégios para que as empresas passem a competir adequadamente, a integração com as cadeias globais produtivas, regras claras e simples que sejam cumpridas, um ambiente de negócios que facilite o empreendedorismo e um governo que trate com seriedade a responsabilidade fiscal.

Este foi o caminho dos países que deram certo.

* Observatório da Produtividade Regis Bonelli (IBRE – FGV)

** Banco Mundial

*** Impacto da educação técnica sobre a empregabilidade e a remuneração (2023)

últimos vídeos

Inscreva-se no Canal MyNews

Vire membro do site MyNews

Comentários ( 0 )

Comentar

MyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.

Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74

Entre no grupo e fique por dentro das noticias!

Grupo do WhatsApp

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.

ACEITAR